Cena do crime

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13 dias depois.

Rafaela sentia o vento frio bater no seu rosto à medida que aumentava a velocidade da sua pedalada. Quando pegou a bicicleta e saiu de casa há alguns minutos atrás, não tinha ideia de para onde estava indo mas começava a perceber que seus pés a estavam levando automaticamente até a casa de Marina.

A garota achava que estava ficando louca, nada disso estava ficando mais suportável e já faria duas semanas desde que tudo acontecera. Parecia que sua vida tinha parado no tempo e tudo agora se resumia à Luana e sua morte, a saudade era tão esmagadora que tornava difícil até respirar. Mas nada conseguia ser pior do que ir à escola...

Nada se comparava a ter que fingir não perceber os olhares de pena que os professores e o diretor lançavam a ela e Marina, a ter que ignorar o fato das risadas e conversas dos seus colegas morrerem toda vez que elas passavam por eles, até mesmo o fato de não serem mais provocadas pelos jogadores de basquete e as líderes de torcida incomodava a garota. Na sua cabeça, não havia sentimento pior do que pena e faria qualquer coisa para que as pessoas mostrassem outra reação que não fosse essa.

Rafaela avistou a casa da amiga e parou a alguns metros de distância, encarou a porta da frente se sentindo vazia. "Quase duas semanas e não tivemos ainda nenhuma resposta", pensou, "nenhum suspeito, ninguém detido para interrogatório, nada...". Isso era torturante.

Caminhou lentamente até a casa empurrando a bicicleta e deu três batidinhas na porta, esperou sentada no meio-fio até alguém sair. Não demorou muito para que Marina sentasse ao seu lado.

-Está tudo bem com você? – a loira perguntou a encarando.

-Sim.

-Por que não me avisou que vinha pra cá?

-Eu queria pedalar um pouco, ficar sozinha... – Rafa mentiu, não fazia ideia de por que estava ali.

-Quer entrar? – a loira ofereceu.

-Na verdade... – Rafaela pensou por um instante, talvez fosse pedir demais o que iria sugerir, talvez não estivessem prontas –Eu queria passar por lá.

A garota soube pelo olhar de Marina que ela entendera o que queria dizer, ela sabia onde era "lá".

-Tem certeza?

-Absoluta – Rafa confirmou –Preciso ver, Marina, não vou conseguir pensar em mais nada enquanto não for lá. Mas posso ir sozinha se você não quiser, não precisa fazer isso por minha causa...

-Você está louca? – a loira levantou e limpou a sujeira da parte de trás de seus shorts –Estamos juntas nisso tudo, você sabe.

***

Rafa pedalava na frente, Marina a seguia não muito atrás. As bicicletas que usavam eram as mesmas que Luana tinha arrumado pra elas naquela escapada que deram uma vez, a garota só se lembrou disso agora mas sacudiu a cabeça para afastar os pensamentos.

Já começava a anoitecer, Rafa sabia que talvez não devessem estar fazendo isso. Quer dizer, com um maníaco solto por aí, o mais seguro seria se não fossem justamente para o lugar onde um assassinato foi cometido mas ela precisava ver, poderia ser o único jeito de conseguir paz, pelo menos por um instante. Mas não fazia ideia de onde ocorrera, esperava que pudesse reconhecer o lugar como se algum sinal magicamente indicasse para elas a cena do crime. A garota suspirou, só agora percebera como estava sendo estúpida.

-Rafa, ali! – Marina gritou às suas costas, a garota olhou para frente e viu...

Não era como esperava. Parou a bicicleta na beira da rua e olhou para o espaço onde as árvores começavam a se fechar e esconder o que quer que pudesse estar lá dentro. Não parecia ter ocorrido um assassinato ali, o único indicativo era a fita amarela toda rasgada no chão que deveria ter sido usada pra isolar o local.

Uma dose violenta de qualquer coisaOnde histórias criam vida. Descubra agora