Invasoras

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24 dias antes.

Luana tamborilava a caneta na mesa em um ritmo constante, parecia mais concentrada na batida do que na aula de Sociologia que acontecia. Eli e Marina sussurravam no canto da sala procurando serem o mais discretos possível mas vez ou outra uma risada escapava e chamava atenção de alguém que estava perto. Rafa apenas se limitava a encarar o céu lá fora pela janela, era um dia cinzento e ela sentia que combinava com seu humor. Chuvas fortes tomaram conta do sul do país nos últimos dias e a previsão do tempo dava a ideia de que isso duraria mais alguns dias, talvez mais uma semana.

Rafaela não se importava, podia acontecer um dilúvio de proporções apocalípticas que ela ficaria parada olhando.

***

-Você está incrivelmente calada nos últimos dias, sinto até falta de seu sotaque caipira... – Luana comentou com um meio sorriso enquanto almoçavam, não havia nenhum sinal de Eli e Marina. A loira, apesar de sorrir e tentar fazer graça, estava realmente preocupada com a amiga, só queria que ela desse um sorriso ou falasse que estava tudo bem. Apenas isso.

Rafaela espalhou o arroz no prato, era como se não tivesse escutado a amiga.

-Estou falando com você, fofa – Luana alfinetou mas a preocupação só aumentava dentro dela, o que havia de errado?

-Ah, desculpa – a garota finalmente pareceu tomar consciência da voz da loira –Eu não quis te ignorar, eu só estou... Com muita coisa na cabeça. Todos esses trabalhos, provas, o vestibular chegando... E temos que começar a ver as coisas de São Paulo se realmente quisermos ir pra lá, eu ouvi falar que...

-Rafaela – Luana a interrompeu –Você pode enganar qualquer uma menos eu, sabe que sou à prova de merdas...

-Você é a definição viva de merda – Rafa devolveu com um sorriso mas não convenceu a loira, ainda havia tristeza em seus olhos e outra coisa que Luana não soube identificar, ela nunca fora boa em interpretar os sentimentos dos outros, mal conseguia interpretar os seus.

-Vou encarar isso como um elogio, já que merda serve pra adubar a vida! – ela retrucou entre garfadas –Mas, já que você não quer confessar o que tanto incomoda seu coraçãozinho, tenho uma proposta pra você!

Rafa ficou curiosa e se inclinou para frente, o barulho no refeitório era ensurdecedor e a garota não queria perder uma palavra do que a amiga ia falar. Luana sorriu consigo mesma, conseguira definitivamente captar sua atenção.

-Fico com muito medo quando você faz essa cara... – Rafa confessou olhando a expressão que tomara conta da fisionomia da outra garota.

-Não fique com medo – a loira a tranquilizou e se aproximou também, continuou em um sussurro –Tem algo que pode te alegrar: uma última pegadinha. É a última antes da minha pegadinha final e você tem que me ajudar. Eu, você e Marina, como sempre.

Rafa encarou seus olhos cinzentos, a loira parecia animada de verdade mas também havia uma ponta de preocupação naqueles olhos indecifráveis. Rafaela sorriu e balançou a cabeça concordando.

-Eu não vou perder isso por nada...

Luana se inclinou para trás e voltou a comer seu almoço parecendo obviamente satisfeita.

***

Marina e Eli observavam os alunos correndo na pista de atletismo mesmo que estes não pudessem os ver. E ambos agradeciam mentalmente por isso.

Estavam debaixo das arquibancadas de metal, longe dos olhares curiosos de qualquer pessoa. Longe das fofocas das líderes de torcida, longe dos atletas, longe principalmente de Guilherme...

Uma dose violenta de qualquer coisaOnde histórias criam vida. Descubra agora