Você vai ficar bem?

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104 dias antes.

Rafaela demorou alguns segundos para conseguir abrir os olhos, a cabeça doía como se tivesse sido jogada contra uma parede de tijolos. Quando enfim conseguiu ignorar a dor e seus olhos se acostumaram com a claridade, percebeu que estava no quarto de Marina e não havia sinal de nenhuma das amigas. A garota se levantou e desceu as escadas relutante, conseguia ouvir barulhos na cozinha mas tinha medo que fosse o pai da amiga e ela não gostaria de ser obrigada a fingir que não estava morrendo de ressaca. Sentiu um alívio quando viu a loira de cabelos lisos tomando café.

-Ei... – Rafa disse chamando a atenção da amiga, pareciam estar sozinhas na casa.

-Oi – Marina respondeu com um olhar distante.

Rafa se sentou sem saber o que falar, não lembrava muita coisa da noite passada mas parecia que algo havia acontecido. Não sabia se era muito ruim...

-Você não lembra de nada, não é? – a loira perguntou, Rafa apenas balançou a cabeça concordando –Pois é, ontem foi uma confusão...

-O que houve? – a garota perguntou baixinho.

Marina continuou tomando seu café em silêncio por alguns minutos até continuar:

-Recebi uma ligação ontem, enquanto estávamos naquele lugar. Minha mãe teve algum tipo de colapso mental e meu pai queria que eu estivesse com eles no hospital, claro que eu disse que ia na hora. Mas Luana disse que não, que era nossa noite, que tínhamos que continuar e começou a falar um monte de coisa sem sentido e eu fiquei com raiva, muita raiva. Estávamos bêbadas, Luana muito mais do que eu, e começamos a brigar feio então você começou a passar mal e vomitar, Luana simplesmente sumiu depois que eu fui te ajudar. Eli me levou até o hospital e me ajudou a parecer sóbria o suficiente, falei com meu pai e disse que você estava passando mal então ele disse para nós ficarmos aqui. Eli nos deixou e foi embora depois, até agora não tive nenhuma notícia da Luana...

Um arrepio pareceu subir pela espinha de Rafaela, odiava quando a amiga desaparecia e ela fazia isso mais do que era saudável. Tanto Rafa quanto Marina ficavam extremamente preocupadas quando isso acontecia apesar de nada muito grave já ter acontecido. Mas sempre havia essa sensação de que um desastre aconteceria um dia com uma das três e elas não conseguiriam evitar...

-Uau – a castanha disse baixinho –Sinto muito por ter feito você se preocupar comigo enquanto sua mãe estava mal...

-Tudo bem – a loira sorriu entre os goles de café que tomava mas Rafa pôde perceber a tristeza que esse sorriso carregava –Não é como se você fizesse de propósito...

-Luana também não faz... – ela comentou.

-Ah, claro – Marina riu ironicamente –Ela não faz nada de errado, é só o universo sendo sarcasticamente malvado com ela e a obrigando a fazer coisas.

-Pode ser – Rafa disse com um pouco de raiva na voz e chamou a atenção de Marina –Quem sabe o que acontece com ela quando não estamos por perto? Quem sabe o que se passa na cabeça dela? Ela foi abandonada tantas vezes, ficou sozinha por tanto tempo, quem sabe isso não tenha a mudado de tal jeito que ela nem consegue se lembrar de como é ser uma pessoa de verdade?

Marina ficou calada assimilando o que amiga disse e sentiu-se extremamente culpada por ter dito aquelas palavras duras. Às vezes ela tinha medo de ser exigente demais com Luana mas tudo que fazia era pra tentar protege-la, isso é o mínimo que uma amiga de verdade deveria fazer.

-Sinto muito, Rafa – ela baixou os olhos envergonhada e ficou encarando a mesa –Não quis dizer isso, é a raiva falando. Sabe que ela é como uma irmã pra mim...

Uma dose violenta de qualquer coisaOnde histórias criam vida. Descubra agora