Tributo

2 0 0
                                    

61 dias depois.

Marina caminhava pelos corredores apreensiva, era o último dia de aula.

"Espero que dê tudo certo, que Eli não arrume confusão e não seja pego"

A loira estava procurando Rafaela, já desistira de tentar encontrar o namorado. Ele não respondera suas mensagens e nem atendia suas ligações, provavelmente seria assim até o trote acabar. Era como Luana fazia...

Marina avistou Rafaela parada em frente ao memorial de Luana, a foto e a frase ainda estavam no armário da garota apesar de já terem se passado dois meses desde sua morte. Já não haviam mais flores nem cartões, as pessoas já se acostumaram com a ausência dela. Exceto Rafa e Marina, elas ainda sofriam com tudo que acontecera. Talvez depois de hoje as coisas mudassem...

-Ei, feliz último dia de aula. Pronta pra abandonar tudo e começar uma nova vida em São Paulo? – a loira surpreendeu a amiga por trás, Rafa deu um pulo assustada mas logo sorriu. Marina conseguia ver um pouco de tristeza apesar desse sorriso, sempre ia faltar uma delas.

-Mais do que pronta – a garota respondeu –Feliz último dia pra você também! Conseguiu falar com Eli?

-Não, ele está incomunicável. Assim como Luana ficava... – as duas ficaram em silêncio por um momento –O que está fazendo?

Rafa voltou a olhar a foto, a garota suspirou. Antes que Marina pudesse perguntar novamente o que estava errado, a garota se inclinou e arrancou a foto de Luana do armário da amiga. Dobrou a foto com cuidado e colocou no bolso de trás do jeans.

-Queria que ela estivesse com a gente quando tudo acontecesse. Parece idiota, eu sei, afinal é só uma foto... – a garota respondeu.

-Não – a loira a interrompeu e sorriu –É uma boa ideia, ela gostaria de estar conosco. Pelo menos figurativamente ela vai estar, certo?

-Certo – Rafa sorriu ao ouvir isso.

-Hora de irmos pra sala de aula, o show vai começar – Marina estendeu a mão para a amiga.

Rafaela segurou sua mão e caminhou com ela até a sala.

***

Marina olhava em volta e chegou à conclusão de que todos os alunos naquela sala sentiam o mesmo que ela: tédio. O professor de Química estava dando um discurso clichê sobre escolhas e sobre como todos deveriam ser mais responsáveis daqui pra frente, que a vida nem sempre dá segundas chances para todo mundo e todas aquelas coisas que adultos adoram falar para pessoas mais jovens.

A loira afundou na cadeira, foi um ano intenso. Intenso até demais, tudo que queria era que terminasse logo. Olhou para Rafaela que estava sentada a algumas cadeiras ao lado, a garota riu e articulou com os lábios sem emitir nenhum som:

-Que saco.

Marina balançou a cabeça concordando, Rafa voltou a olhar para o professor. A loira olhou para trás, para a cadeira que costumava ser de Luana mas agora estava vazia.

"Queria que você estivesse aqui, tudo é tão sem graça sem você por perto"

Suspirou e voltou a olhar para frente. O professor não parecia ter chegado nem na metade do discurso quando um chiado nos alto-falantes fez com que ele se calasse e todos olhassem pra cima, o mesmo devia estar acontecendo em todas as outras salas da escola. Os olhares de Rafa e Marina se encontraram, as duas cheias de empolgação e ansiedade.

-Bom dia, meus queridos colegas – a voz de Luana soou acima de todos eles, as pessoas começaram a se olhar sem entender o que acontecia. Por que estavam ouvindo a voz de uma garota morta?

Uma dose violenta de qualquer coisaOnde histórias criam vida. Descubra agora