Lembranças

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160 dias antes.

Era sexta-feira, 19:00. Rafaela despejou o molho branco no macarrão que estava no prato e o levou até o quarto da mãe. Ela deu três batidinhas rápidas na porta antes de entrar.

-Fiz comida pra você... – a garota se aproximou timidamente. Luciana tinha chegado em casa e ido direto para o quarto sem falar com a filha, o que era bastante incomum. Com o passar dos anos, Rafa tinha aprendido que isso era meio que uma espécie de sinal. Era como a mãe falava que perdera um paciente no hospital e estava chateada demais para falar sobre isso. Então, ela faria macarrão com molho branco e as duas conversariam sobre isso à sua maneira.

-Obrigada – Luciana se sentou e começou a comer a comida apressadamente, Rafa apenas ficou em pé na porta.

-Está tudo bem? – a garota estava nervosa.

-Sim, sim – a mãe respondeu –É que hoje foi diferente...

Rafaela apenas esperou que ela continuasse.

-Recebemos uma bebê de 7 meses no hospital, ela tinha sido jogada no lixo e não temos nem sinal da mãe – Luciana contou –Ainda não consigo acreditar que existam pessoas que façam uma coisa dessas...

-Pelo menos existem pessoas para cuidar delas quando isso acontece – Rafa completou com um sorriso tímido, a mãe sorriu de volta e se aproximou dela.

-Você faz 18 esse ano, sabe que podemos ir atrás dela... – Lu envolveu a filha adotiva em um abraço –Não tenho problema nenhum com isso.

-Eu sei – a garota se deixou abraçar –Mas e se não valer a pena? E se a ideia que eu tiver dela for melhor do que a realidade? E se eu imagino que ela me largou porque me amava e queria que eu tivesse uma vida melhor do que ela podia oferecer mas na verdade ela me abandonou porque era uma adolescente grávida com raiva do mundo? Às vezes é melhor deixar algumas coisas no passado.

Luciana concordou com a cabeça sem falar mais nada.

-Além disso, eu já tenho a melhor mãe do mundo e isso vale tudo pra mim! – a garota olhou nos olhos da médica e sorriu.

A campainha tocou naquele exato momento.

-Ah, devem ser as meninas. Vamos fazer uma noite nossa na casa da Marina, tudo bem se eu dormir lá? – Rafa se afastou em direção ao quarto para pegar suas coisas.

-Agora entendi porque você falou todas essas coisas bonitas, era só pra eu te deixar fazer o que você queria, né? – Luciana riu e continuou –Claro que pode.

Rafa riu e foi animada até a porta.

***

-Então, o que querem fazer? – Marina perguntou enquanto elas caminhavam. Luana cantarolava uma música baixinho enquanto Rafaela olhava para os próprios pés. Ela sempre se sentia culpada quando mentia para Luciana, mas elas nunca se envolveram em nenhum problema sério o suficiente para necessitar do resgate dos responsáveis de alguma delas então esse sentimento logo desaparecia.

-Gabriel está dando uma festa hoje, o pessoal da Universidade Federal de Quixote vai estar todinho lá. Quem sabe a gente não arruma alguém pra Rafaela dessa vez? – Luana brincou fazendo a amiga corar.

-Achei que você estava brigada com ele – Rafa comentou.

-E estou – ela riu –Mas nada que uns beijinhos e algumas coisas a mais não resolvam...

-Ok, não acho que seja uma boa ideia – Marina deu sua opinião –Guilherme não se dá muito bem com a turma com que o Gabriel anda e talvez seja melhor a gente não aparecer por lá, vamos evitar confusão.

Uma dose violenta de qualquer coisaOnde histórias criam vida. Descubra agora