Culpa

1 0 0
                                    


3 dias depois.

Marina observava os alunos entrando pela porta principal do colégio, a maioria estava rindo e conversando pelos corredores como se nada tivesse acontecido há apenas alguns dias, como se uma das alunas daquela escola não tivesse sido despedaçada e jogada na beira da estrada.

A loira estremeceu ao pensar nisso. "Esquartejada", pensou, "Nunca uma palavra pareceu tão horrorosa". Se alguém lhe dissesse que as consequências por ter ido embora da festa daquele jeito seriam essas, ela nem teria ido para aquele maldito lugar.

-Ei – Eli se aproximou por trás de Marina devagar, o garoto tinha olheiras debaixo dos olhos mas a loira imaginou que ela deveria ter também –Como você está? Sinto muito não ter ido te ver ontem, fiquei sabendo que te interrogaram e imaginei que talvez quisesse ficar sozinha por um tempo...

-Não precisa se desculpar, Eli – ela se virou para o garoto, algo parecia incomodá-lo e estar preso na sua garganta –Sei que as coisas não estão sendo fáceis pra você também...

-É, eu amava aquela louca – ele respondeu olhando para o chão.

-Eu amava também... – Marina concordou.

-Sabe, eu... – Eli passou a mão pelos cabelos brancos –Eu queria me desculpar pelo que fiz na festa, por ter ido embora que nem um garotinho inseguro, como você disse...

-Eli – Marina o interrompeu –Você não é um garotinho inseguro e eu faria qualquer coisa pra apagar o que eu disse.

-Mas não é só sobre o que você disse – o garoto continuou, seus olhos escuros fixos nos olhos azuis de Marina –Se eu não tivesse ido embora primeiro, talvez nada daquilo tivesse acontecido, talvez Luana não tivesse...

O garoto abaixou o olhar novamente, a loira sentiu toda a dor e culpa que ele sentia em sua voz. Marina odiou isso, Eli não deveria ser responsabilizado, fora ela que começara a discussão, fora ela que fizera tudo dar errado, ela era a responsável pela morte da amiga.

-Eu que comecei com aquilo, você não tem que se desculpar por isso! – a loira sentiu os olhos encherem de lágrimas e sua voz falhar, tocou o braço de Eli gentilmente o que fez com que ele voltasse a olhá-la nos olhos –É culpa minha, não sua...

-Você é uma idiota se acha que eu vou te deixar assumir isso sozinha – ele disse com os olhos marejados também –A gente tinha que proteger ela, Marina. Eu não consigo acreditar em como a gente conseguiu falhar tão feio!

-Eu também não, Eli. Eu... – uma lágrima escorreu pelo rosto de Marina, a loira a secou rapidamente mas outras vieram e logo sentiu toda aquela angústia apertar seu peito novamente –Meu Deus, não fazem nem três dias e eu sinto tanta falta dela...

-Eu também, Nina – o garoto a abraçou e sentiu quando as lágrimas de Marina molharam o tecido de sua camisa, as pessoas em volta começavam a encarar os dois e as risadas no corredor morreram aos poucos –Quer ir embora daqui? A gente pode ir atrás da Rafa, matar aula e ir para o lago.

-Não posso voltar lá, não agora – a loira respondeu –Não consigo voltar lá sem ela e a gente teria que passar pelo lugar onde... Onde encontraram o corpo. Não posso passar por isso agora!

-Tudo bem – ele esfregou as costas de Marina e deu um beijo no topo de sua cabeça –Vamos pra aula então.

Marina secou as lágrimas e caminhou com Eli, abraçou sua cintura enquanto os braços do namorado envolviam seus ombros.

***

Rafaela não conseguira dormir nada na noite passada, passara a madrugada pensando nos últimos dias. Por isso, nesse momento, não conseguia prestar atenção na aula de Religião que estavam tendo, não parecia ter importância quando lembrava de tudo que acontecera nos últimos dias. Rafa só desejava que o dia acabasse logo.

Uma dose violenta de qualquer coisaOnde histórias criam vida. Descubra agora