Eu perdoo você

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34 dias depois.

Rafaela observava a mãe da escada, Luciana estava ocupada olhando alguns papéis na sala de estar, provavelmente prontuários de pacientes ou alguma coisa do hospital. A garota pensava nas coisas que queria falar, tentava arrumar coragem para descer, sentar-se no sofá e pedir o que queria pedir. Ela suspirou e desceu.

-Oi, mãe.

-Oi, querida – Luciana levantou o olhar e deu um sorriso cansado, logo voltou sua atenção para os papéis que estava examinando –Quer que eu faça alguma coisa pro café da manhã?

-Não, eu só... – Rafa passou as mãos na parte de trás do jeans, sentia-se sem graça –Eu queria te pedir uma coisa.

Luciana encarou a garota curiosa, largou os papéis na mesa de centro e inclinou-se para frente.

-Pode falar, querida.

-Eu queria, sei lá, ir almoçar ou fazer alguma coisa com a minha mãe talvez... Não você, a minha outra mãe... – Rafaela encarou o chão, era algo desconfortável pra ela mas sentia que tinha que ser feito.

-Sério? – a mãe adotiva parecia surpresa, Rafa tinha sido bem firme ao dizer que não queria contato nenhum com a mãe biológica semanas antes –Isso é ótimo, filha, mas posso saber por quê?

-É só que... – a garota sentiu um nó se formar na sua garganta –Com tudo que aconteceu, com Luana e tudo mais, eu não quero terminar do mesmo jeito, sabe? Luana nunca teve a chance de fazer as pazes com a mãe dela... E eu não quero isso pra mim.

Luciana a encarava com seriedade, a médica deu um sorriso triste. Sabia o quanto tudo aquilo era difícil para a garota e vê-la tomar uma decisão madura a deixava aliviada e orgulhosa ao mesmo tempo. O fantasma de Luana ia pairar pela cidade por muito tempo, mesmo entre aqueles que não a conheciam, seria como aquelas lendas urbanas que as pessoas contavam para assustar crianças só que era real.

-Acho que ela vai ficar muito feliz em ouvir isso. Vou ligar pra ela mais tarde, vou marcar pra esse final de semana, tudo bem?

Rafa balançou a cabeça concordando e se virou para sair pela porta e ir para a escola. Luciana encarou as costas da filha até a porta ser fechado e ela desaparecer.

Agradeceu por não ter sido sua garotinha que acabou perdida naquela noite.

***

Marina virava o resto do café da xícara e se preparava para correr até a porta. Acordara tarde e agora estava atrasada para a escola. Ia sair como uma bala pela cozinha quando cruzou com sua mãe na sala de estar, o choque a fez parar imediatamente.

-Mãe?! O que você está fazendo? – a mãe estava vestida como costumava vestir-se para ir ao escritório, como a advogada que era. Tinha uma pasta em uma das mãos, estava com o cabelo preso, uma maquiagem leve, parecia ótima! Quem a visse desse jeito não imaginaria que era a mesma mulher que passara os últimos meses sem sair da cama lutando contra uma depressão grave.

-Vou voltar a trabalhar – ela sorriu timidamente –Cansei de ficar deitada na cama que nem uma velha inútil...

-Mãe, eu não queria dizer aquilo – a loira sentiu um gosto amargo na boca ao ouvir aquelas palavras, palavras que haviam saído de sua boca há poucos dias –Eu fui muito insensível...

-Mas estava certa – a mãe a interrompeu –Já é hora de voltar aos trilhos, certo? Queria ter aproveitado mais o tempo que tinha com você. Você vai pra São Paulo no próximo ano, eu queria ter feito tanta coisa, Marina, mas agora não dá mais tempo. Sinto muito...

Uma dose violenta de qualquer coisaOnde histórias criam vida. Descubra agora