Fogo encontra gasolina

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116 dias antes.

Marina acordou com som de risadas. Ela se sentou assustada, o coração acelerado. Não tinha ideia do que estava acontecendo, será que um grupo de assaltantes entrara na sua casa e estava rindo? Ou algum assassino tinha destroçado o corpo do seu pai e seus companheiros riam ao ver a cena? A loira caminhou lentamente pelo corredor em direção ao quarto dos pais e se surpreendeu com o que viu.

Se tivesse visto assaltantes ou assassinos não teria ficado tão surpresa. A mãe estava rindo enquanto dava o último pedaço do bolo do dia anterior na boca de seu pai. Marina não conseguiu conter um sorriso, era algo que fazia tempo que não acontecia. O seu pai tinha o queixo sujo de glacê e a mãe estava vermelha de tanto rir.

-Você é ridículo! – ela gritou enquanto ele se esforçava para abocanhar o pedaço do garfo.

-E você é uma egoísta! – ele sorriu, a cobertura se espalhou pelas suas covinhas –Comeu o bolo inteirou enquanto eu estava fora e não deixou nem um pedacinho pra mim... Isso é um absurdo! Acho que vou pedir o divórcio...

-Pode pedir – ela provocou –A Marina gosta mais de mim e vai trazer bolo para a mãe dela, não pra você.

-Vamos ver para quem ela vai dar bolo quando eu te expulsar dessa casa – em um esforço desesperado para pegar o último pedaço, ele se lançou pra frente e derrubou tudo no lençol da cama. A mãe de Marina tentou parecer irritada mas podia-se ver um esboço de riso na sua voz:

-Eu não vou limpar isso!

Marina sorriu enquanto ia em direção ao banheiro para tomar banho e ir à escola.

***

Luana mal conseguia respirar enquanto esperava Eli chegar com o carro para irem juntos à escola. Ela quase contara para Rafaela na noite passada...

Quase abrira totalmente seu coração, quase dissera as coisas ruins que haviam acontecido com ela mas algo também havia acontecido, algo havia mudado... Elas tiveram uma conversa profunda e com tantos significados que pensar naquilo ainda a deixava tonta mas isso fez com que confiasse ainda mais nela. Talvez ela não devesse confiar, sua experiência com pessoas havia a ensinado a não confiar em ninguém, mas na noite passada é como se Rafaela tivesse derrubado mais um dos muros que Luana construiu para se proteger. E ela gostou disso...

A buzina do carro de Eli a assustou e embaralhou seus pensamentos novamente.

-Ei, vai entrar ou prefere ficar aí com essa cara de idiota? – ele sorria.

Luana mostrou o dedo médio para o garoto e entrou no carro.

***

Rafaela estava sentada na arquibancada da quadra de basquete, sozinha. Ela chegara muito cedo na escola. Luciana estava de plantão e ela não queria ficar sozinha então simplesmente levantou da cama e saiu mas, ao perceber que estava tão sozinha nesse colégio quanto em sua própria casa, se arrependeu. A luz do sol fazia reflexos estranhos dançarem no piso da quadra causando muito desconforto nela. O desconforto passou ao se lembrar do que acontecera naquela mesma quadra há algumas semanas...

Rafa riu sozinha ao lembrar das líderes de torcida com os peitos de fora. Ela adorara aquilo, por mais que não fosse admitir e por mais que ela e Marina repreendessem Luana. Na verdade, Rafaela já estava até ficando curiosa para saber qual seria a próxima pegadinha de Luana. A loira era a melhor nesse tipo de coisa e, como era o último ano, havia boatos de que ela estava preparando a melhor pegadinha da história da cidade. Claro que ela não abria o bico para comentar com ninguém mas todos estavam curiosos, ou com medo, ou os dois!

Uma dose violenta de qualquer coisaOnde histórias criam vida. Descubra agora