Perguntas

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2 dias depois.

Rafaela acordou com o sol entrando pela janela, esqueceu a maldita cortina aberta de novo e se amaldiçoou por isso. Rolou para o lado e conferiu o horário no relógio ao lado da sua cama: 7:30. Decidiu que não iria para a aula hoje.

Pegou o celular e discou o número de Marina rapidamente, a loira atendeu no primeiro toque.

-Oi.

-Oi – Rafa respondeu cansada, sentia como se não tivesse dormido nada, o dia anterior estava confuso na sua cabeça, parecia um sonho ruim que ainda não acabara –Vai pra aula hoje?

-Nem pensar, você?

-Também não – a garota fez uma pausa antes de continuar –Quer ir dar uma volta?

Ouviu Marina suspirar do outro lado da linha:

-Por favor.

***

Rafaela observava Marina tomar pequenos goles de seu milk-shake de morango, a loira parecia ainda mais cansada do que ela. Ambas concordaram que era melhor sair pra dar uma volta do que ir pra escola ou até mesmo ficar em casa remoendo tudo.

-Eu não consigo entender, não faz sentido! – a loira disse depois de um tempo –Quem faria uma coisa dessas?

-Muita gente, na verdade – Rafa respondeu olhando para a mesa em que estavam, seu milk-shake de chocolate estava derretendo e pingando na superfície de acrílico –Sabe que muita gente odiava ela...

-Mas não consigo imaginar ninguém... Despedaçando ela! Meu Deus, isso é absurdo.

Rafa fechou os olhos por alguns segundos, odiava pensar na ideia do corpo desfigurado da amiga. Também não conseguia entender como alguém pudera ser tão violento, como tivera tanto ódio.

-Eu me sinto tão culpada, Rafa – a loira confessou olhando nos olhos da amiga –É tudo minha culpa, se eu tivesse agido como uma pessoa normal e tirado satisfação com o Guilherme a sós, talvez tudo tivesse sido diferente e ela estivesse aqui tomando milk-shake com a gente.

-Você não pode se culpar desse jeito – Rafa tentou acalmar a amiga enquanto pensava na sua própria culpa, em como a loira queria continuar deitada com ela no quarto e depois em como pediu para ficar junto dela para procurarem Marina, pensou em como ninguém nunca saberia que a maior responsável pela morte de Luana fora ela mesma –Eu também poderia ter feito algo, todos nós...

-Eu só... Nunca pensei que teria que viver em um mundo sem ela – Marina deixou o milk-shake de lado pela metade e suspirou –Sempre tive medo de que algo acontecesse mas ela sempre se virava, sempre ficava bem e dava um jeito de fugir dos problemas. Eu só quero entender o que aconteceu...

Rafa balançou a cabeça concordando. Uma parte dela tinha esperanças de que a polícia começasse a investigar e resolvesse logo o caso mas então algo pareceu vir à tona na sua cabeça...

Dificilmente eles conseguiriam. Quer dizer, as líderes de torcida, por exemplo, não iam contar sobre como elas foram atrás de Luana uma vez e a espancaram, os jogadores do time de basquete não falariam sobre como eles a trataram mal, ninguém iria confessar o quanto a detestava e, sem essas informações, nunca iam chegar a um culpado. Essa constatação fez o coração de Rafa ficar apertado por um motivo simples: Luana não teria a justiça que merecia. Já não bastava a vida horrível que ela fora obrigada a levar, mesmo na sua morte não haveria paz...

-Marina – Rafaela encarou os olhos azuis da loira –E se a gente fosse atrás das respostas?

-Por que nós faríamos isso? A polícia tem muito mais capacidade do que nós...

Uma dose violenta de qualquer coisaOnde histórias criam vida. Descubra agora