Parece que estou perdendo os sentidos

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80 dias antes.

O celular de Marina tocou mais uma vez mas ela ignorou a chamada novamente e enfiou a cabeça debaixo das cobertas da sua cama, estava cansada de pensar. Guilherme vinha ligando incessantemente para ela mas a garota estava deixando de atender suas ligações, não se sentia à vontade para falar com o namorado e sabia muito bem porque...

Depois daquele momento com Eli no lago, estava mais do que claro para ela que havia um sentimento a mais ali, algo que não era só amizade e não podia continuar enganando os dois garotos enquanto tentava descobrir o que sentia, ela não era do tipo de ficar fazendo esses joguinhos. Não era justo com eles, então ambos teriam o seu silêncio até ela decidir o que fazer.

***

Rafaela estava sentada na escada tentando ouvir o que Luciana falava na cozinha. A médica estava no telefone e conversava em um tom de voz baixo, como se temesse que a garota a escutasse. Rafa presumiu que ela deveria estar conversando com sua mãe biológica e, depois de alguns minutos escutando e juntando os pontos, se convenceu de que era esse o caso.

-Eu sei, mas ela vai superar – Luciana falou ao telefone enquanto andava de um lado para o outro –Acho que devíamos ter tido mais sensibilidade, eu deveria ter preparado ela melhor para isso...

Rafaela abraçou os joelhos e respirou fundo. Não havia como prepara-la para isso, não havia como diminuir a mágoa e a frustração que sentira durante toda a sua vida por ter sido abandonada pela pessoa que deveria amá-la mais do que qualquer um. Por um momento a garota teve raiva de Luciana por dizer aquelas coisas ao telefone, era impossível justificar o abandono de um filho ou pelo menos era isso que a adolescente pensava.

-Quem sabe daqui a algumas semanas? Posso ir conversando com ela e vendo se consigo convencê-la a te encontrar de novo. Rafa passou tanto tempo curiosa sobre quem era sua família e de onde veio que não pode ficar muito mais tempo se recusando a falar com você. Sim, tenho certeza disso... Conheço a minha garotinha, ela não é capaz de guardar mágoa por muito tempo.

"Você se engana, posso passar anos me recusando a ver essa mulher", pensou "ainda mais agora que estou no último ano e pretendo ir pra São Paulo com Marina e Luana".

-Ok, tudo bem – houve uma ligeira pausa na fala da médica –Tenho que ir pro hospital agora mas qualquer coisa me liga, a gente vai pensar juntas no que fazer... Vai dar tudo certo!

Rafa desceu as escadas e saiu pela porta da frente apressada, não queria ter que conversar com ninguém. Enquanto caminhava até a escola, desejou que o ano acabasse logo e pudesse ir embora como ela e as amigas planejavam há tanto tempo.

***

79 dias antes.

Marina virava o corredor quando sentiu braços envolverem seus ombros e alguém começou a acompanhar seus passos. Olhou para o lado e viu Guilherme com um sorriso um pouco tímido no rosto. Ele tinha olheiras debaixo dos olhos e parecia cansado mas mantinha o sorriso no rosto mesmo assim.

-Você não atendeu minhas ligações, está tudo bem? – ele perguntou diretamente, Marina sentiu seu estômago se revirar mas forçou-se a sorrir.

-Claro que sim – ele pareceu relaxar um pouco mas ela ainda sentia-se tensa ao toque dele, com os braços do namorado ao redor dela –Eu só estava cansada, sabe como é, toda essa coisa da minha mãe...

-Sim, sim, eu entendo – ele se apressou em dizer e Marina sentiu um pouco de culpa, enquanto ele estava ali tentando fazê-la se sentir confortável e compreendida, ela se perguntava se ainda o amava ou se sentia alguma coisa por Eli. A situação parecia ficar mais complicada a cada dia –Olha, eu pensei que a gente poderia fazer alguma coisa, sabe? Pra descontrair? Você merece um pouco de descanso de todas essas coisas e acho que eu deveria te ajudar.

Uma dose violenta de qualquer coisaOnde histórias criam vida. Descubra agora