Lembranças e dor

1.9K 179 39
                                    

POV Daryl

Perdido. É como me sinto, e odeio isso com todas as minhas forças. Odeio o fato de que aquela garota loira, magricela e absurdamente esperançosa me afeta tanto mesmo depois desse tempo. Entro para a floresta me afastando do resto do grupo, como vem sendo de praxe nos últimos dias, e me sento embaixo de uma arvore qualquer, próximo a um celeiro abandonado. Acendo um cigarro, ouvindo sua voz suave em meus ouvidos reclamando da fumaça, e fecho os olhos.

- O que vamos fazer, Daryl?- pergunta apressando os passos para me alcançar.

Ignoro-a.

-Daryl?

- Pelo amor de deus, cale a boca por um maldito segundo- digo me virando e encarando-a de frente. Ela ergue o queixo em desafio e isso me desconcerta. Não importa quantas vezes essa garota faça isso, e ela já fez isso algumas vezes, eu ainda fico atordoado- Estamos acabados, Beth Greene. O mundo acabou, nossas cercas caíram. Estão todos mortos.

-Você não sabe disso, Daryl Dixon- diz se aproximando e encostando o dedo em meu peito- Não sabe de nada.

-E você sabe?

Se vira ofegante, o rosto vermelho de raiva, e eu fico parado observando-a. Penso em como cuidou de Judy por todo esse tempo e no quanto é despreparada para tudo o que acontece aqui fora.

-Sei que perdi tanto quanto você, mas ainda tenho esperança- diz e a voz treme de raiva- Então, sinceramente, vá para o inferno.

-Desde quando você xinga?- resmungo de volta e ela me olha surpresa.

-Já faz um bom tempo, não sou tão boazinha assim- ela rola os olhos e suspira- Não se engane tanto com minha carinha de anjo. Fale o que vamos fazer ou siga em frente sozinho, porque eu não vou continuar te seguindo nesse silencio absoluto.

Arqueio a sobrancelha em desafio, e ela cruza os braços.

-Pago para ver- digo e ela arqueia a sobrancelha em desdém.

-Você faz pouco de mim- acusa e balança a cabeça- Tem razão em pensar que não sei lutar e sou uma completa negação para esse mundo, mas vai descobrir que sou muito cabeça dura.

Dou de ombros e me viro começando a andar. Espero para ouvir seus passos, mas esses começam para a direção contrária. Paro para ve-la seguindo para longe, passos pesados e raivosos. Dentre tantas pessoas, é a babá mimada que está por perto. O modo irritado de agora me lembra um pouco da briga que teve com Rick a respeito da Bravinha.

-Tudo bem, garota- digo e ela se vira para me encarar- Vamos montar algum acampamento e procurar algo para beber e comer. Um passo de cada vez.

Ela sorri vitoriosa.

(...)

-Aparentemente colocar fogo em casas e memórias ruins te deixa de bom humor- diz sorrindo enquanto anda ao meu lado. Rolo os olhos.

-Eu nunca estou de bom humor- digo e ela dá de ombros.

-Posso viver com isso. Vai mesmo me ensinar a usar a besta?- está animada, mas vejo que tenta se conter um pouco. Aceno em concordância.- Muito, muito obrigada.

Sorrio de lado, sem conseguir me contar.  Ela vem arrancando muitos sorrisos ultimamente.

(...)

-Ah, estou aprendendo- diz olhando para os rastros que encontrou sozinha e identificou do que se tratava- Logo não vou mais precisar de você.

Uma risada me escapa e para me encarando e sorrindo também.

-Tem razão, loira- digo sério, e isso quase doi em mim- Não vai mais precisar de mim.

A Light RebornsOnde histórias criam vida. Descubra agora