Hospital

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 POV Beth

Passado e presente se misturam de forma agonizante e eu não consigo distinguir o quanto é verdade de agora e o quanto são memórias. Os braços fortes ao meu redor se fundem com os de outra pessoa depois daquele tiro maldito e eu me perco. Minha cabeça doi de uma maneira nunca vista antes,  a dor se fundindo com a lembrança da ardência e o peso de antes.

E eu me lembro. Lembro-me de acordar naquele maldito hospital, tudo branco, estéril e assustador. Eu estava sozinha e procurava por alguém. Por ele. Aquele que não vejo o rosto e cujo nome se esvai sempre que tento acha-lo. Dessa vez os flashes se passam de maneira lenta e assustadora. Sinto cada maldita sensação e sentimento como se ocorresse de novo. Como se fosse agora.

O medo me sufoca conforme aquele homem nojento se aproxima de mim, me intimida e me assusta. Ele tenta e cada pedaço de mim briga, se defende e se contorce. O nojo sobe por minha garganta, o desespero se corrói, mas me mantenho fria, antes de mata-lo. Primeira morte em minhas costas, pesa mas não tanto quanto o esperado. Então a fuga falha, Noah vai e o inferno me engole. Apanho. E é como se cada tapa me moldasse para não abaixar a cabeça, não desistir, não enfraquecer.

O corpo dói, e eu me sinto quebrada. Mais que  a questão do braço. Alguém conhecido chega, uma mulher, machucada e apagada. Arrisco-me, e consigo que acorde. Eu sinto minhas forças se esvaírem e tenho de parar para respirar e me estabilizar, não é apenas sobre mim.  O hospital começa a se agitar, e então eu sei. Estão aqui. Minha família está aqui.

Vejo todos eles, alguém me chama a atenção novamente e eu o encaro. Lembro-me de encarar e sorrir, de sentir segurança e alivio por ver que está bem, mas o perco.  Perco seu rosto e tudo o que fica é a sensação de calor e carinho.

Ela pede Noah de volta.  Meu sangue ferve de ódio. Odio puro e forte diante de tudo o que já fez comigo e tudo o que faz com os outros. Movo-me para despedir de Noah sem ter esse intenção de fato. Ela fala comigo, a desgraçada, e  eu vejo vermelho. Puxo a tesoura do gesso e enfio em seu peito, e a próxima coisa que sinto é o ardor em minha cabeça, o barulho ecoando e meu corpo cedendo. Caio no chão com um baque seco e tenho uma vaga noção de sangue na parede, e outro tiro. Meus olhos se fecham, pesados  e a dor em minha cabeça é tão intensa que mal me dou conta de alguém se aproximar. A inconsciência me abraça como uma velha amiga.

 Ergo-me em um rompante, arquejando e piscando diversas vezes. Sou atingida por uma tontura intensa e preciso segurar forte no colchão surrado abaixo de mim. Aos poucos entendo que estou em uma casa qualquer de Atlanta. Minha besta está ao lado da cama, assim como minhas armas. Solto um suspiro cansado e confuso.

-Que bom que acordou, Bela Adormecida.- diz Ed aparecendo no batente da porta.

-Hey- respondo coçando a cabeça.- O que aconteceu?

-Usamos a ultima dose de remédio em você, que ficou apagada por um dia inteiro- conta se movendo para ficar ao lado da cama- Dessa vez a dor foi  intensa demais, Beth.

-Eu sei- digo e massageio minha cabeça com as mãos- As lembranças não foram muito agradáveis.

Os outros entram no quarto também e eu sou obrigada a passar por uma “ consulta”  com Brad, que testa todos os meus reflexos e essas coisas de praxe. Dakota se deita ao meu lado e me abraça. Os olhos castanhos estão cheios de preocupação, então acaricio seus cabelos com carinho até que se acalme.

-Temos que ir até aquele hospital,  você precisa de remédios.

-Não vamos entrar naquele inferno- digo séria e convicta, com raiva pingando por minha voz. Brad e Charles franzem a testa para mim.

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