POV Garota
-De novo- grita Charles em um incentivo e eu ataco-o novamente, entre um ofego e outro. – Vamos lá, menina.
-Esse não é o meu nome- resmungo e tento uma rasteira. Ele me derruba novamente.
-Então lembre-se dele, para que eu possa usa-lo- diz e eu fecho a expressão.- Não sou o Brad para procurar palavras bonitas.
Giro as pernas e chuto seu calcanhar, derrubando-o. Em seguida imobilizo-o no chão e seguro a faca encapada contra sua garganta. Ele ri.
-É disso que eu estou falando, loirinha- diz feliz e eu me sento no chão sorrindo.
-Estou chegando lá- digo e ele acena em incentivo, levantando-se e pegando as garrafinhas na mesa. Joga uma em minha direção e pego-a por reflexo.
Desde que acordei, venho lidando com o vazio enorme em minha mente. Nome? Desconheço. Parentes, amigos, amores? Nada. O branco permanece fortemente, as memórias escapando por entre meus dedos conforme tento alcança-las. É claro que eu tinha sensações e reconhecimentos. Reconheci a mim mesma. Lembro-me de como foi engraçado olhar no espelho e reconhecer aquela garota loira, com cicatrizes de meia lua no rosto e saber que aquele reflexo é meu. Eu simplesmente sabia de algumas coisas e essa era uma delas. Sabia que a cicatriz na testa, do tiro, era coisa nova. Sabia dos walkers. Sabia que tinha tido uma família. Sabia que não estava sozinha antes. Sabia que tinha muita coisa faltando.
Brad e Charles me ajudaram de uma maneira que eu nunca poderia agradecer. Desde o momento em que abri os olhos eles me apoiam e auxiliam, então acabei por entrar em um intensivo de sobrevivência, em que os dois me ensinam tudo o que sabem. Charles pegou a parte de luta corpo a corpo e armas.
Foi interessante pegar em uma arma, meu corpo parecia saber algumas coisas a respeito por si só. Eu sabia mirar, destravar e recarregar uma pistola de maneira instintiva, mas de acordo com Charlie, isso não era o suficiente, então ao final de uma semana eu já tinha treinado tanto que poderia desmontar e montar qualquer tipo de arma. Minha mira melhor de maneira considerável. As facas também exigiram muita atenção. Brad quem me treinou com elas, e no final de outra semana eu sabia como segurar, manter e até mesmo atira-las. Acho que poderia dizer que estavam me treinando para ser uma assassina em potencial. Estranhamente, eu não me importava nem um pouco. Algo em mim grita sobre ser independente o suficiente para não precisar de ninguém.
-De novo- diz depois que eu tomo dois goles de água. Resmungo baixinho e me levanto.
Não importa se estamos nesse treinamento a praticamente um mês, meu corpo ainda está dolorido e eu ainda tenho muito a melhorar. Coloco a garrafa em cima da mesa e firmo os pés, olhando-o com atenção, tentando usar os treinamentos anteriores para vence-lo. Ele inicia o ataque e eu me movo. Depois de vários tombos e golpes frustrados eu aprendi que minha chance estava na agilidade e movimento, uma vez que ele é mais alto e mais forte.
Movo-me, conseguindo impulso e soco-o no rosto. Ele cambaleia e eu sorrio convencida.
-Foco nos pés, garota- avisa e eu conserto uma falha. Ele acena orgulhoso mas não para de atacar.
Desvio e me movo rapidamente, usando golpes de defesa e procurando alguma abertura. O uso da palavra garota vem me irritando profundamente nos últimos dias, mas ainda assim... Quero o meu nome. O de verdade. Na primeira semana Brad ofereceu a possibilidade de falar diversos nomes femininos e eu escolher o que me soasse melhor. Neguei. Dentre todas as coisas que perdi, o meu nome era o que eu mais queria de volta. Isso era sobre quem eu sou.
Ele me atinge e eu cambaleio, mas não chegou ao chão.
-Lembrou de mais alguma coisa?- pergunta e sei o que está fazendo. É sobre conseguir se focar em duas coisas ao mesmo tempo: responde-lo e bloquea-lo.
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A Light Reborns
FanfictionUm tiro. Um segundo. Uma respiração. Você nunca sabe qual o momento em que tudo vai mudar. As vezes nem percebe a mudança. Daryl Dixon nunca saberia dizer em que momento Beth Greene mudou sua vida, quebrou suas barreiras e o fez enxergar o mundo dif...