Entrelaçadas

Capítulo III

Karen

Acordei com um barulho estranho do outro lado da parede, dei um pulo da cama e disparei em direção ao quarto de Tiago. Ele se debatia muito durante o sono; devia estar tendo um pesadelo. Aproximei-me, puxei as cobertas e deitei-me ao seu lado o abraçando.

_ Calma meu amor, é só um sonho, eu estou aqui com você.

_ Morgana... - Ele resmungou o nome de minha colega de sala voltou a dormir calmamente. Adormeci ao seu lado.

...

Escolher a roupa certa pra ir escola nunca tinha sido problema, uma vez que todos os alunos usam o mesmo uniforme horrível composto de uma camiseta cinza e calça ou saia, azul ou preta. Entretanto Tiago tinha colocado fogo no meu guarda-roupa enquanto eu tomava banho. Não tinha ficado brava com ele, na verdade cheguei a tempo de apagar as chamas e apenas duas blusas e minha preciosa cola para prova de matemática, foram queimadas, entretanto agora, tudo estava com cheiro de fumaça. Olhei desanimadamente para a pilha de roupas e desejei que meu perfume misturado ao cheiro de fumaça não produzisse um odor terrível. De qualquer forma era dia de prova e eu teria que ir à aula. Quinze minutos depois, desci para a cozinha; Tiago me esperava impaciente, pois ninguém mais lhe ajudava com o café.

_ Fome!

Ele me olhou com olhos acusadores, me senti muito má por deixar meu pobre irmãozinho com fome. Sorri como pedido de desculpas. Ele não tinha a menor noção de que quase incendiou a casa meia hora antes. Meus pais, como sempre, estavam alheios ao mundo ao seu redor, ou pelo menos aos seus filhos. Liam o manual de instrução do barco novo, que compraram para o passeio com os hospedes nosso hotel. Comecei a dar o café a Tiago enquanto eles decidiam se alteravam ou não a rota de pescaria.

_ Karen, vamos passar o fim de semana fora, espero que cuide do seu irmão, e que não ocorra nenhum incidente como esse, enquanto estivermos longe. - Papai mal olhou pra mim enquanto falava, parece que o barco novo tinha algo de diferente dos outros.

Mudamos-nos pro Amazonas dois anos atrás, para montar um hotel, no começo foi difícil a adaptação, especialmente com o clima, mas um hotel no meio da selva dava muito lucro, e assim Tiago podia ter um tratamento adequado. A verdade é que a família de meu pai era rica, e ele fazia questão de não aceitar nada que vinha deles, sempre dizia que "cada um deve realizar suas próprias conquistas". Foi difícil deixar Santa Catarina, minha casa, meus amigos, mas meu irmão era mais importante que tudo, e eu iria até o fim do mundo e faria qualquer coisa pelo bem dele.

Chegamos a escola em cima da hora, deixei Tiago em sua sala e fui pra minha. Muitos alunos estavam escondendo suas colas, lembrei pesarosa que e a minha tinha sido queimada no mini-incêndio provocado por meu irmão. Cinco minutos depois, a professora entrou na sala acompanhada da diretora e pressentindo algo ruim, fiquei feliz por não estar com nenhum material ilícito que pudesse ser encontrado em caso de busca. Todos encaravam a diretora Rose com os olhos atentos, ela só aparecia nas salas quando algo importante acontecia. Hoje, como sempre, ela usava uma calça social preta, muito larga e uma blusa com uma estampa estranha que não combinava com nada que já foi criado na Terra. Seu rosto magro era proporcional ao corpo quase esquelético, resultado de uns trinta anos fumando.

_ Bom dia meus queridos! - Ela deve ter tomado uma dose a mais dos seus calmantes, porque nunca nos tratava assim.

_ Bom dia Sra. Rose! - Respondemos automaticamente, todos espantados. Os alunos que estavam próximos a ela já davam sinais de náuseas causadas pelo cheiro do cigarro misturado ao perfume forte que ela usava.

_ É com alegria que informo que teremos uma grande comemoração no final deste ano letivo. - O alvoroço começou, todos felizes, sorrindo, mas eu sabia que tinha um "porém". - Porém, para que esse evento seja um sucesso teremos que preparar algo diferente.