Capítulo XLII

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Leonardo


Quando Giulia acordou e percebeu que estava presa, ficou furiosa e tentou se livrar das cordas.

_ Isso é inútil. - Ela encarou padre Bento com muito ódio.

_ O que você quer?

_ A verdade. - Ela riu debochada.

_ Não vai arrancar nada de mim!

_ Veremos.

As garotas estavam em um canto da sala e observavam tudo.

_ O que foi meninas? É a primeira vez que vêem um vampiro mestiço?

_ Sempre soube que você não era humana. - Ester nunca gostou de Giulia.

_ E eu sempre quis arrancar seu coração.

_ Léo, me traga o crucifixo; vamos começar.

Meia hora depois Giulia já tinha gritado, esperneado, quebrado a cadeira, xingado... E falar algo de útil; nada.

_ Me deixe arrancar a verdade dessa criatura. - Dulce estava muito nervosa.

_ Ainda não terminei; ela vai falar.

_ Ela é uma vampira, não uma possuída: Essas suas orações não estão funcionando.

Padre Bento encarou Ester e pensei que ele fosse dar alguma resposta mal criada, ao invés disso, apenas a ignorou e voltou a recitar um exorcismo. Mais quinze minutos de oração e Giulia estava exausta.

_ Está pronta pra falar ou devo continuar?

_ Eu odeio você! Todos vocês! Tomara que sejam enterrados vivos e devorados por vermes!

_ Foi isso que aconteceu com você? - Ela não respondeu e o padre Bento jogou água benta no rosto dela.

_ Para com isso!

_ Então comece a falar. - Giulia bufou, mas começou a contar sua história.

_ Eu era de uma família camponesa na Europa medieval e nunca gostei da vida no campo e da pobreza. Meu pai iria me forçar a casar com outro camponês em troca de uma ovelha. Fiquei furiosa; eu valia muito mais do que uma ovelha. Roubei o que pude de casa e fugi no meio da noite. Depois de caminhar por dias, cheguei a uma pequena cidade. Eu nem sabia o que era um país, o que eram outras línguas, como eu ia sobreviver... Sorte minha que sempre fui linda. Arrumei emprego de criada na casa de uma família nobre e não demorou até meu senhor me visitar durante a madrugada. Quando minha senhora descobriu, me confrontou e acabou caindo da escada "acidentalmente". Foi uma época maravilhosa; meu senhor me dava presentes e eu era sua "flor". Meses depois uma nova criada foi contratada e ela era mais jovem e mais bonita. Fui deixada de lado e não fiquei feliz. Arrumei emprego em outra casa, um lugar sombrio e cheio de segredos. No meu segundo dia, meu novo senhor me transformou em vampira e em sua amante. Eu nunca tinha sido tão feliz; tinha nascido pra coisa. Podia ter tudo o que quisesse, a hora que quisesse... Por séculos nós mudamos de cidade constantemente, sempre aproveitando tudo o que o mundo podia nos oferecer: Eu era linda, rica e imortal, minha vida era perfeita, até que ele nos encontrou... - Ela fez uma pausa e tinha muito ódio nos olhos.

_ Ele quem?

_ Um pastor anglicano; ele nos perseguiu. Eu até tentei negociar, mas ele não cedeu aos meus encantos. Foi difícil, mas conseguimos fugir dele. Achei que o pior já tinha passado, estava errada. Meu amante contraiu uma dívida com um mago negro para nos afastar do pastor; o mago me exigiu como pagamento e eu pensei que pertencer a alguém tão poderoso não era má ideia. Fui levada para uma mansão e lá fui apresentada a muitos mestiços; meu senhor tinha 48 escravos, vampiros e vampiras fortes e lindos. Eu não sabia o que era a segunda transformação pela qual eles tinham passado, só sabia que eram mais poderosos do que eu e queria o mesmo pra mim. Meu senhor me convidou para o seu quarto naquela noite e ao invés de mandar que eu tirasse minha roupa, ele chegou bem perto e me apunhalou no coração. Foram horas de dor intensa, todo o meu corpo queimava. Quando finalmente acabou, ele me explicou o que tinha acontecido. Eu recebi um selo do ser das trevas a quem ele servia, e de agora em diante seria uma vampira feiticeira e o serviria dia e noite como escrava.

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