Entrelaçadas

Capítulo LVII

Dulce

Observei meu pai dormindo profundamente; não parecia que sua vida tinha estado por um fio na noite anterior. Dr. Artur tinha dado alta pra ele nessa manhã, o que me deixou muito aliviada. Lourdes dormia no quarto ao lado; ela tinha ficado com ele até que adormecesse, embora estivesse visivelmente esgotada: Aquela mulher realmente sentia algo por ele.

Fui para o meu quarto e tentei dormir também, o que obviamente era uma perda de tempo já que minha cabeça estava fervendo com os últimos acontecimentos. Desde que consegui acessar meus poderes, não precisei mais dormir oito horas por dia para me sentir bem; a verdade é que três horas eram o suficiente. Quanto à comida... Bem, com alimentos a história era outra: Eu estava comendo dez vezes mais, e apesar disso meu peso não mudava.

Decidi que ficar deitada era uma total perda de tempo; iria dar uma volta. Enquanto tirava meu pijama observei meu corpo seminu: Eu tinha curvas, muitas delas, e mesmo não tendo uma barriga de tanquinho, era bonita, muito bonita. Só tinha pêlos na cabeça, sobrancelha e cílios, ao contrário de Ester que desde que virou loba pela primeira vez tem que se depilar todo o dia.

Vesti uma bermuda jeans desbotada e desfiada,uma camiseta de e calcei um tênis preto. Teoricamente meus pés deveriam suare inchar na temperatura de 40º, pra minha sorte isso nunca acontecia; eu podiaandar descalça ou com um salto de 15 centímetros que não fazia diferença, eusempre ficava confortável, vantagens de ser troll.Coloquei meusóculos escuros _ presente da Barbie _e saí de casa com meu mau humor de costume. Passei em frente à Igreja Batista;tinha sido um grande incêndio. Algumas pessoas estavam limpando o terreno,entre elas um moleque magrelo se destacava pela visível falta de força físicapara remover qualquer coisa, e uma mão engessada. Cumprimentei o pastor queestava sujo de carvão da cabeça aos pés e o garoto virou-se e me encarou: EraLéo._ Sério issoLeonardo? Você não tinha que estar ajudando o padre esquisito com as coisas do "outromundo"? _ Nós viemosajudar o pastor Pedro.Uma batina negrasaiu do meio da igreja destruída; o padre tinha rasgado a roupa em várioslugares e tinha na mão um martelo. _ Padre esquisito,hein? Revirei os olhospor trás dos óculos._ Não costumopedir desculpas padre, ainda mais por dizer a verdade.O sacerdoteexorcista deu um sorriso torto._ Prefiro quandoas pessoas são sinceras. _ Estão precisandode ajuda? Eu tenho braços fortes._ Sem dúvida vocêtem, mas estamos bem. – O pastor estava com cara de quem não dormia há dias. – Nãoconseguimos salvar nada da igreja; teremos que demolir e construir uma nova.

A voz do pastor estava triste, com certeza os outros membros também se sentiam assim. A história oficial é que tinha sido um incêndio acidental, causado por um curto na rede elétrica.

_ Sinto muito.

_ Talvez demore um pouco até construir uma nova, a comunidade da igreja não é tão grande...

Um carro preto que praticamente gritava "sou caro", encostou na calçada. Todos pararam o que estavam fazendo e se concentraram no veículo. A janela desceu e vi o rosto de um homem muito, muito estranho. Meus instintos se acenderam e assumi uma posição de ataque; ele era um vampiro, do tipo muito poderoso, e sei lá como, mas sabia disso.

_ Bom dia!

_ Bom dia senhor Seth! – Pastor Pedro respondeu enquanto endireitava a postura.

O padre e Léo se aproximaram do pastor, obviamente para protegê-lo em caso de ataque; eu não era a única que não gostava de vampiros.

_ Senhorita, poderia, por favor, entregar isso ao pastor? – Ele estendeu um envelope grande em minha direção. – Eu não posso sair do carro.

O sol, claro que era o sol. As lendas eram verdadeiras; vampiros temiam o sol. Contive minha vontade de arrancar o velho pela janela e matá-lo na frente dos homens da Igreja Batista.