Capítulo XLI

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Sara


Quando cheguei a casa paroquial, Léo já estava com o padre Bento. Cláudia me deixou esperar na sala enquanto eles estavam no escritório. Eu tinha que saber sobre o que eles estavam falando. Usei minha magia e fiquei invisível, em seguida fui até a janela do escritório que dava pra varanda e fiquei rezando pra não ser descoberta.

_ Tinha alguma coisa diferente no relatório da polícia?

_ Detalhes que ainda não sabíamos sobre os corpos das meninas.

Léo engoliu seco e parecia temer os detalhes.

_ E o que seria?

_ Havia sinais de tortura, muitos sinais. Não foi um sacrifício, aquelas pessoas sabiam de alguma coisa muito importante e alguém as fez falar da pior forma possível; torturando suas filhas.

Léo ficou ainda mais pálido e meu coração acelerou. Como alguém pode torturar uma criança?

_ Li o diário todo, e tem algumas coisas importantes.

_ A menina sabia que isso ia acontecer?

_ Não sei, mas ela presenciou algumas coisas bem estranhas.

_ Que tipo de coisas?

Padre Bento pegou um caderno velho e percebi que era um diário.

_ Vou ler pra você: "Hoje é meu aniversário, agora tenho dez anos, mamãe me deu esse lindo diário de presente e papai me levou pra caçar pela primeira vez. Não sei por que ele fez isso. Me ensinou como atirar e disse que minha mira é boa, e que seguro a espingarda do jeito certo. Ele disse que 'está no sangue'. Também falou que vamos caçar três vezes por semana e vai me ensinar a usar facas."

Outro trecho: "Querido diário, minhas notas de português melhoraram muito, e agora sou a melhor aluna da sala. Mamãe vai me ensinar latim; acho que é por causa do meu avô. Ele chegou hoje e vai ficar uns dias, perguntou como estou me saindo e papai disse que meus tiros melhoraram."

_ Por que um pai ensinaria uma garota de 10 anos a usar armas?

_ Calma Léo. "Essa noite acordei com um barulho estranho, desci a escada em silêncio e vi meu avô conversando com o espelho da sala. Acho que ele está ficando muito velho. Quando fui falar pra mamãe ela disse pra eu esquecer isso por enquanto, e assim que fizer doze anos, vai me contar tudo. Será que a mamãe também está ficando velha como o pai dela?"

"Querido diário, vovô foi embora hoje e falou coisas estranhas antes de entrar no carro: Disse pra eu aprender latim rápido e tomar conta da minha irmã. Também falou que não posso mais sair sozinha e devo ficar de olho no espelho. Ele está bem ruim da cabeça. Depois foi divertido, papai me ensinou a fazer balas pra espingarda, elas são de prata. Isso foi muito legal!"

"Querido diário, estou assustada, tem uma mulher me seguindo. No começo achei que fosse coisa da minha cabeça porque assisti um filme de terror, mas agora tenho certeza. Ela me segue todos os dias, de casa até na escola. Quando contei pro meu pai ele disse que agora vai me levar e me buscar e me deu uma faca. Ele disse que é de prata e que pode cortar coisas ruins."

"Querido diário, a mulher me atacou. Estou muito assustada. Ela entrou no banheiro da escola e me encarou com os olhos grandes e azuis. Comecei a tremer e ela chegou bem perto, se abaixou pra ficar do meu tamanho e depois tentou me morder. Foi aí que eu peguei a faca que estava escondida nas minhas costas, embaixo da blusa e enfiei no peito dela. Ela caiu no chão e começou a gemer de um jeito estranho, fiquei parada olhando uma coisa azul sair dela e quando pensei que não ia ficar mais estranho; ela desapareceu. Peguei a faca e corri pra casa. Deixei minha bolsa na escola e pedalei o mais rápido que consegui. Meus pais ficaram muito assustados quando eu contei a eles. Minha irmã teve sorte por estar gripada e ter ficado em casa, assim nada disso aconteceu com ela."

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