Capítulo XVIII

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Rodrigo


Cheguei à casa que antes considerava minha também; tudo estava diferente. Agora eu tinha muitas dúvidas, não sabia em quem podia confiar.

_ Estamos no meio do nada.

_ Estamos na Amazônia.

_ Dá no mesmo.

_ Vamos entrar, tenho outros assuntos pra resolver. - Ao passar pela porta vi todos na sala; estavam em reunião.

_ Enviei Tig ontem para matar o fedelho e ele não voltou. Tentei sentir sua energia vital e não consegui; isso significa que está morto.

_ Com certeza foram os membros da Assembleia. - A mulher que havia me criado como filho me encarou e veio em minha direção:

_ Bem vindo de volta filho!

Vyce me abraçou e instintivamente retribui o abraço. A verdade é que ela fazia isso para sugar uma parte de meus poderes. Muito tempo atrás, ela tinha sido atingida por uma flecha enfeitiçada, desde então, precisava de uma dose regular de meus poderes para manter-se viva. Sempre me abraçava como pretexto, nunca tinha me incomodado com isso, mas agora que sabia a verdade, não queria dar nada a ela. Afastei-me e fui até Carmen.

_ Esta é Yen, é uma necromante poderosa e dança muito bem. - Carmen observou a bruxa chinesa e sorriu em aprovação.

_ Quantos anos tem?

_ Duzentos e sete.

_ Quantos idiomas você fala?

_ Vinte idiomas e cinquenta e quatro dialetos.

_ Tenho muitas outras perguntas, venha comigo. - Carmen e Yen subiram as escadas.

_ Rodrigo, pode tirar uma folga, Sara não está na cidade. Assim que voltar irei buscá-la; ela é importante demais para eu deixar você trazê-la.

_ Como quiser. Com licença!

Saí daquele lugar e senti um grande alívio. Fui à cidade, queria beber, tomar tudo o que pudesse, nunca iria ficar bêbado como um humano, mas não sabia o que fazer da minha vida. O céu estava nublado, logo choveria. Parei em frente a Igreja Católica e lembrei que em breve um novo padre chegaria. Caminhei um pouco mais e vi a Igreja Batista. Naquele fim de mundo, alguns dos religiosos estavam unidos contra os gêmeos, outros simplesmente recusavam-se a aceitar a verdade. O jovem pastor estava chegando a sua casa, que ficava ao lado da igreja, quando me viu. Ele era muito mais carismático que o seu antecessor, que por sua vez era cético, preconceituoso, arrogante e não quis se unir a Assembleia. Pablo adorou isso e foi lhe fazer uma visita, os dois discutiram porque o pastor o chamou de lunático e fraco. A briga acabou com o pastor virando comida de piranhas no rio mais próximo.

_ O que você quer? - Girei sobre os calcanhares e encarei o pastor Pedro; era apenas um humano, mas tinha muita coragem.

_ Estou apenas observando.

_ Fique longe daqui.

_ Achei que fosse sua função cuidar das almas perturbadas. - Ele me olhou desconfiado.

_ Essa é uma das minhas obrigações como pastor do rebanho do Senhor.

_ E quem faz parte desse rebanho; só os bons?

_ Só Deus pode julgar quem é bom ou ruim; estou aqui para orientar a todos, não importa como sejam.

_ E isso inclui alguém como eu?

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