Capítulo XXVI

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Karen

Foi uma noite horrível: Ficar ali deitada sem fazer nada enquanto Rodrigo estava na casa de Dulce... Mas se aquela troll sem graça estava pensando que eu deixaria isso barato; ela estava muito enganada. Mal o sol tinha nascido e eu já estava bolando um plano pra me livrar da Fiona, mas a empregada ligou e avisou que meus pais e o Tiago estavam chegando; Tiago sempre vinha em primeiro lugar. Lembro de quando meus pais o adotaram: Minha mãe sofreu um aborto e passou por uma fase de depressão, então eles resolveram adotar ele porque éramos um pouco parecidos fisicamente; não faziam idéia que ambos somos elfos. Desde que descobri o que sou, passei a reparar nos meus pais; queria saber de qual deles eu havia herdado o gene elfo, ambos pareciam totalmente humanos, foi ai que lembrei da minha avó, mãe do meu pai, ela era linda. Vovó era negra, mas ao contrário da maioria dos negros do Brasil, ela não descendia de escravos. Meu avô alemão era dono de uma empresa de turismo e a conheceu em uma viagem à África, ele não resistiu ao charme dela e a pediu em casamento. Eles se mudaram para o Brasil quando meu pai tinha três anos. Vovó odiava o frio e aqui tinha um mercado excelente para uma empresa ligada ao turismo. Ele sempre fazia tudo o que ela queria; com um sorriso e um olhar malicioso, ela o deixava completamente sem juízo. Meu pai costuma dizer que eu me pareço com ela; o jeito de olhar e de sorrir, e assim como minha avó fez meu avô largar tudo na Alemanha para morar no Brasil, só pra ela estar em um país mais de clima tropical, eu ia fazer o Rodrigo ficar comigo. Mas vovó não era só uma mulher linda, forte, inteligente e charmosa; debaixo daquela pele negra reluzente havia algo diferente. Certa vez ela cortou o dedo fazendo uma salada, e eu fui correndo buscar a caixinha de primeiros socorros pra minha "musa inspiradora". Quando cheguei à cozinha o corte já tinha cicatrizado, na época ela disse que tinha sido mágica e seria um segredo nosso. Fiquei toda feliz por compartilhar um segredo com a minha avó, mas quis saber como fez aquilo e ela prometeu me contar quando eu fosse mais velha. Atualmente meus avôs estavam dando a volta ao mundo, mas assim que eles voltassem ao Brasil, eu ia querer saber exatamente quem ela era, e de onde meus poderes vieram.

_ Karen, vamos levar você até em casa. – Abigail me arrancou de meus pensamentos.

_ Vocês vão comigo?

_ Está na hora de seus pais saberem a verdade.

_ Eles precisam mesmo saber?

_ Sim, e é pra própria segurança deles. – Abigail segurou minhas mãos com ternura.

_ Estamos todos juntos nessa guerra e vamos nos proteger uns aos outros.

Ela tinha razão; estávamos em guerra e o que eu mais queria era a minha família segura.

Quando meus pais chegaram, o subgerente do hotel já estava esperando para uma reunião. Como de costume eles perguntaram se eu estava bem e deixaram o Tiago comigo. Eu abracei meu irmão com força e ele sorriu pra mim. Levei ele para o meu quarto e, com cuidado, contei tudo o que tinha acontecido desde que eles viajaram. De noite Abigail e Davi voltariam pra conversar com meus pais, mas eu queria preparar o Tiago.

_ Não se preocupe maninho, o Cauê vai me treinar e vou proteger você e nossos pais; prometo.

Meu irmão me abraçou e depois fez cara de rapazinho; ele ia ficar um homem muito lindo quando crescesse.

_ Quero aprender também.

Levei um susto; Tiago raramente falava mais de uma palavra por vez.

_ Como assim?

_ Vou proteger você.

Meu coração quase derreteu; ele queria me proteger, meu frágil irmão queria cuidar de mim. Beijei-o na bochecha.

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