Capítulo XXVII

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Dulce

Esperei pelo meu pai no portão com Morgana; ele chegou em um táxi acompanhado da enfermeira. Mal ele desceu do carro e corri para abraçá-lo.

_ Papai!

_ Oi minha menina!

_ Senti tanto a sua falta!

_ Eu também senti sua falta filha.

Foi o melhor almoço da minha vida, pedi pra Morgana cozinhar, porque queria receber meu pai com algo decente pra comer. Ela tinha feito um peixe assado com ervas e algumas outras coisas que não sei nem falar o nome; estava muito bom. Além da comida maravilhosa, Carolina não estava ali, e eu nunca mais teria de suportar aquela criatura. Doutor Artur tinha ido almoçar conosco; ele estava muito feliz em ter a mãe por perto.

_ Você é uma excelente cozinheira Morgana.

_ Obrigada!

_ Esperem até comerem a sobremesa.

Quando fui buscar o "Mousse de Sete Cores" fiquei pensando na melhor maneira de contar tudo ao meu pai; depois do almoço nós iríamos ter uma longa conversa. Enquanto caminhava até a mesa, me perguntei se não podia pedir pra Morgana cozinhar todos os dias em minha casa, afinal eu ia morrer e não era bonito negar o último desejo de uma condenada; ri sozinha da ideia ridícula.

_ Nossa! Isso não é uma sobremesa e sim uma obra de arte.

Não sei se foi impressão minha, mas acho que vi um olhar muito estranho do Dr. Arthur pra Morgana.

Após o almoço fui falar com meu pai no quarto enquanto Dr. Arthur e Morgana ficaram na sala; ele ia contar pra mãe que ela tinha namorado um troll. Ajudei meu pai a deitar e comecei a falar com calma, com tanta calma que meu pai ficou assustado, e depois mais assustado ainda. Quando terminei de falar ele estava calado, me olhava e parecia não acreditar em nenhuma palavra que eu disse.

_ Pai, por favor, não se assuste. - Respirei fundo e estendi minha mão enquanto a transformava em metal bem na frente dele. Ele ficou com os olhos arregalados e esse foi mais um acontecimento normal da minha vida de criatura estranha que salva o mundo.


Artur


Minha mãe fez inúmeras perguntar sobre tudo: Queria saber se eu estava bem com isso, como ser um mestiço alterava minha vida, se eu poderia comer qualquer coisa... Fiquei feliz por Morgana estar ali; a verdade é que eu não sabia a resposta para a maioria das perguntas.

_ Você tem quantos anos Morgana?

_ Quinze.

_ E você sabe que é bruxa desde quando?

_ Desde sempre.

_ Você se desenvolveu como as outras crianças?

_ Bem mais rápido.

_ Arthur também; ele já nasceu com dentes.

Em menos de cinco minutos mamãe já estava contando coisas constrangedoras para Morgana, só não mostrou o álbum de fotos porque estava no fundo de uma das malas que não tinham sido desfeitas. Elas estavam se dando bem, não sei o porquê, mas fiquei feliz com isso.

Dulce desceu as escadas e parecia aliviada; com certeza não foi fácil contar para o pai que não viveria muito tempo, entretanto, guardar esse segredo poderia ser desastroso.

_ Lourdes, estou muito feliz por você ter vindo. Conversei com meu pai e concordamos que você deve tirar a tarde de folga. Tenho certeza de que Dr. Artur quer te mostrar a cidade, quando você voltar te ajudo com as malas, se você quiser.

_ Obrigada Dulce! Estou muito curiosa pra conhecer a cidade.

_ É um lugar lindo mãe, você vai adorar.

_ Quer vir conosco Morgana? - O convite de mamãe foi inesperado e foi estranho perceber que estava ansioso por uma resposta positiva.

_ Muito obrigada pelo convite, mas eu e Dulce temos algumas coisas pra resolver.

_ Que pena, seria muito bom ter a sua companhia. - Pensei o mesmo e me segurei pra não dizer. A presença de Morgana tinha um efeito estranho sobre mim.

Após mamãe orientar Dulce sobre os horários dos remédios, saímos para conhecer a cidade, com certeza ela seria feliz aqui e eu torcia para não precisarmos mais ficar longe.

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