Capítulo XXI

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Pastor Pedro


Rodrigo estava dormindo no quarto e Dulce no sofá-cama. Aparentemente os dois tinham ficado amigos, e ela o seguia pra todos os lados. Estava feliz por finalmente ele ter alguém com quem contar. Karen estava contrariada pela proximidade dos dois, e Rodrigo não demonstra o menor interesse nela, ao contrário do que acontecia quando ele olhava para Sara. Nunca me apaixonei, mas posso ver em seus olhos que ele sente algo especial pela pequena ruiva.

Estava quase na hora do julgamento de Rebeca, e eu teria que ser justo. Nenhum outro pastor quis fazer parte da Assembleia e enquanto o padre novo não chegasse, eu tinha a responsabilidade de juiz toda pra mim. As horas pareceram arrastar-se, e rezei por serenidade e sabedoria. Rebeca era muito poderosa e caso decidisse atacar-nos, teríamos que feri-la. Enquanto eu estava ajoelhado orando, ouvi passos pelo corredor da igreja fechada, olhei pra trás e vi um garotinho se aproximando; ele aparentava ter uns sete ou oito anos. Sua pele era negra como a noite e os cabelos, brancos como a neve. Seus olhos estavam fixos em mim, e sorria como se fossemos grandes amigos. Ele se aproximou e meus joelhos dobrados tremeram.

_ Oi Pedro!

_ Olá!

_ Está tendo muito trabalho por aqui, não é mesmo?

_ Sim, mas servir ao Senhor e aos meus irmãos não é um fardo, e sim um privilégio. - Ele sorriu docemente.

_ Também me sinto assim. No entanto, você está sentindo-se sozinho.

_ Sim, fiquei com toda a responsabilidade de liderar a Assembleia.

_ O padre que virá será um bom companheiro.

_ Gostaria que todos os religiosos dessa cidade lutassem contra essa sombra que ameaça nos engolir.

_ Eles fizeram sua escolha, mas se é importante pra você ter mais apoio, o terá.

_ Como assim?

_ Mandarei um monge pra ajudá-los.

_ Você mandará um monge?

_ O Criador usa quem Ele quer e na hora do seu agrado. - Engoli seco.

_ Desculpe-me! - Fixei meus olhos no garoto, uma neblina parecia cobrir minha visão, e ocultar o que eu já sabia - Afinal, quem é você?

_ Sou seu amigo, não é óbvio?

_ E meu pequeno amigo tem nome?

_ Claro que tenho; sou Ariel.

_ Nome bonito. Você mora na cidade há muito tempo?

_ Estou onde você está, lembre-se disso. Estou ao seu lado o tempo todo, desembainho minha espada e luto por você. Esta noite haverá justiça, não tenha medo, não será você que julgará a bruxa. Apenas confie no Senhor.

Acordei assustado, tinha adormecido enquanto orava. Olhei em volta ainda confuso procurando por Ariel. - Isaac estava apoiado no batente da porta.

_ Pastor Pedro, está na hora; temos que ir.

_ Não faça isso: tenha postura na igreja.

_ Ah claro! E quem é que estava dormindo no chão?

_ Foi um acidente, caí no sono enquanto orava. E por que ficou olhando e não me acordou logo?

_ Eu queria, mas um menino estranho disse pra eu ficar quieto.

_ Você o viu?

_ Claro que vi: Pequeno, negro, autoritário. Deve ser um anjo.

_ Sim, um anjo que cuida de mim.

Quando chegamos ao salão da Assembleia, todos já estavam reunidos, fizemos uma oração e Rebeca entrou acompanhada da nora.

_ Rebeca, filha de Luna, você é acusada de praticar magia negra, necromancia, tentativa de alterar o passado, conspiração, lutar contra um anjo... - Enquanto o vice-prefeito falava, lágrimas saíam dos olhos dela. Os dois nunca se deram bem, sempre disputando poder dentro da Assembleia, ele faria tudo que pudesse para que ela fosse condenada a morte. Isaac foi o primeiro a depor e depois de muitos outros falarem, chegou a hora mais importante da noite, eu teria que dar o veredicto. Quando me levantei, uma luz invadiu a sala e uma mulher apareceu; tinha a pele, os olhos e os cabelos brancos. Não tive dúvidas; era a mãe de Rebeca, a Grande Bruxa Luna, ela estava acompanhada de um monge.

_ Conselheiros, desculpem o atraso, tive que alterar a rota para atender uma ordem. Sou Luna, mãe de Rebeca. Este é o seu novo membro, seu nome é Megumi; significa "benção". Ele não fala seu idioma, mas aprenderá rápido. Deixo ele sob sua responsabilidade pastor Pedro; sei que se darão bem. Quanto a minha filha...

_ Mãe, por favor, me perdoe!

_ Chega de suas loucuras! Está banida desse Assembleia pelos seus crimes. Deverá viver isolada em uma ilha deserta sem seus poderes até pagar pelos seus crimes e se reencontrar com sua verdadeira natureza. Eu te sentencio a viver em E'dichiix, o purgatório na Terra.

Rebeca entrou em desespero.

_ Por favor, mãe, não faça isso! Morgana e Sara precisam de mim, tenho que ensiná-las como usar sua magia para defenderem-se.

_ Como ousa falar o nome delas? Você negligenciou seus deveres como matriarca e não as ensinou nem metade do que deveria. Se dependesse de você, elas saberiam menos do que uma iniciante. A razão para existirmos é que a Infinita Bondade nos designou para proteger a natureza, você nem ao menos se importou com o que te cerca; obcecada por um homem que escolheu o Criador e que foi acolhido por Ele. Nunca deixaria o aprendizado das meninas em suas mãos. Você nem ao menos ensinou seu filho e seu neto, eles tiveram que buscar o conhecimento, sozinhos. Quanto às meninas, todas as noites de suas vidas eu entrei em seus sonhos e as instruí, e agora as liberto do bloqueio em suas mentes para que se lembre de tudo o que ensinei.

Uma luz azulada saiu dos olhos de Luna e atingiu Sara e Morgana.

_ Minhas queridas, não importa o que aconteça; sejam a luz que ilumina nas trevas, o amor que aquece os corações frios, a bondade que acolhe e a fé que move montanhas. Nós somos guardiãs da Terra, e devemos protegê-la, mesmo que nos custe a própria vida.

As meninas pareciam confusas, provavelmente era efeito da remoção do feitiço de bloqueio.

_ Mãe, não me mande para o purgatório! Posso me regenerar aqui, com o apoio da minha família.

_ Não vou correr o risco de você tentar corromper as crianças. Teve sua chance Rebeca, e o que fez com ela? Distorceu a vontade dos anjos. Essa é sua sentença. - Luna a fez desaparecer com um gesto. - Os conselheiros já estavam de pé e visivelmente perturbados. - Antes de voltar para minhas batalhas diárias, eu lanço um grito para o universo, minha alma chama minhas irmãs distantes. Em pouco tempo o destino as trará até aqui, a roda da vida começou a girar a meu favor, as outras Predestinadas virão até vocês e talvez não sejam as boas garotas que estão esperando, elas tem o livre arbítrio que o Criador deu a Ava. - Após dizer isso, Luna desapareceu.

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