Capítulo IV

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Morgana


Coloquei meus livros na mochila e desci para o café; meus pais conversavam animadamente sobre nossas férias.

_ Morgana, o que você prefere; Alasca ou Austrália? - Papai perguntou em um sorriso:

_ Alasca, chega de calor. - Eu adoro neve, adoro frio e conto os dias para que cheguem as férias e podermos viajar para um lugar de clima diferente.

_ Bom, já tivemos neve nos últimos três anos, que tal variar um pouco? - Mamãe não gosta de frio.

_ Mãe, nós passamos o ano todo em um lugar quente. Não é pra sair da rotina que servem as férias? - Temos essa conversa todos os anos.

_ Existem muitos lugares no mundo com clima ameno. Que tal Espanha? - Mamãe sempre queria Europa.

_ Espanha é quente. - Protestei.

_ Depende a época do ano. - Ela rebateu.

_ Calma meninas. Tenho certeza de que vou encontrar um destino que satisfaça as duas mulheres da minha vida. - Papai sorriu e beijou de leve mamãe. Eca!

_ Deviam proibir os pais de se beijarem na frente dos filhos.

Cenas de amor não eram as minhas prediletas. Meus pais se entreolharam cúmplices e eu pressenti algo ruim; em um salto ambos estavam do meu lado e me deram um beijo nas bochechas.

_ Parem com isso! Tortura logo cedo. - Eles riram e voltaram aos seus lugares.

_ Nós te amamos. - Mamãe sorria divertida.

_ Não precisa demonstrar; eu sei. - Papai passou manteiga no pão e me olhou zombeteiro:

_ Devia rir de vez em quando filha; faz bem pra pele. - tirei meu protetor solar da bolsa:

_ Isso aqui é melhor do que sorrisos.

Cheguei ao portão da escola e suspirei desanimada: Tantos humanos, tanto barulho, tanta coisa inútil... Eu detesto esse lugar, afinal seria muito mais produtivo para o mundo se eu estivesse me dedicando ao que nasci pra fazer: Proteger a natureza. Sinto a raiva tomar meu corpo só de pensar que, enquanto faço cálculos nas aulas de Giulia, a estranha, árvores estão sendo derrubadas e a floresta, destruída. Meus pais, meus queridos pais, querem que eu tenha o melhor dos dois mundos, então me obrigam a estudar quando eu poderia estar destruindo alguns tratores, caminhões e qualquer outra coisa utilizada para devastar a Amazônia. Atravessei os portões forçando meus pés a seguirem em direção da sala, enquanto todos os meus instintos gritavam para eu ir à floresta.

Durante todos os horários tive que fugir da Sara, ela sempre tentava puxar conversa sobre o evento; aquela garota me dava nos nervos. Quando ela finalmente percebeu que eu não ia falar teve uma ideia que facilitou muito minha vida:

_ Que tal você fazer uma lista com o que seria interessante produzirmos? - Eu tinha uma ótima ideia: uma guilhotina, que essa beata inauguraria. Mas como isso era contra lei, assenti com a cabeça pra me livrar da conversa e saí para o pátio.

Acho que essa era uma oportunidade de apresentar música de qualidade para a escola, então uma tenda de Rock seria minha contribuição para esse evento estúpido.

Chegando em casa, ouvi uma voz diferente na sala; quase caí pra trás quando me deparei com Rodrigo sentado no sofá junto com meus pais.

_ Finalmente você chegou, estávamos preocupados.

_ Desculpe; estava me livrando de um chiclete. - Olhei para Rodrigo me perguntando o que ele estava fazendo na minha casa.

_ Você deixou cair no pátio, como sua casa fica no caminho pra minha, passei aqui para devolver. - Ele me estendeu meu chaveiro favorito, e eu o peguei de sua mão instintivamente.

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