O Cerco

Cap. 27 - Quem é Z?

         Bati na porta da casa de Luke, ele abriu e olhou diretamente pro meu rosto, seus olhos estavam profundos e lacrimejavam, era como se eu olhasse pra mim mesma. Luke me abraçou e choramos quietamente por um minuto, ali parados em sua porta, ele me convidou pra entrar e disse que iria preparar algo pra comermos, estava frio naquela manhã. Enquanto ele estava na cozinha observei sua casa, era uma mansão e era linda. No sofá ao lado do que eu estava tinha uma coberta. Pensei se ele havia dormido ali, fui até lá e peguei aquela coberta, cobri meu corpo e fiquei encolhida ali. Havia um cheiro, uma mistura de alguma fruta tropical com erva-doce, era um cheiro bom. Encostei a coberta em meu rosto e fiquei olhando pra TV, que estava desligada, pensei se ele fazia o mesmo quando eu cheguei.
         - Liv? - Luke me chamou, parecia entusiasmado. - Você prefere chocolate ou morango?
         - Surpreenda-me - eu respondi.
         10 minutos depois Luke apareceu com dois copos de café e alguns pedaços de torta, parecia ser salgada.
         - Surpreendeu mesmo, não tem chocolate e nem morango. - eu falei sorrindo.
         - Vai ficar pra sobremesa. - ele riu enquanto pegava um pedaço de torta do meu prato.
         Ao experimentar a torta olhei pro seu rosto que esperava alguma reação minha, e uau, que torta incrível. Mas ele estava ansioso por essa resposta, e eu quis me divertir. Fiz uma cara de desagrado e disse:
         - Acho que você exagerou no sal.
         Antes de comer o pedaço que estava na mão dele, seus olhos ficaram assustados e logo se levantou e pegou prato das minhas mãos dizendo:
         - Sinto muito! Eu não costumo errar assim, vou jogar isso fora e pegar a sobremesa, juro que vai estar boa.
         - Solta esse prato agora, onde pensa que vai com minha torta? Esta é a melhor torta que já comi, eu estava brincando com você, bobo. - falei enquanto sorria e mordia outro pedaço de torta.
        - Ele se afastou enquanto seu olhar de preocupação se transformou em um sorriso e talvéz, não sei explicar aquele olhar, mas parecia estar me admirando.
         - Vou buscar a sobremesa.
         Luke apareceu com duas taças de sorvete sabor creme e uma cobertura quente de chocolate por cima. Ao comê-lo percebi pedaços de morango picados ao meio. Estava delicioso.
         - Agora que você já comeu e está impressionada com o meu jeito na cozinha, preciso te perguntar. O que veio fazer aqui mesmo?
         - Descobrir quem matou Ruth e meu pai.
         Luke me contou uma história sobre um bebê mutante que sobreviveu a um incêndio e quis vingança causando caos na cidade. Era uma história interessante mas eu estava ali pra saber mais, então quis ir direto a fonte. Ele me olhou com negação mas eu insisti e ele aceitou.
         Fomos até a casa de um homem chamado Charles, ele abriu a porta e nos chamou para entrar, percebi uma tensão em Luke durante o caminho todo.
         - Então essa é Jany? - Charles perguntou.
         - Quem é Jany? Ah não! O que? Ela é uma vadia, e uma anã, não sei o que Luke viu nela.
         - O namorado de Liv a traiu com Jany. - Luke explicou.
         - Ex namorado. - esclareci.
         Charles estava sozinho em casa, era misterioso, eu me senti em uma daquelas cenas de filmes de suspense onde a garota está perto do perigo tentando descobrir a verdade, então quando ela descobre, o assassino aparece. Eu queria muito que ele aparecesse.
         - O que vieram fazer aqui? - Charles perguntou.
         - Descobrir quem é Z. - Luke falou.
         - Acredite quando eu digo, eu também quero descobrir.
         - Mas você deve ter alguma informação a mais, não tem? Ou suspeitas, qualquer coisa. - eu insisti.
         - Bom, vou dizer o que eu sei. Zacharias Howe nasceu em uma clínica chamada Rehab, ninguém sabe quem são seus pais, ele cresceu e se casou com uma mulher que também não conheceu seus pais, tiveram um filho juntos. Ele tinha uma família, mas carregava um trauma. Zacharias sabia que era diferente de todos os outros, e queria aproveitar disso, para colocar em ação o que havia planejado durante toda a sua vida. A vingança contra os nazistas.
         - Mas e depois que ele se vingou, por que não voltou pra sua família? - Luke perguntou.
         - Zacharias não era mais ele mesmo, havia se tornado uma coisa. Assumiu uma identidade que se auto chamava de Z, e ao tomar o poder da cidade gostava da sensação de todos o obedecendo e o temendo, sentia-se um Deus. Mas a Polícia conseguiu o derrubar, e Z morreu. Eu tenho certeza disso, quem está cometendo esses assassinatos agora é um impostor ou uma imitação.
         - Ou um vingador. - eu falei, tudo o que eu queria naquele momento era descobrir a identidade do assassino, eu queria justiça ou talvéz, vingança.
         Luke analisou a minha suposição e perguntou a Charles:
         - O que houve com a mulher de Z, e seu filho?
         - Ao descobrirem a identidade de Z, sua mulher sabia que iriam atrás dela e de seu filho, então fez com que o garoto desaparecesse. Ela foi queimada em sua própria casa pelos moradores de Dumbwood, por ordem das famílias fundadoras da cidade.  
         - Eu faço parte de uma das famílias fundadoras daqui. - eu disse, olhei pra Luke e lembrei. - Você também.
         - Assim como Damien e Danny, e Lucy. - falou Luke.
         - Então é por isso que fomos marcados.
         - Vocês foram marcados por Z? - Charles perguntou assustado.
         - Sim. - respondeu Luke. - eu, Liv, Ruth... E outros 5.
         - O Z original matava as pessoas que eram marcadas, todas. Ele considerava isso tortura, o fato de elas saberem que alguém estaria vindo a qualquer momento pra arrancar a vida delas. Se isso é um imitador, então vocês precisam encontrá-lo e matá-lo, porque ele vai vir pra matar vocês.
         Luke me chamou e fomos embora, mas não parecíamos estar indo pra casa dele ou minha. Agora tínhamos uma pista, Z imitador poderia ser o filho do Z original, que buscava vingança pela morte dos seus pais, Luke parecia decidido a descobrir.
         Chegamos na delegacia, Luke disse que seus pais deixaram a chave de casa em alguma das salas, e estavam pra fora. Uma policial chamada Anne permitiu a nossa entrada, Luke me pediu pra fingir que estava procurando a chave na sala de sua mãe, Grace. Ele demorou alguns minutos pra voltar mas apareceu com uma pasta que logo colocou dentro da minha bolsa. Saímos da delegacia e lá fora, ao abrirmos o arquivo, Luke folheou e ficou boquiaberto.
         - Ah Deus, não pode ser!