Faziam quatro dias desde a morte do meu pai, eu estava deitada na cama agarrada com meu travesseiro. Naquele momento eu gostava do meu quarto, era aconchegante e eu precisava disso. Não queria sair.
Pensamentos ruins dominavam minha mente. A maneira com que eu tratei ele naquela semana, nos últimos meses... Eu nem consigo saber distinguir como chegamos a isso, lembro de quando eu era criança e ele me empurrava no balanço do jardim, comprava sorvete pra mim na praça da cidade, aproveitava os dias de chuva pra brincarmos na lama, ele foi um ótimo pai. Mas eu cresci e me afastei dele, ah Deus, como eu queria voltar atrás agora.
Não fui pra aula a semana toda, eu já até imaginava como seria, todos perguntariam se eu estaria bem, acho essa uma pergunta ridícula considerando o momento. Fico imaginando a cara de preocupação de todos eles aproveitando a oportunidade, alguns estariam até alegres por dentro.
Alguém bateu e por um momento imaginei o rosto de Dylan encostado do outro lado da porta.
- Liv? - era a voz de Math.
Levantei e fui até a porta do jeito que estava, não me importava com minha aparência naqueles dias.
- Oi - disse ao abrir a porta.
- Vai sair desse quarto quando? - perguntou ele com um olhar fuzilante, isso me irritava.
- Quando eu estiver preparada pra sair.
Voltei pra minha cama e deitei nela. Fez um silêncio por alguns segundos mas Math voltou a falar.
- Qual é o problema com você?
- O quê? - perguntei sem entender a intenção da pergunta.
- Sério, vai ficar com esse drama até quando? A escola não vai se reunir e formar uma multidão pra bater na nossa porta e dizer o quanto sentem muito pela sua perda Liv!
- Do que você está falando?
- Estou falando do modo como está sendo egoísta, aproveitando a morte do nosso pai pra que todos sintam pena de você, ninguém vai levantar uma bandeira exaltando seu nome e ninguém vai escrever no muro alguma palavra de conforto pra você. Adivinha por quê? Porquê o mundo não gira ao seu redor Liv, você tem que parar de agir como se fosse dessa forma!
Math saiu e bateu a porta atrás dele. Fiquei sentada sobre a cama e nenhuma palavra poderia ter saído da minha boca, eu estava incrédula após ouvir aquilo. Apertei o lençol com as duas mãos e chorei. Não estava chorando apenas por tristeza, aquilo estava doendo de verdade. Encostei minha cabeça no travesseiro e continuei chorando, eram lágrimas intermináveis.
Eu não podia acreditar que meu único irmão pensava assim de mim.
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O Cerco
Mystery / ThrillerCerta vez um grande compositor disse em um dos seus shows a seguinte frase: "Existem dois dias importantes na nossa vida: o dia que a gente nasce e o dia que a gente descobre porquê que a gente nasceu." Na adolescência, enquanto um garoto vi...