"Querido diário, sei que faz um tempo desde a última vez que estive aqui. Andei muito ocupada cuidando do meu eu exterior e esqueci do meu interior, já não expressava meus sentimentos. Mas agora as coisas mudaram, meus sentimentos explodem e transpassam meu próprio eu.
Meu pai morreu, aquele sorriso lindo foi apagado da história e o assassino ainda não foi descoberto. Minha mãe foi a única testemunha, mas ela disse que não conseguiu identificar nada sobre o monstro que havia feito aquilo. Mas eu queria saber quem foi, e um dia eu sei que ficarei frente a frente com o assassino e mostrarei tudo o que ele tirou de mim.
Eu fiquei uns dias sem ir pra escola, mas hoje eu decidi ir. Pensei muito sobre o que Math me disse, apesar de não concordar com ele. Também pensei em Dylan e nas minhas amigas, eu sinto tanta falta.
Diário, eu estou com medo. Medo de como a escola vai reagir ao me ver, medo de não conseguir responder "estou bem, obrigada" pra todas as vezes que me perguntarem, medo de desmoronar em lágrimas em algum corredor daquela escola. Mas eu sou Liv O'Connell, eu não fujo de nada."
Eu não me arrumei muito, nem me maquiei, lembrei do que Dylan disse no enterro do meu pai, "você não precisa disso". Será que ele está bem? Acredito que vai ficar tão feliz ao me ver, ele tinha um jeito torto de demonstrar mas me amava muito.
Cheguei na escola e pro meu azar todo mundo já tinha chegado também, não avisei nenhuma das minhas amigas então precisei entrar sozinha. Eu estava com uma roupa simples, uma camiseta branca e uma blusa preta e fina por cima, calça jeans. E mesmo assim ao abrir o portão a escola toda se virou em direção a mim, era o que eu temia.
Eu podia imaginar os pensamentos daquelas pessoas, "coitada dela, perdeu o pai", "nossa, olha essa roupa, ela está acabada", "a vadia voltou".
Em um dos armários estava Dylan, e aquela cena acelerou meu coração e pôs um sorriso em meu rosto. Ele olhou pra mim com tom de desagrado, fechou o armário, virou as costas pra mim e saiu andando. Eu o segui, alcancei ele e o puxei pela mão.
- Ei, está tudo bem? - senti como se ele devesse ter feito essa pergunta pra mim, mas tudo bem.
- Não Liv, o que você estava pensando?
Eu não entendi o motivo da pergunta.
- Do que você está falando?
Ele começou a gritar comigo no meio do corredor, com todas as pessoas ao redor.
- Você se trancou em seu quarto e fugiu, abraçou seu drama e dane-se pras pessoas que se importam com você né? Você não pode fazer isso, não pode encontrar um problema e correr dele assim.
- Meu pai morreu, Dylan. - eu falei quase chorando.
- Era pai do Math também, mas ele veio pra nos dizer como se sentia, veio pra permitir que ajudássemos ele. - Dylan abaixou a cabeça, olhou no fundo dos meus olhos e continuou falando. - Você queria chamar a atenção da escola toda, parabéns por ter conseguido, olhe ao redor. - Dylan saiu após pronunciar aquelas palavras.
Eu girei olhando pra cada rosto ali, queria enfrentar a situação. Mas eu estava quebrada demais pra sair por cima disso, minhas lágrimas escorriam sem controle algum. Então Lucy apareceu e me abraçou. Eu caí em seus braços me ajoelhando ao chão e chorando desesperadamente, aquilo doía.
Era a minha volta pro Colégio de Dumbwood, e coisas piores voltaram comigo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Cerco
Mystery / ThrillerCerta vez um grande compositor disse em um dos seus shows a seguinte frase: "Existem dois dias importantes na nossa vida: o dia que a gente nasce e o dia que a gente descobre porquê que a gente nasceu." Na adolescência, enquanto um garoto vi...