Susto

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-Bia, Bia, Beatriz.- a voz de Hélio me despertou do marasmo que estava em minha mente enquanto voltávamos do hospital após meu desmaio.

-Desculpa, o que disse?

-Perguntei se quer que eu compre algo pra você, deve ter algum supermercado 24 hrs no caminho, você precisa se alimentar bem como o médico disse.- Ah Hélio, se você soubesse o real motivo por trás disso, talvez sua preocupação se transformasse em desagrado, quem sabe até decepção.

-Tenho tudo que preciso em casa, só quero descansar mesmo.- me virei me acomodando mais no banco do carro, dando o assunto por encerrado.

O restante do caminho até a porta do meu apartamento foi feito em silêncio, Hélio o tempo todo com os braços ao meu redor, talvez com medo que eu desmaiasse de novo.

-Hélio, tudo que farei agora é deitar e dormir, talvez você devesse fazer o mesmo...na sua casa.

-E te deixar sozinha depois desse estresse todo? Claro que não Beatriz, você pode passar mal de novo.-ele exclamou incrédulo, me olhando como se fosse louca por cogitar ficar sozinha agora.

-Hélio, por favor, que só quero ficar um pouco sozinha e descansar, se eu sentir alguma coisa, te ligo.

-Não irei te contrariar, mas fique com o celular por perto, e se sentir alguma coisa, nem que seja uma dor no fio de cabelo, me ligue ok?- soltei um risinho forçado e sem graça, diante a situação que me encontrava, Hélio mostrando seu lado protetor que imagino ser parte do seu instinto de bombeiro.

Ele me abraçou se despedindo, me fazendo prometer de novo que o manteria informado. Fiquei de costas para a porta após fechá-la, deslizando até o chão pela mesma, finalmente estando sozinha e tentando assimilar o fato. GRÁVIDA.

Aos 23 anos, com o emprego que sempre almejei, em um relacionamento que não fazia a menor idéia de como defini-lo, e que talvez a chance de ir por água abaixo estava cada vez mais concreta diante desse deslize.

Engraçado que quando se é criança, planejar a vida adulta parece ser fácil demais. Crescer, estudar, se formar, se realizar profissionalmente, casar, ter filhos. Tudo nessa ordem, mas o que fazer quando algo se altera?

A medida que as lágrimas aumentavam, os soluços chegavam aos meus ouvidos. Ser mãe, ter alguém dependente de você, mudar completamente o curso de vida, estar perdida.

As batidas na porta estavam sincronizadas com meu celular, eu só queria me desligar de tudo e continuar hibernando em minha cama.

Peguei o aparelho quando parou de tocar, pude ver que já era hora do almoço, após a crise de choro que se apossou de mim durante a madrugada, consegui me acalmar, talvez devido as turbulências do dia, desabei na cama apagando instantaneamente.

Me levantei já não podendo ignorar as batidas, sem me importar como estava minha aparência, abri a porta encontrando Renata do lado de fora.

-Finalmente em, já estava arrombando isso aqui.- ela com toda sua pose e nenhum pouco de timidez entrou em minha casa.

- Licença.- foi tudo que pude quando o cheiro de seu perfume me atingiu, saí correndo para o banheiro quando o enjoo apareceu.

-Hélio me contou que passaram a madrugada no hospital né, qual o motivo mesmo?- engoli em seco ao notar o tom de voz dela, um pouco mais acusatório que o normal.

-Foi um dia cheio, fiquei bem nervosa, sofro de crises de enxaquecas, dai já viu né?- falei tentando distraí-la mas ela continuava com seu olhar incisivo sobre mim.

Meu Vizinho BombeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora