Meu Vizinho Bombeiro

Casamento

*Hélio

Eu andava de um lado para o outro, o nervosismo se fazia presente, minha testa começava a suar e dei graças a Deus por não ser um dia quente.

Ajeitei Hélio N em meu colo, ele estava quieto balbuciando algumas palavras desconexas enquanto soltava risadinhas. Por um momento imaginei que ele estivesse debochando e se divertindo com meu estado, assim como a maioria das pessoas ao nosso redor.

-Um preso no corredor da morte deve ficar desse mesmo jeito.- Lucas não perdeu a oportunidade de me alfinetar, escutei ao meu lado meu primo dar uma risada discreta parecendo concordar com meu amigo bombeiro.

-Relaxa primo, se você tiver sorte ela não vai fugir.

Suspirei revirando os olhos vendo os dois tirar sarro da situação. Meu primo estava muito mais tranquilo, apesar dos pesares.

Ele tentava não transparecer, mas volta e meia via seu olhar perdido, o jeito evasivo, não havia sido um ano fácil para nós e acredito que ele foi o que mais perdeu.

Descobrir a verdade sobre a índole do pai e da irmã não havia sido fácil, perder os dois daquela forma então nem se fale. E como se não bastasse ainda tinha Alice com toda sua vida oculta.

Eu não guardava nenhum tipo de sentimento negativo pela baixinha, pelo contrário, sabia que tinha uma dívida com ela, se não fosse por ser o que era talvez eu não estaria ali naquele momento, com meu filho nos braços a espera da mulher que eu amava.

Entendia o lado de meu primo por ainda estar magoado, ressentido, por várias vezes tentei conversar mas em vão. Era notável que ele a amava e que esse sentimento era recíproco, porém o orgulho falava mais alto, o impedindo de aproveitar a felicidade.

Eu torcia muito por eles e esperava que se acertassem o quanto antes e para mim era só isso o que faltava para que a minha vida entrasse de vez nos eixos.

Voltei a realidade um pouco mais calmo. Olhava ao meu redor satisfeito com todo o trabalho que tive para realizar essa surpresa para Beatriz. Sorri sabendo que em pouco tempo ela seria minha esposa.

-Chegaram.-José F falou se despedindo e indo de encontro ao carro que a trazia.

Vi quando desceu com a ajuda de José, retirar a venda um pouco confusa observando tudo, até que seus olhos pararam em mim no altar. Ela abriu um sorriso que se possível me deixou ainda mais nervoso e com as pernas bambas, era indescritível o efeito que essa mulher tinha sobre mim.

Com meu primo em seu enlace caminharam pelo tapete vermelho até o altar. Bia estava magnífica, parecia piegas, mas percebi meus olhos se inundando de lágrimas enquanto ela se aproximava. Era isso, conseguimos!

-Mamãe linda.- nosso filho disse alegre batendo palminhas, arrancando expressões contentes de todos ali presente.

-Sim meu filho, mamãe linda.- concordei quase sem conseguir me conter.

-Aqui está meu primo e agora cunhado, cuide bem dela.- José disse quando chegaram até mim, eu apenas pude assentir sem conseguir desgrudar meu olhar do dela.

Renata tirou Hélio N de meu colo, esse foi de bom grado para os braços da madrinha se comportando, parecendo saber a importância daquele momento.

-Feliz aniversário minha vida.-desejei e sem me conter a abracei depositando um castro beijo em sua testa.

-Melhor presente que eu poderia ganhar, obrigada meu amor.- aquele sorriso dela continuava ali, me encantando, me deixando ainda mais bobo e apaixonado.

A cerimônia começou, eu gostaria de dizer que prestei atenção em tudo o que acontecia, mas estaria mentindo. Meu olhar traidor sempre recaia para ela, acompanhando cada gesto seu e sua expressão de contentamento era evidente. O que fez com que tudo passasse mais rápido e quando dei por mim já eram os marido e mulher, e eu não perdi tempo ao beijar logo a noiva, arrancando aplausos da nossa pequena plateia.

Eu havia passado o mês todo preparando cada detalhe com o maior capricho, tendo ajuda de todos. Merecíamos aquilo, ela merecia. Não tinha sido nada grandioso ou extravagante, o que eu queria que ficasse em evidência ali era o amor que nutriamos um ao outro, quis deixar tudo o mais agradável e aconchegante possível e consegui.

-Hey amigos, inimigos e agregados.- Lucas chamou a atenção de todos, ja no auge da pequena festa que havíamos preparado para depois do casamento.- Eu gostaria de propor um brinde a esse lindo casal que vemos aqui.- ele falou apontando para mim e Bia que estavamos sentados.- Meu grande amigo Hélio, a nervosinha da Beatriz e ao mini bombeirinho, desejo toda a felicidade do mundo a vocês, só Deus sabe o quanto merecem. Eu fico honrado em estar aqui comemorando essa data tão importante. Saiba que poderão contar comigo sempre. Então é isso, chega de drama e vamos beber gente.- ele finalizou nos fazendo gargalhar com seu jeito e ao invés de brindar com a taça, virou logo a garrafa de champanhe.

-Aí meu Deus, se o Lucas der mais um vexame, eu afogo ele na piscina.- Renata disse tentando parecer brava, mas seu sorrisinho de canto a entregava. Não era atoa que davam tão certo.

-Senhora Sanchez, me conceda a honra dessa dança.- cortejei Beatriz quando começou a tocar Tears is heaven de Eric Clapton, eu sabia o quanto ela adorava essa música.

-Será um prazer meu marido.

A segurei firme em meus braços, não querendo soltar nem por um segundo.

-Você está maravilhosa.

-Obrigada. Achei que dava azar o noivo ver o vestido da noiva antes do casamento.

-Não tem mais espaço para o azar em nossa vida. E se vier, eu me acerto com ele.

-Amo você e muito obrigada pela surpresa.- falou me abraçando mais forte.

-Estou aqui para isso meu amor. Inclusive, temos uma viagem a nossa espera pela manhã. - Ela levantou a cabeça surpreendida e sorriu mas logo pude notar seu cenho franzido, a conhecendo já sabia o porquê da preocupação.

-Ele vai com a gente, também não estou preparado para ficar longe.- falei me referindo ao nosso raio de sol.- Vamos  adiantar um pouco nossa lua de mel, curtir esse tempo em família, respirar ares diferentes, ficarmos mais tranquilos, e assim que ele estiver maior e gente estiver preparados para deixa-lo aproveitarmos a dois, quem sabe até programar mais um herdeiro.- Bia gargalhou se divertindo com a ideia.

-Você sempre acerta não é?- falou antes de me beijar.- E sim, poderemos trabalhar nessa ideia de programar mais um herdeiro.

-Que bom que concorda, pois começaremos hoje mesmo.

-Hoje?

-Claro, a viagem será em família, mas não poderia deixar a noite de núpcias passar em branco.-falei a olhando sugestivamente.

-Aguardo ansiosamente.- falou com malícia me deixando arrepiado.

E naquele momento minha vontade era de pegar ela no colo e fugir o mais rápido possível...