Raio de sol e início da tempestade

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Pela minha visão periférica pude observar Hélio, tentei esconder o riso ao notar seu evidente nervosismo.

Usando um jeans casual, camiseta vermelha e tênis, ele estava sentado ao meu lado, na sala de espera da minha obstetra.

-Você precisa se acalmar ou sairemos daqui direto para um cardiologista.- eu disse enquanto pousava minha mãe em sua coxa, para evitar que ele continuasse a balançando a perna.

-Talvez seja uma boa ideia.- ele disse com a voz seca demonstrando o estado em que se encontrava.

-Vou buscar uma água.

A caminho do bebedouro, reparei na decoração do consultório.

Nas paredes havia vários retratos de bebês, alguns com o rostinho dentro de flores, outros em casquinhas de sorvetes e frutas, dando um ar alegre e divertido para todas as mamães que viam e imaginavam como seria seu bebê.

Um em particular chamou minha atenção, um bebezinho dentro de um sol, lembrando a abertura de Teletubbies.

-Beatriz Alencar.- a voz da secretária me tirou dos meus devaneios, Hélio se levantou rapidamente vindo em minha direção, limpando um filete de suor escorrendo por sua testa, pegou o copo de minha mão e bebendo toda a água ruidosamente, parecendo enfim se acalmar.

Dr. Cristina aparentava ter em torno dos 50 anos, sua aparência, jeito calmo, profissional e maternal lembrando Carmem.

-Então, alguma dúvida antes de realizarmos o ultrassom?- ela perguntou após alguns esclarecimentos e instruções.

-Simmm, eu gostaria de saber...- Hélio começou todo encabulado e sem finalizar sua fala.

-Aposto que é sobre sexo.- a Dr brincou e com isso quase o fez afundar na cadeira pelo constrangimento.

-Você poderia, por favor, explicar a ele que não há nenhum problema em fazer.- Cristina riu assentindo.

-Beatriz está certa Hélio, não há mal algum em manter relações durante a gravidez, as gestantes ficam mais sensíveis e diante a turbulências dos hormônios tudo poderá ser mais prazeroso.  Só devem se policiar para não extrapolar os limites, e claro, lembrar do bem estar dela sempre, e quanto mais confortável ela se sentir, melhor.- ele suspirou parecendo mais tranquilo enquanto eu sorria vitoriosa por estar certa.

-Pontos para escutar o coraçãozinho?- a médica perguntou, comigo já estando na maca.

-Prontos.- respondi por mim e por ele, o silêncio reinou até escutarmos um som forte e intenso, eu até então estava calma, mas a medida que o som preenchia a sala, tornando tudo real, eu desmoronei.

-É tão forte.- Hélio falou com a voz embargada pelo choro.

-Sim, esse bebê está de desenvolvendo de maneira saudável, se seguirem todas as minhas recomendações, não terão com o que se preocupar.

Eu escutava tudo sem conseguir esboçar nenhuma reação além do choro, a imagem borrada no monitor se tornando a coisa mais linda no mundo.

-Escutou isso Bia, vai ficar tudo bem.- ele sussurrou no meu ouvido, nossas lágrimas já se misturando, a emoção arrebatadora dominando nossos corações. A imagem do bebezinho veio em minha mente:

-Nosso raio de sol.- falei olhando dentro dos olhos cor-de-mel do meu bombeiro.

-Nosso.- falou igualmente emocionado antes de me beijar.
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-Você é muito exagerado Hélio, não precisava disso tudo.

Meu Vizinho BombeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora