O Convite

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Suspirei na medida em que as carícias aumentavam, beijos eram distribuídos por todo meu corpo.

-Acorde bela adormecida.- Hélio brincou enquanto subia os beijos por minha orelha me causando arrepio. Gemi, dessa vez de desgosto, quando ao fundo meu despertador tocava. Inferno, estava tão bom aqui…

-Hey, cuidado para não derrubar.- ele me alertou enquanto eu me virava na cama, olhei para direção que ele apontou e a surpresa me invadiu quando reconheci minha bandeja com café-da manhã.

-Você fez café para mim?

-Tecnicamente não, sendo que eu comprei, achei que nossa trégua acabaria se eu colocasse meus dotes culinários em sua asseada cozinha.

-Isso seria péssimo, odiaria ter que marcar a outra parte do seu lindo rostinho.

-Bom, já que tocou no assunto...eu gostaria de me desculpar, não pelo o que aconteceu, mas sim pela maneira que fiz acontecer.

-Não foi você quem falou que só pede desculpas quando está arrependido?

-Como eu disse, não pelo o que aconteceu.- ele passou a mão pelo rosto, parecendo encabulado e envergonhado. -Na verdade não sou um homem que lida muito com as palavras, por isso que parto para a prática.- ele tentou fazer piada da situação.

-Disso eu sei muito bem bombeiro.- ri também enquanto pegava um croissant e me deliciava com meu amado café amargo.

-Você sabe que esse café está sem açúcar né?

-Claro, não vou estragar uma obra prima como o café o enchendo de doce, aliás se eu quisesse doce tomaria mel.- exclamei enquanto defendia meus gostos, era incrível como todo mundo torcia o nariz quando eu tomava meu café sem açúcar.

-É uma pena, eu estava animado imaginando você só de camisola na minha porta me pedindo uma xícara de açúcar.- gargalhei, Hélio era uma comédia por si só, não me lembro da última vez eu acordei tão bem humorada.

-Agora eu entendo seu mau humor, aguentar José Sanchez não é fácil.- disse enquanto apontava para minha pasta de trabalho que continha o nome da empresa.

- Como você conhece meu chefe?

-Sou sobrinho dele.

-Mas ele não tem sobrinh..- me calei quando a ficha caiu sobre mim.

-AHHH, não precisa me olhar assim e nem dizer que senti muito como todos fazem, já se passaram anos. -Eu assenti sem saber muito o que dizer, mas sabia que no fundo dessa fala despretensiosa de Hélio havia ainda a dor da perda.

Todos no Grande Shopping sabiam do acidente. O primo de José Sanchez havia morrido em um incêndio na  própria mansão junto com a esposa, o único sobrevivente foi o filho de 10 anos. Logo Sr. Sanchez o amparou, sendo o tutor dele e com isso tomando conta também de todos os bens o que incluía o Grande Shopping.

Desde então o Sr Sanchez sempre se referiu ao garotinho como sobrinho, garotinho esse que após 15 anos era bombeiro e agora descubro ser o Hélio.

Comemos em silêncio, parece que o assunto acabou com o clima descontraído anterior, meu despertador tocando enlouquecidamente me alertando do meu possível atraso.

-Hélio...
-Eu sei, você tem que ir né, alguém precisa trabalhar nesse prédio.

-E você? Está de folga?
-Sim, mas entro de plantão hoje á noite e ficarei até quinta e poderei aproveitar na sexta, falando em sexta...- moveu as sobrancelhas sugestivamente, Hélio não terminou deixando sua fala solta no ar, fazendo meu estômago agora cheio se revirar em expectativa.

Meu Vizinho BombeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora