Presa

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Hélio e eu estávamos em nossa bolha particular. Há uma semana ele teve alta e viemos para casa. Nossa casa, que até 3 meses eu nem imaginava a existência.

Provavelmente foi um dos dias que mais chorei desde o coma de Hélio, havia perdido meu apartamento e todas as minhas coisas e lembranças, meu amor estava no hospital sem previsão de acordar, me senti totalmente sem rumo, angustiada, assustada, desesperada.

Dizem que quem tem amigos, tem tudo. Pude confirmar o quanto isso é verdadeiro, eles nunca me deixaram desamparada.

Lembro de quando fui embora do hospital com Zé e Alice, mesmo que minha maior vontade fosse estar ao lado de Hélio, porém, eu tinha uma responsabilidade maior, que ia além de nós dois.

Acompanhei meio perdida quando Zé entrou em um bairro residencial, as casas dignas de filme, com uma arquitetura que jamais pensei.

As dúvidas que eu tinha em relação ao futuro do meu relacionamento com Hélio morreram assim que coloquei os pés na casa. Ainda não acreditando no fato de que ele estava preparando essa surpresa para mim, de que ele pensava em ter um lar para nosso filho.

Chorei pela surpresa, chorei pelo desespero de estar lá, mas sem poder compartilhar a minha alegria com o pai de meu filho, chorei de medo e por tudo que o futuro ainda nos reservava.

Alice e Zé  permaneceram comigo na casa ou melhor mansão, preocupados demais com o meu estado inicial catatônico. Logo eu já estava me sentindo mais familiarizada e adaptada, mas o medo de ficar totalmente sozinha não me abandonava.

Entrar com Hélio são e salvo era gratificante.

Eu não havia mexido em nada relacionado a decoração, soube pelo primo que meu bombeiro se empenhou bastante para tentar deixar tudo o mais parecido com o meu gosto e me conhecendo como ninguém, ele conseguiu.

-Se nãoooo me enganoo eu deveria entrarrr com você no meu colo.- Hélio disso pouco depois de entrarmos. Me alegrando o fato de que as sessões de fonoaudiologia estavam surtindo efeito e  que sua fala estava cada vez menos enrolada.

-Acho que se tentar me carregar agora, nós dois cairemos no chão.- o que não era mentira, juntando meu peso e a perda do dele, seria cômico nossa entrada.

-Nem me faleee, esotu me sentinnndo um frafracote.- ri enquanto ele olhava para seu próprio peitoral.

-Não se preocupe, para mim está ótimo.- falei me aproximando para alcançar seu lábios, impossível segurar o suspiro ao sentir seus lábios nos meus, a saudade que eu sentia de cada pedacinho dele e de nossos momentos á sós falando mais alto.

Ir mais devagar era o meu plano que estava falhando miseravelmente ao sentir sua mão infiltrar minha nuca, me arrepiando por completo.

-Deixe tocandooo.- ele resmungou assim que o telefone de casa começou a tocar.

-Deve ser o Zé, avisando que já vem me buscar.

-Você deverrria mudaar de idéia. Fique aqui comiiiigo.

-Hélio não.- estava difícil concentrar em algo sentindo seus lábios no meu pescoço.- Conversamos sobre isso, eu realmente preciso ir para a empresa e você precisa descansar.

-Descanseei demais porrr 3 meses.- falou emburrado sabendo que eu já tinha vencido a questão.

Antes que eu pudesse rebater, a campainha tocou, ao atender confirmei ser Zé.

Me despedi de um Hélio resmungão por não poder me acompanhar, mas o médico foi bem claro, ele deveria evitar aglomerações e fortes emoções um tempo, para que seu cérebro volte a se adaptar com o cotidiano e eu sabia que me acompanhar aconteceria exatamente o contrário.

Meu Vizinho BombeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora