Capítulo 5

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Sentando na poltrona em frente Vengeance solta um suspiro. Depois de alguns minutos ele se vira para Rout que está em pé olhando para a noite pela janela quando este começa a falar com sua voz rascada como a do felino de quem herdou suas características.

– Ela não teve medo de mim por minha aparência. Quando estávamos na Mercille alguns técnicos me chamavam de animal, aberração. Quando era filhote não entendia o que as palavras significavam, mas sabia pelos olhares de desprezo que não era coisa boa.

Eu passava a mão pelo rosto e notava algumas diferenças, mas só vi realmente o quanto era diferente muito tempo depois quando vi meu reflexo em um armário de metal que colocaram por acaso em uma das salas de teste. Eu me tornei forte, revidei as surras a cada oportunidade e tentei não me importar quando ouvia os insultos.

Quando nosso povo foi liberto ainda assim me senti deslocado. Ainda assim eu era diferente. Uma das guardas, no deserto, se assustou tanto quando me viu que desmaiou. Mesmo os de nosso povo tiveram receio em se aproximar de mim. Eu tive medo de não ter um lugar em que eu pudesse ficar, de que cumprissem a ameaça que sempre faziam. A de me exterminar por eu ser diferente, os técnicos da Mercille sempre diziam que eu fui um erro. Depois de liberto e com a Mercille desmontada que serventia eu teria? Então eu fui levado para onde outros que não deram muito certo, assim como eu, estavam e pela primeira vez eu me senti bem. Vir para cá foi um alivio porque aqui nenhum humano teria permissão para entrar e os de nossa espécie que não são considerados aberrações das aberrações também pouco viriam aqui. Eu não tenho ódio dos humanos Vengeance, mas não quero que eles se aproximem e façam-me sentir que não tenho valor por minha aparência.

Vengeance ouve o desabafo em silêncio e pela primeira vez entende que nem todos seus vizinhos da Zona Selvagem vieram parar ali por que estavam danificados por seu ódio pelo que os humanos lhes fizeram na Mercilli.

Ele também não era totalmente humano, mas suas características não eram tão evidentes como em alguns de seus companheiros. Rout apesar de ser um grande filho da mãe territorial não era um cara mau, em suas lutas nunca ficou com a impressão de que ele tinha intenção de lhe ferir mortalmente, parecia mais fazer isso para ter contato. Seu passatempo pelo que sabia era esculpir animais minúsculos em madeira o que requeria muita paciência, talento e inteligência para aprender sem ninguém lhe ensinar.

– Vengeance – Rout volta a lhe chamar – Pela manhã você deve levá-la para a Reserva e encontrar alguém que a ajude. Não é bom viver com medo. – Ele então se vira e vai para seu quarto.

Vengeance recosta a cabeça no encosto da poltrona fechando os olhos e dorme pensando no desabafo de Rout e em como iria ajudar a menina sem nem saber em que tipo de problemas ela estava metida. 

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