Capítulo 12

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NA ZONA SELVAGEM

Rout e a menina observam o espécie sem nome ainda com desconfiança depois que Vengeance some por entre as árvores. O espécie sem nome continua a andar de um lado para o outro, inquieto.

– Vamos entrar agora. – Rout lhe informa andando de costas para a entrada da cabana com a pequena no colo. – Você fica aqui fora!

O espécie sem nome para de andar e os olha. – Não vou atacá-la, mas também não quero ficar muito perto dela. O odor do humano nela me deixa zangado.

– Muito bem. – Rout coloca a menina no chão lhe segurando a mão e a leva para dentro. Ela entra e senta à mesa lhe olhando com esperança no olhar.

Ele sorri. – Está com fome, néh? – Ela balança a cabeça confirmando. – Ok! Vou fazer um café da manhã para você. – Ela olha pela janela e aponta para o macho lá fora. Ele olha na direção que ela está apontando e franze os lábios. – Ahh! Quer eu leve comida pra ele também? – Ela faz que sim. Ele rola os olhos – Tem certeza? – Ela dá um sorriso que não chega a alcançar os olhos e balança a cabeça em concordância. – Tudo bem!! Vou levar alguma comida pra ele também. – A menina lhe dá um sorriso de aprovação que o deixa feliz.

Rout deixa a menina tomando o café da manhã e leva a comida até o espécie. Ele o encontra sentado, encostado na parede da casa perto da escada. – A pequena humana achou que você estaria com fome.

O espécie sem nome lhe olha, seus olhos são vazios de esperança. Rout lhe entrega a comida e senta nas escadas olhando em direção a mata. Sempre lhe encantava o quanto tudo parecia em harmonia. Mesmo quando dentro dele ocorria uma tempestade a paz naquele lugar lhe dizia que tudo ficaria bem. – Você não parece feliz, mesmo não estando mais preso. – Observa para o espécie sem nome.

O espécie fica em silêncio observando a comida. Parecia que não daria atenção a Rout até que com um suspiro começa a falar.

– Eu nasci junto com outro. – Ele inicia, depois de mais alguns minutos em silêncio ainda olhando para a comida.

– Por alguns anos fomos mantidos juntos. Ele era mais forte. Sempre foi – continua com um sorriso triste. – Muitas vezes ele se pôs em evidência para me proteger. Eles faziam testes comigo para ver a reação nele, ou vice e versa. – A voz do macho estava embargada.

– Mas um dia quando ficamos um pouco mais velhos ele não voltou mais... – Engole em seco, a voz saindo dolorida – Era a minha vez de passar pelos testes, mas eu não tinha me recuperado muito bem do último e eles o levaram no meu lugar... E ele não voltou mais...

A voz sai em um grunhido emocionado – Perguntei por ele durante dias. Mas a única resposta eram insultos e surras... Até que eu parei de perguntar. Sentir o cheiro do humano na menina trouxe tudo de volta. Foi ele quem o levou, era ele quem ordenava as surras se eu perguntasse sobre meu par. Eu tentava sentir o cheiro do meu par em qualquer um dos técnicos que nos faziam testes, mas nunca mais o senti...

O espécie sem nome bate a cabeça na parede e fecha os olhos para conter as lágrimas. – Quando fui liberto procurei por ele entre os nossos, mas jamais perguntei por ele a ninguém. Tinha vergonha, culpa... Era a minha vez de passar pelos testes!! Eles o levaram porque eu era fraco!! – O espécie desabafa olhando para Rout com os olhos embaçados por lágrimas e cheios de dor. – Tenho medo de saber o que aconteceu com ele e também tenho medo de nunca saber...

Rout desvia o olhar. Não sabia o que dizer. Cada um deles perdeu alguma coisa durante os anos de cativeiro. Desde um ser querido até a sanidade.

Os dois escutam o barulho de carro ao longe. Ambos se levantam se pondo em alerta até que vêem uma fêmea surgir pela trilha.

– Tudo bem, deve ser a fêmea que Vengeance mandou para ajudar a tomar conta da pequena humana. – Rout tranquiliza o outro.

Quando a fêmea se aproxima Rout vai ao encontro dela e explica a situação enquanto a acompanha para dentro da casa lhe dizendo onde encontrar a menina e permitindo ao outro espécie um tempo para se recompor.

Assim que Rout termina de esclarecer todos os detalhes, Breeze deixa a sala e sobe as escadas a fim de encontrar a pequena criança humana. Foi fácil encontrar o quarto onde ela se encontrava, bastou seguir o cheiro doce e suave do pequeno ser para Breeze, ao adentrar o quarto, logo visualizar a criança encolhida no canto da cama.

– Menininha linda? Posso te fazer companhia? – Breeze sussurra afim de não assustar a criança, sabia que sua aparência poderia ser motivo de estranheza ou mesmo medo para uma criança não acostumada com um espécie. – Meu nome é Breeze, não vou te fazer nenhum mal quero apenas cuidar de você, ser sua amiga. Posso ficar perto de você?

Breeze esperou ver medo no rosto da menina ao chegar mais perto, mas seus olhinhos apenas lhe olhavam com admiração, fazendo Breeze sentir um afeto inexplicável ao ver o sorriso da criança indicando que sua presença era bem vinda.

– Você é muito bonita, qual o seu nome? A criança desvia o olhar se fixando no chão enquanto encolhe seu corpinho, Breeze se senta no chão notando a mudança repentina da menina.

– Tudo bem, você não precisa me dizer se não quiser, mas vou te chamar de Linda, porque você é uma garotinha muito bonita.

Breeze se ajeita no chão esticando suas pernas e retirando seu celular do bolso de trás da calça a fim de colocá-lo no bolso da jaqueta. Estava prestes a fazê-lo, quando sente pequenas mãozinhas lhe tocando tentando pegar o celular.

– Você esta querendo brincar com meu celular, Linda? – Breeze estende seu celular para a menina na tentativa de ganhar a confiança da pequena. – Que tal a gente se sentar na cama para que eu possa te mostrar umas coisas bem legais que aprendi a fazer com este celular hein?

A menina se levanta em silêncio e sobe para cama com os olhos presos na tela do celular, enquanto Breeze se coloca a sua frente prestando atenção nos pequenos dedinhos da menina se movimentarem sobre as teclas do celular. Se surpreendendo quando a menina lhe estende o aparelho indicando o que havia feito, Breeze sorri ao ler que garota havia escrito que ela era a mulher mais bonita e grande que já tinha visto. – Obrigada minha linda, meu tamanho é realmente grande, vou te contar um segredo.

Breeze se inclina até ao ouvido da garota sussurrando. – É que sou metade mulher e metade canino. 

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