Capítulo 14

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O INÍCIO

Alissa trabalhava em um café. Trabalhava apressada. Cada instante livre lhe era precioso, pois poderia usá-lo para estudar um pouco. Seus pais infelizmente já haviam falecido e precisava trabalhar para pagar o que sua bolsa de estudo não cobria. Também não podia se dar ao luxo de tirar notas baixas ou a bolsa seria cancelada.

Numa manhã meio chuvosa um cliente entra retirando o casaco e chamando sua atenção. Era um homem muito bonito. Ele veio até o balcão e pediu um café puro. Alissa lhe serviu, logo voltado sua atenção para o que precisava estudar. O homem lhe deixou uma boa gorjeta com um bilhete. "Obrigado pelo café. Você é muito bonita". A letra era elegante e o gesto deixou Alissa impressionada.

Depois de vários dias ele reapareceu e dessa vez lhe chamou para um passeio. Seu nome era forte, "Coronaro". Ele era muito inteligente e havia acabado de conseguir uma promoção muito boa em seu emprego, ele lhe relata que começou muito jovem naquela empresa e que esperou bastante tempo por aquela oportunidade. Alissa aceitou esse e vários outros convites e assim o relacionamento dos dois foi se desenrolando até culminar em uma gravidez não planejada. Alissa ficou sem chão, afinal já estava quase terminando a faculdade e um bebê aquela altura não seria uma boa opção. Seu único alento era ter certeza que o pai do bebê aceitaria a gravidez, afinal ao longo de seu relacionamento ele demonstrou ser um homem responsável e muito carinhoso.

As coisas não andaram como Alissa tinha imaginado. Ela contou sobre a gravidez a Coronaro e ele surtou deixando-a muito assustada. O grau de raiva que ele externou a fez sair do apartamento tão rápido quanto pode. Alissa andou durante horas tentando entender o que havia ocorrido com o namorado amoroso. Ela voltou para o próprio apartamento e chorou por horas pensando no futuro. No dia seguinte precisou levantar cedo e voltar a trabalhar. Não podia mais se dar ao luxo de pensar apenas nela.

Coronaro sumiu por vários dias, até que numa manhã quando Alissa estava terminando de limpar as mesas, uma rosa é posta a sua frente com um bilhete onde apenas a palavra "Desculpe" estava escrita com a letra elegante que tão bem conhecia. Alissa levanta o olhar e se depara com o pai do bebê. Ele parece arrependido e ela simplesmente o abraça chorando em seu ombro. Ele a acalenta e lhe pede mais desculpas. O dono do café lhe dá o dia de folga. Coronaro a leva até seu apartamento, volta a lhe pedir desculpas por ter feito aquela cena e lhe diz que estava sofrendo forte pressão em seu trabalho por isso reagiu tão mal a notícia do bebê. Ele a pede em casamento. Alissa é claro aceita.

Quando já estava no quarto mês de gravidez Alissa, ao voltar para casa depois de umas compras para o bebê, vê caixas de mudança no corredor de seu andar. Ao passar pela porta do apartamento vizinho uma loura muito bonita aparece saindo pela porta para pegar uma das caixas, ela lhe sorri e a cumprimenta amigável. Seu nome é Caroline Torn. As duas passam a ser amigas. Caroline passa a ser presença constante na vida do casal e uma confidente de Alissa apesar de terem personalidades bem diferentes.

Coronaro nunca falou realmente sobre seu trabalho, sempre que Alissa perguntava, ele lhe contava alguma bobagem e depois desconversava. Alissa sabia apenas que ele trabalhava para uma indústria farmacêutica porque ele passou a lhe dar injeções periódicas e dizia que eram vitaminas para que o bebê nascesse saudável. Se Alissa o questionava ele sorria e dizia que sabia o que estava fazendo e lhe desviava atenção com carinhos apaixonados.

Coronaro nunca mais demonstrou qualquer acesso de raiva até que nasceu uma linda, mas frágil menininha. – Não era para ser assim!! – Ele esbravejou quando já estavam em casa com o neném. – As injeções deviam ter me garantido um filho saudável!!

Caroline, adorável e boa Caroline, o acalmou com palavras sensatas e Alissa passou a confiar ainda mais nela.

A vida transcorre como uma linda fantasia até que a neném, agora com um aninho, tem uma forte e inesperada convulsão. Alissa se desespera e quer levá-la ao hospital, mas Caroline não deixa e diz que o melhor é chamar Coronaro, este chega rapidamente e aplica alguma coisa na menina que começa a voltar ao normal.

As coisas começam a ficar muito estranhas. Cada erro da pequena Ann Lien no mais simples montar de um brinquedo passa a desencadear acessos de raiva em Coronaro. Isso vai deixando Alissa cada vez mais preocupada, afinal Ann Lien era apenas um bebê ainda.

Numa noite Alissa tentou perguntar o que estava se passando para saber se podia ajudar, mas isso desencadeou um novo surto de raiva. Coronaro lhe respondeu com uma bofetada, Ann Lien, sua linda filhinha, gritou de susto e recebeu um safanão para que ficasse quieta. Alissa correu e a pegou no colo afastando-a do pai, a menininha se agarrou a mãe e as duas se trancaram no quarto. No dia seguinte Coronaro lhe pediu perdão, Alissa mesmo assustada decidiu perdoá-lo novamente com a ilusão de que era pelo bem de sua pequena família.

Alissa percebe algumas mudanças mais acentuadas em sua filhinha. Ela já não sorri mais tanto quanto antes, dores de cabeça se tornam freqüentes e ela estava apresentando um comportamento mais independente embora parecesse não querer que eles notassem, fazia coisas que lhe deixavam perplexa pelo grau de dificuldade, mas nunca na frente do pai. Alissa nota algumas perfurações de vacinas na pele da menina e quando confronta Coronaro este apenas diz que eram medicamentos para aliviar as dores de cabeça. Caroline também lhe tranqüiliza, assegurando que aquele comportamento era normal no desenvolvimento infantil e que a pequena estava apenas reagindo ao estimulo cognitivo que tinha do pai e da mãe aos quais ela considerava ter um QI bem acima da média. Alissa apesar de preocupada acredita na amiga, afinal ela trabalhava como psicóloga infantil. 

Durante algum tempo tudo volta ao normal até o dia em que Alissa entra na sala ao escutar os gritos de Coronaro e o pega sacudindo Ann Lien como uma boneca de trapos. Alissa não entende o que está acontecendo, mas se aproxima e tira a filha das mãos do pai, se encolhendo de dor ao receber uma pancada destinada a Ann Lien. Ele a agride novamente e a agarra empurrando-as para dentro do quarto, trancando-as depois de dizer que voltaria para cuidar das duas. Aquilo pareceu uma ameaça macabra. Alissa depois de dois dias presa com Ann Lien e sem comida, finalmente consegue destravar a porta e decide fugir com sua filhinha. Caroline não poderia ajudá-las, pois havia viajado a trabalho. Junto com ela, Alissa leva uma pasta na qual sabia que Coronaro guardava uma boa quantia em dinheiro. Vários meses depois Alissa abre o zíper lateral e descobre que ali há, além de mais dinheiro, alguns documentos e um caderno de capa preta. Ela abre o caderno e chora ao ler as atrocidades que Coronaro fez a tantas outras crianças e o que ele planejava fazer à própria filha. Ele nunca as quis realmente.  

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