3 - Um dia comum

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Na noite de sábado, ainda na primeira semana de aula, Eva chegou ao seu dormitório, e jogou-se na pequena cama de lençóis claros. Estava exausta, os sábados eram dedicados aos lazeres dos nefilins no colégio, e isso incluía esportes, aos quais ela não estava acostumada, tão pouco gostava. Depois de uma longa e cansativa partida de vôlei, onde acabou por receber vários elogios, bem como um novo apelido: cone, ela se sentia feliz por estar sozinha no quarto, e agradeceu mentalmente por não possuir uma companheira de quarto, pois certamente seria alguém com quem não poderia sequer conversar.

— Pois é, Snow, somos só você e eu.

De repente, um bichinho comprido apareceu ao seu lado. Eva observou a pelagem branca do pequeno furão, que a encarava com curiosidade, ela o pegou no colo, e iniciou um ritual de carícias no animalzinho.

— Você nunca me deixa sozinha... ainda bem que a mamãe me deixou ter você, ou eu...

Ela respirou fundo, ciente de que seria uma ano difícil, mas seus pais a colocaram naquela escola por um motivo, esperavam algo grande dela, e a nefilim não queria decepcioná-los.

Um pouco distante dali, Diana observava o jardim abaixo da janela de seu dormitório, curiosa. Seu olhar estava fixo em Davi, o amigo de seu irmão, por quem mantinha uma paixão secreta há alguns meses, o rapaz conversava com Sophia, e parecia bastante animado.

— Vai ficar aí a noite toda? — Laura a despertou de seus pensamentos.

Diana se voltou para a amiga, que após um banho quente, preparava-se para dormir na beliche que dividiam. Ela a encarava com preocupação.

— Só estou olhando o céu. — Diana se defendeu, observando o garoto uma última vez, então foi para a cama de baixo, e ajeitou-se também.

— Não tente mentir para mim... você anda meio obcecada por ele, mas sabe...

— Ah, Laura, não comece com aquele papo de quando for a hora certa, e blá, blá, blá...

Antes que pudesse terminar, ela viu a amiga ficar de ponta cabeça ao lado da própria cama, de modo que seus cachos caíram como uma cascata atrás de si. Sua expressão era séria.

— Diana, escuta... Davi não é cego, você já mostrou a ele de várias maneiras o que sente, e o cara simplesmente...

— Eu sei.

Laura suavizou um pouco seu semblante.

— Não, você não sabe. Se ele parece não dar a mínima... ele realmente não dá a mínima, Diana.

— É bem fácil falar quando se está com quem gosta.

Laura pensou em Miguel, e no quanto havia sido simples para ambos ficarem juntos, por conta de toda a afinidade e amizade que nutriram um pelo outro, desde o início do ano anterior. E sim, ela também pensou que poderia não entender o que a amiga sentia, e que talvez estivesse sendo um pouco rude, mas entendia que Davi não sentia absolutamente nada por Diana.

— Eu sei que não posso entender, mas... tente parar de impressioná-lo, faça as coisas por você, e não... — Ela observou os cabelos castanhos e sedosos da amiga, assim como suas unhas bem feitas, sabia que ela nunca fora tão vaidosa antes de conhecer Davi, mas não podia culpá-la.

— Eu entendo o que você quer dizer, Laura, mas está tudo bem, um dia eu vou conquistá-lo... você vai ver. — Diana sorriu, então virou-se para o lado, encarando a parede verde do dormitório. — Boa noite.

Laura tornou a se deitar em sua cama, ainda preocupada com a nefilim abaixo dela, ciente de que Diana era uma otimista apaixonada, e que aquilo poderia machucá-la seriamente um dia.

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