Descendentes

14 - Pássaro na gaiola

Kan andou rapidamente até a enfermaria, e com cuidado, colocou Diana sobre uma das pequenas camas que havia no recinto. Imediatamente, desabotoou a camiseta cinza que a garota usava, de modo que sua pele clara ficou à mostra, e entre os seios, uma mancha escura se formara ali.

Essa nefilim... Sophia... ela tem técnicas letais...

Sem rodeios, o anjo colocou a palma da mão sobre a mancha, concentrando o máximo de energia possível em seus dedos. Observou que a respiração dela estava cada vez mais fraca, de modo que chegou mesmo a pensar que já era tarde demais. Após um longo suspiro, ele franze o cenho, concentrando-se ainda mais, a fim de passar a energia de seu poder através do corpo dela. Pensou que se sua irmã soubesse controlar seus dons, poderia ajudá-lo, mas infelizmente, esse não era o caso. Pressionando as pontas dos dedos frios sobre a mancha, criou pequenas linhas arroxeadas ali, como veias, que transpassaram a pele macia da nefilim, e rapidamente tornaram seus batimentos um pouco mais ativos, assim como sua respiração.

Isso é... realmente exaustivo...

Quando o inspetor se certificou de que a nefilim ficaria bem, sentou-se na cadeira que havia ao lado da cama, um pouco tonto. Utilizar técnicas de cura certamente era muito cansativo. Seus olhos desviaram das cortinas de tecido fino do pequeno cômodo, para a garota deitada sobre a cama. Gentilmente, ele a cobriu até acima dos seios com um lençol claro, deixando seus braços sobre o mesmo. Foi então que notou os arranhões, bem como um hematoma em seu rosto. Antes que pudesse pensar no que estava fazendo, levou a mão até sua bochecha, acariciando a pequena mancha arroxeada que se formara ali. Retirou a mão no exato momento em que Diana abriu os olhos, ainda que com dificuldade.

— Hum... — Resmungou. — O que...?

Ela se levantou com cuidado, de modo que o lençol que Kan havia lhe colocado, caiu. Quando a nefilim finalmente percebeu que estava vestia apenas a parte superior de uma lingerie, corou violentamente - o que só pirou ao notar o inspetor ao seu lado. Kan desviou o olhar enquanto ela se cobria de um modo desajeitado outra vez.

— Não haja como se tivesse algo atraente aí. — Desdenhou ele, com um ar indiferente.

— Urso Estúpido! — Retrucou ela, irritada, então sentiu seu peito doer. — Ai... droga...

Deixando o xingamento infantil de lado, Kan lhe disse que era melhor tornar a se deitar, pois deveria ficar em repouso por pelo menos três dias. Aos poucos, Diana se recordou do que havia acontecido.

— O que houve? — Indagou ele, notando seu semblante enraivecido mudar para algo mais abatido.

Ela apertou o lençol que a envolvia.

— Eu disse que não perderia, prometi que me esforçaria para vencer... — Contou. — Mas eu perdi... de novo.

O anjo, agora recostado na parede cuja tinta lhe lembrava o céu da manhã, desviou o olhar para fora do cômodo, e através da janela pôde observar um pequeno pássaro sobre a grama, então o viu voar em direção ao manto claro que se estendia sobre eles, indomável. Para Kan, aquela pequena e desajeitada nefilim era como um pássaro cujas grades impediam de voar, acreditava que havia algo forte que a prendia, talvez alguém por quem se importava a ponto de não conseguir ser ela mesma, ou como desejava ser. No entanto, lembrou-se dos seus movimentos nada elegantes de durante a luta, e de como ela lhe pareceu um pequeno filhote antes da mesma se iniciar, um pouco insegura, talvez até com medo. No entanto, desajeitada ou não, era visível o esforço que depositara em cada pequeno golpe que cometeu.

— Não importa se perdeu.

— Claro que importa... como você mesmo disse, sou uma incompetente. — Contrapôs. — Mas Sophia lutava tão bem, quase como Laura... fiquei realmente impressionada.

— Sim, movimentos elegantes e sensatos.

— Tudo bem, pode dizer que eu fiz uma luta horrível... que mal sei onde estou acertan...

— Não. — Kan a interrompeu, ainda com o rosto colado à janela e os braços cruzados, aparentando indiferença.

Foi lindo. Aquele olhar intenso, de quando começou a ganhar e sentiu um pouco mais de confiança em si mesma... foi lindo.

Pensou, mas decidiu que seria melhor manter sua opinião em sigilo.

— Não... o quê? — Questionou ela, curiosa.

— Luta horrível? — Ele finalmente a encarou, e lhe deu um olhar de desdém. — Como pode considerar aquilo uma luta?

Quando Diana estava prestes a xingá-lo novamente, deu-se conta de algo importante: ela a tinha salvado. Recordou-se de ter caído, e de como foi segurada por ele antes de se chocar contra o chão, lembrou-se de que ele não estava tão próximo do centro do campo quando a mesma fora ferida, e ainda assim, chegou a tempo para ajudá-la. Pensou que, só talvez, por baixo daquela camada de indiferença, havia algo gentil para mostrar.

— Obrigada. — Murmurou, de repente.

Os olhos dourados de Kan aumentaram de tamanho nesse momento, afinal, por tê-la xingado, receber um agradecimento não lhe era esperado. Observou a expressão dela se intensificar, indicando que não gostara da ideia de ter de agradecê-lo, e sem resistir, o anjo decidiu provocá-la um pouco mais.

— Ah, entendo... — Murmurou, com os olhos fechados e uma expressão amena. — Então, até a mais irritante criança sabe agradecer.

Diana arremessou um travesseiro nele, e eficientemente, Kan o pegou no ar, logo jogando-o de volta para ela, acertando seu rosto em cheio.

— Quem é a criança mesmo, Urso Estúpido?! — Ela exclamou, com o sangue fervendo.

Para sua surpresa, notou um sorriso nos lábios do anjo, que achou graça da situação, pensando que, para ela, ser mais infantil do aquilo era simplesmente impossível. Observou as bochechas vermelhas e os olhos vivos dela.

Que bela expressão você está fazendo. Pensou, então decidiu que a acompanharia um pouco mais, curioso para conhecer novos lados da pequena barulhenta.

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Pequeno vídeo com artes que me lembram o Kan ♥

* Coloquem a qualidade em HD.