Descendentes

44 - Brincadeira maldita

— Nossa... isso é interessante — murmurou Roberta, encarando a página amarelada do livro que estava folheando há um tempo.

Fazia pouco mais de uma semana desde o conflito que havia acontecido na Angelus, a biblioteca, agora reaberta, estava quase completamente organizada. Não havia mais estantes caídas, os livros haviam sido recolocados em seus devidos lugares. Os nefilins encontrados cruelmente assassinados ali, já velados e cremados, como todos os outros que se perderam naquele dia... então por que razão algo a incomodava ali, embora fosse seu lugar preferido do colégio?

Ela desviou o olhar para o chão do local, extremamente limpo, como se nada tivesse acontecido ali. Algo parecia errado. Eros confirmara a todos que Enoque havia se declarado O Corvo, e que o derrotara, mas...

Por que foi tão fácil?

Não era como se a ideia a desagradasse, estava feliz pelo amigo e Eva terem se livrado dele sem maiores ferimentos, no entanto, não sabia como alguém que passara anos planejando aquilo, inclusive fora quem intimidara seus pais... como pôde ter sido derrotado tão facilmente?

Com um suspiro, Roberta fechou o livro e começou a recolher suas anotações, até que o som de passos chega ao seus ouvidos. Ela observa o local, mas havia apenas a luz do pequena abajur em sua mesa, estava ali desde às quatro da tarde, nem notou a hora passar, logo, não se deu ao trabalho de acender as luzes.

Mas havia alguém se aproximando.

— Diana, é você? — indagou, mas não obteve resposta. — Nicolas?

O pânico invadiu seu coração, de forma que a garota imediatamente tomou uma posição ofensiva, esperando por qualquer coisa.

— Uma expressão tão bonita e violenta assim não vai me fazer voltar, sabe? — ouviu uma voz masculina, que não conseguiu reconhecer.

Nesse instante, um par de olhos distintos surgiu à sua frente.

— Você...? — murmurou ela, lembrando-se do homem que a salvara no dia da batalha.

— Olá — Dante estendeu a mão para pegar uma folha sobre a mesa. — Assustei você?

— Sim.

— Desculpe, meu passatempo é entrar em bibliotecas para assustar garotinhas — confessou o demônio, lembrando-se de já ter feito algo parecido com Susana, quando a conheceu, quando não ouviu uma resposta, encarou a moça à sua frente. — É brincadeira.

— Não tem graça.

Roberta começou a juntar novamente seus livros e anotações, inclusive a folha que ele lia tão despreocupadamente.

— Você... já vai?

— Já terminei o que vim fazer, então pode ficar com a biblioteca só para você. Ah, vou avisar às minhas amigas que tem um engraçadinho aqui dentro, então não vai conseguir assustar mais ninguém.

— Está mesmo tão brava por algo assim?

Com o comentário, ela percebeu que talvez estivesse exagerando. Ou talvez estivesse descontando sua raiva nele, sua raiva por não se contentar com o que tinha: Enoque, o Corvo, estavam mortos. Por que não podia se satisfazer com isso, como todo mundo?

— Talvez eu tenha exagerado, mas você me assustou de verdade, pensei que fosse... — balançou negativamente a cabeça, com um sorriso fraco.

— Eu sei quem pensou que fosse, mas ele está...

— Morto, eu sei. Pode me chamar de paranoica, mas... não consigo deitar na cama e fechar os olhos tranquilamente, é como se a qualquer hora ele pudesse aparecer e acabar comigo ou com um dos meus amigos, de novo. Quando penso no que ele fez com Laura, com Eros... até com Davi, não consigo... deixar de ter medo.