26 - O coração não mente

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Quando Eros retornou à escola junto de Max, que fora buscá-lo, foi recebido por alguns estudantes logo na entrada, entre eles, Diana, que rapidamente correu até o irmão, abraçando-o fortemente.

— Diana... — Sussurrou o garoto, enterrando o rosto nos cabelos castanhos dela. — Eu sinto muito, sinto muito mesmo...

— A culpa não foi sua, Eros.

Heloíse e Juliana assistiam à cena com seus corações partidos. Eros imediatamente percebeu que Miguel não estava ali, também pudera... podia imaginar como o amigo estava se sentindo. Na verdade, em seu interior, pairava o medo da rejeição, bem como um incômodo sentimento de culpa, que apenas foi aumentado graças a alguns olhares maldosos dirigidos a si.

— Parece estar tudo bem com ele... — Ouviu um nefilim sussurrar, o outro ao seu lado assentiu.

Os demais comentários intercalavam entre "Ele deve estar tão mal", ou então "Coitado, deve ter sido horrível", e "Por que ele não fez nada?", "Não é um pouco estranho que ele esteja bem?". Todos eles eram golpes diferentes de que Eros recebia em sua consciência. Se ele não havia feito nada? O que ele pudera fazer, visto que havia deixado Laura sozinha? Se ele se sentia mal? Não, estava péssimo, era demais para ele sequer encarar aquelas pessoas depois do que acontecera. Era demais ter de ver a expressão angústia no rosto de sua irmã, e certamente seria demais encarar Miguel.

Enquanto caminhava abraçada ao seu irmão, Diana vê Davi se aproximar, e imediatamente seus pensamentos a levam àquela noite. Com um olhar duro, ela se afasta de Eros, dando-lhe um beijo na bochecha, então o deixa conversar a sós com seu amigo, sem ser capaz de ficar perto dele. Enquanto caminhava para o prédio de seu dormitório, disposta a arrumar as coisas de Laura, uma vez que a família da moça buscaria na manhã seguinte, madeixas claras chamam sua atenção, e seu olhar paralisa num homem recostado à entrada do mesmo. Diana não estava em condições de falar com ninguém, de modo que simplesmente pediu mentalmente para que ele a deixasse passar sem interrogações como "Você está bem?" ou "Como está se sentindo?". Eram questões óbvias, então por que diabos as pessoas insistiram  em lhe perguntar isso o dia todo? Talvez elas fossem idiotas, ou talvez cruéis. No entanto, para a sua surpresa, ao passar ao lado de Kan, sente seu pulso ser segurado gentilmente, e em questão de segundos, estava dentro de um abraço quente e protetor.

O que está acontecendo? Pensou, com os olhos arregalados.

— Kan...? — Murmurou, com o rosto colado à camisa social dele. — O que você está fazendo?

— Não entenda mal... só estou sendo gentil.

— Mas...

— Não foi você quem pediu? — A voz dele soava baixa, mas firme.

Com um suspiro, Diana se lembrou de quando sugerira isso a ele.

— Pensei que eu não pudesse esperar isso de você... — Lembrou-o.

— É uma situação diferente... — Explicou, apoiando uma das mãos no topo de sua cabeça, incentivando-a a apoiá-la em seu peito. — Não precisa se segurar, sabe?

— Do que você está falando?

— Você está se segurando o dia inteiro na frente de todos eles... mas está tudo bem agora... Você não precisa ser forte perto de mim.

Como se as palavras de Kan tivessem uma espécie de poder, as lágrimas que a nefilim havia se esforçado para impedir desde a manhã, depois de seu tempo com Miguel, vieram num rompante, junto à dor e agonia de saber que entraria naquele quarto, e Laura não estaria lá. Ela não estaria lá nunca mais. Diana agarrou a camisa dele com as mãos, como se apertar aquele fino tecido aliviasse um pouco o peso em sua mente, e deixou seu choro fluir livremente. Não havia mesmo motivo para continuar fingindo não estar completamente arrasada, quando quem estava à sua frente não eram nefilins curiosos dispostos a tudo para se enturmar, não quando quem estava ali era ele.

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