"Então seus pais foram demitidos?", ela perguntou do outro lado da linha.
"É...", foi tudo que consegui dizer, era difícil pensar ou sequer aceitar isso.
"E como soube?", ela perguntou e franzi as sobrancelhas.
"Como assim? Você já sabia?!", perguntei com vontade de gritar essa pergunta no telefone, mas eu não podia, não queria que meus pais soubessem.
"Não! É só que... Deve ser difícil para os pais dizerem algo assim para os filhos...", ela explicou-se e soltei um suspiro triste.
"E é... Tanto que eles nem me contaram ainda...", admiti passando a mão que não segurava o celular pelos cabelos.
"Como assim?", ela perguntou desentendida.
"Eles não me contaram! Eu que descobri escutando uma conversa deles e agora estou pensando em como nossa vida pode piorar...", desabafei.
"Que horror, Marco! Sei de muitas coisas ruins que poderiam estar acontecendo, mas felizmente não estão, então não diga isso novamente!", ela exclamou pelo telefone.
"Tá bom, tá bom. Mas e agora?!", exclamei procurando conforto pelo quarto. "Eles já não tinham o melhor salário do mundo e agora nem salário tem!", eu disse um pouco estressado.
"Calma, Marco. Tenho certeza que tudo vai se resolver... Só... Dê um tempo para isso.", ela respondeu em uma tentativa falha de me acalmar.
"Mas e se o tempo for mais do que o esperado? Não quero que meus pais cheguem a ponto de me mandar morar com algum parente.", eu informei preocupado com essa possibilidade.
"Marco... Olha... Eu sei que é difícil, mas você e seus pais vão dar a volta por cima de algum jeito. Eu sei que vão, é só esperar.", ela discursou carinhosa.
"Mas... Eu não quero só ficar esperando a solução chegar até nós.", admiti soltando um suspiro cansado.
"E que outra opção você tem?", ela perguntou, parecia estar brava...
"Ah... Eu poderia arranjar um emprego...", respondi sem-graça enquanto coçava a nuca e ela riu.
"Mas você tem catorze anos, que emprego pode arranjar?", ela perguntou achando graça da minha ideia maluca.
"Não sei... Posso fazer coisas simples...", eu murmurei envergonhado.
"Como vender limonada?", ela perguntou soltando uma risada alta da qual não gostei.
"Isso é sério!!!", exclamei bravo e ela finalmente parou de rir.
"Desculpa... Eu sei que só quer ajudar seus pais, Marco, mas seja sincero consigo mesmo, o que dá para você fazer?", ela perguntou e eu baixei o olhar.
"Pequenas coisas como passear com os cachorros dos outros... Fazer tarefas domiciliares de outras pessoas em troca de dinheiro... Ou até... Vender minhas coisas e tal...", eu comentei baixinho, sei que meus pais não gostariam de nenhuma dessas ideias, muito menos da última.
"Mas Marco...", ela começou e eu sabia que tentaria me convencer a mudar de ideia.
"Tem alguma ideia melhor?", perguntei e um imenso silêncio surgiu entre nós, que logo foi quebrado por um suspiro triste e vencido.
"Não... Eu só... Não quero que você fique muito prejudicado com isso, sabe?", ela disse e eu me levantei da cama.
"Eu sei... Mas se eu não fizer absolutamente nada é que sairei prejudicado.", expliquei saindo pela porta da frente de casa.
"Entendo...", ela disse desanimada.
"... Obrigado, Jackie. Eu te amo.", eu disse em uma tentativa de levantar seu ânimo.
"Boa sorte no trabalho, Marco... Também te amo.", ela disse e desligou.
A partir daí comecei a pensar em como faria isso, vender minhas coisas seria algo fácil, mas meus pais perceberiam rápido e se sentiriam piores, não posso deixar que isso aconteça. Mas... Passear com os cães dos outros...
Eu não fazia ideia de como começar, eu não podia só tocar de campainha em campainha perguntando se a pessoa tem um cachorro e quer que eu passeie com ele, seria ridículo!
Bom... Eu posso fazer folhetos e espalhar pela cidade... Seria um começo... Não é?
Solto mais um suspiro enquanto entro na praça, tenho que pensar em algo para ajudar meus pais... Tenho que pensar em algo... POR QUE É TÃO DIFÍCIL?!
Olho em volta procurando conforto, eu precisava me acalmar urgentemente, senão eu iria acabar enlouquecendo, entrando em depressão e me matando, o que pioraria o emocional dos meus pais.
Será que sou um bom filho para eles? Eu... Não ajudo em nada... Quero prestar para algo e não só ser um mala sem alça para os outros.
Saio da praça e volto para casa onde faço um folheto em meu computador.
Faço algo bem chamativo, com um fundo vermelho e um amarelo-alaranjado com letras pretas, grandes e bem decoradas.
"Adolescente Multitarefas
De segunda á sexta a partir de 13h00 até as 22h00 e em fins de semana a partir de 10h00 até as 22h00, Marco Diaz estará ao seu dispor.
Caso esteja interessado ligue para 9898-555
(O pagamento deverá ser feito em dinheiro, considerando a quantidade e tipos de tarefas executadas)"
Não ficou muito bom, mas considerando a situação em que estou e preciso ajudar de alguma forma com urgência... Isso vai servir por enquanto.
Imprimo um único folheto e vou para a loja de cópias, sei que isso vai custar dinheiro e que seria mais fácil imprimir eu mesmo, mas lá eles fazem com mais qualidade e preciso do maior número de cópias possível.
A caminho da loja de cópias eu noto que as ruas estão praticamente totalmente ocupadas por folhetos que passivamente tem o mesmo objetivo que o meu, ou seja, a chance de obter um bom dinheiro é minúscula, mas todo o esforço vale a pena.
Paro em frente á entrada que mais possuía folhetos grudados, e procuro a maçaneta em meio há todo àquele papel na porta de vidro.
Mas o que encontro é mais interessante.
"Isso... É muito mais que o necessário!", exclamo feliz e esqueço a ideia das tarefas domiciliares.
Aquilo renderia muito mais! E seria fácil, fácil! Eu praticamente seria pago sem fazer nada! Que maravilha!
Não sei do que outras pessoas chamariam, sorte, mentira, acaso, mas eu chamo de apenas uma coisa: destino.
E não vou deixar essa mensagem do meu destino no lado obscuro da minha mente onde as coisas são esquecidas, ah, mas não mesmo.
Continua...
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For Your Eyes
FanficMarco Diaz é um garoto de catorze anos que agora está enfrentando um pequeno problema: a pobreza; para sua infelicidade, seus pais foram despedidos ao mesmo tempo e agora estão vivendo das economias, mas fora isso sua vida é ótima! Tem bons amigos...