☾ Capítulo 1 ☽

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"Como assim você vai orientar alguém cego?!", Jackie pergunta preocupada pelo telefone.

"Eu encontrei um panfleto que oferece vinte e cinco mil reais por mês Jackie! E tudo o que tenho que fazer é orientar uma garota cega! Fazê-la se sentir bem com o mundo e essas coisas. Além de ser uma ótima oportunidade para sair da minha situação é uma grande experiência tanto para mim quanto para ela, não é?!", exclamei feliz, isso está até parecendo um sonho, ganhar vinte e cinco mil para ajudar alguém...

"Sim Marco, mas... Não acha que será bem mais complicado?", ela perguntou e franzi as sobrancelhas.

"Por quê?", perguntei.

"Marco, você e seus pais já estão com dificuldade para comprar os suprimentos para vocês, quando ela chegar vai dificultar mais ainda! Sem contar que lidar com pessoas cegas não é tão fácil quanto você imagina...", ela explicou e senti seu desespero.

"Jackie... Fique calma... Vai ficar tudo bem... Apenas no primeiro mês será um pouco mais complicado, mas isso passa rápido! Ela ficará apenas seis meses comigo e se não der resultado voltará para casa e procurará outro orientador. Simples.", tentei acalma-la sem muito sucesso.

"Não Marco, não é tão simples. Você realmente leu o panfleto? Leia mais uma vez em voz alta por favor.", ela pediu já perdendo a paciência e revirei os olhos.

"Casal de monarcas precisam de orientador para sua filha cega de catorze anos para que ela aprenda a lidar com situações sozinhas e liderar um reino dentro de suas condições. Interessados liguem ao número: 02 87 57432-3401 pagamento: R$25 000,00 em ouro e joias.", li demonstrando o tédio e falta de vontade em minha voz.

"Percebeu a gravidade da situação agora?", ela perguntou, cada vez mais histérica e impaciente.

"Pensei que fosse perguntar: 'Percebeu o quão falso isso soa?'.", eu retruquei com tédio na voz.

"Você está sendo muito egoísta e irresponsável, e você não é assim.", ela comentou tentando me dar uma lição de moral.

"E você está sendo muito histérica, coisa que você nunca é.", retruquei mais uma vez, dando ênfase na penúltima palvra.

"Para você ter noção da situação.", ela disse mostrando cada vez mais o quão surtada estava com sua voz.

"Jackie eu vou ficar bem, não se preocupe.", tentei acalma-la.

"Não é bem com isso que me preocupo.", ela comentou baixo, de forma que eu mal escutei.

"Conversamos depois, certo? Há esta hora ela já deve ter chegado em casa.", comentei.

Antes que ela respondesse, desliguei o celular, vou dar um tempo para que ela se acalme e depois conversaremos, afinal, eu já liguei para o número do panfleto mesmo, já fui contratado mesmo.

Como diz a música "Too Little Too Late"... Mas é só isso da música que vale para a situação.

Paro em frente o quintal da minha casa e caminho lentamente até a porta.

"Calma Marco, ela é uma garota cega de catorze anos, não deve ser tão ruim...", eu disse pondo a mão na maçaneta e desviando o olhar, estava apreensivo. "Ela deve ser sensível, tímida e insegura... Deve precisar desabafar e pronto, a parte mais dificil será superada... Não é.", perguntei a mim mesmo, fitando a maçaneta. "É.", eu disse forçando um sorriso e finalmente abrindo a porta.

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