Livro 4. Capítulo 2. Pesadelo: Não poderia ser pior

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Isabelle embarcou para Miami em uma sexta-feira, no final do mês de março, deixando para trás familiares, amigos, e carregando a esperança de dias melhores. Aprenderia a ser mais independente, cuidaria de sua própria vida, realizando o sonho de estudar nos Estados Unidos. Desta vez, ela não deixaria que nada nem ninguém a impedisse de conquistar seu objetivo. Para frente é que se anda, garota, seu futuro será brilhante. Ela disse para si mesma, um pouco antes de entrar no avião.

Seu desembarque, cerca de nove horas depois, ocorreu sem problemas. Do aeroporto ela pegou um taxi diretamente para a escola de línguas, localizada na praia de South Beach, em Miami Beach. Resolveria de cara algumas pendências e pegaria as informações sobre sua hospedagem. Isabelle optara por passar os quatro meses no alojamento da escola. Seria melhor conviver com outros alunos a correr o risco de ser alocada com pessoas mais velhas e chatas, o que poderia ter ocorrido, caso tivesse optado por acomodação em casa de família.

Na quase meia hora em que passou no taxi, do aeroporto até a escola de idiomas, Isabelle acompanhou o despertar da cidade, prestando atenção às pessoas, aos prédios e principalmente ao cheiro do mar. O sol, ainda tímido, indicava que seria um lindo dia em Miami Beach, e tão logo ficasse livre dos compromissos relativos à sua estadia, correria para a praia em frente ao prédio. Lavar a alma e começar com o pé direito fazia parte do seu ritual de boas-vindas.

O edifício branco, de cinco andares, estilo Art Decó, não impressionava perto dos outros muito maiores do seu lado direito e lado esquerdo, mas era bonito e se destacava, especialmente pelo clima em seu interior. O andar térreo, bem iluminado, onde ficava a recepção, uma área de conveniência e computadores compartilhados, emanava alegria às 8 horas da manhã. Alguns alunos carregavam livros, outros pareciam ter o sábado livre, mas todos tinham um sorriso no rosto. Já gostei daqui.

Isabelle levou meia hora até preencher alguns papéis e finalizar detalhes de sua estadia e, em seguida, acompanhada de um monitor, dirigiu-se para a ala dos dormitórios.

— Estou em quarto duplo, certo? — Ela quis confirmar novamente, pois havia desembolsado um pouco mais para evitar as acomodações quádruplas. Bastava a obrigatoriedade de encarar os banheiros comunitários.

— Duplo. E sua companheira de quarto é muito querida por aqui — disse o monitor, parando em frente à porta 511. — Bom começo para você, Isabelle. Nós nos veremos por aí, e qualquer coisa é só ir até a recepção. Teremos o maior prazer em lhe atender.

Bem, lá vou eu! Isabelle deu batidinhas à porta, para que não incomodasse demais, caso sua nova companheira estivesse dormindo.

— Olá, seja bem-vinda! — A loira, alta e sorridente, abriu a porta estendendo-lhe a mão, muito bem disposta. — Sou April! Você é?...

— Isabelle. Acabei de chegar do Brasil — disse, apertando a mão da garota. — Rio de Janeiro, para ser mais exata.

— Oslo, Noruega. Entre, entre. — April escancarou a porta, ajudando Isabelle com suas duas malas. — Este é o nosso imenso quarto.

A ironia ficou óbvia na descrição do espaço de no máximo 4 metros quadrados com uma cama-beliche, um armário de duas portas e uma mesa para uso de laptop e refeições. Apesar de pequeno, era aconchegante.

— Está cansada, quer descansar? — A norueguesa continuou colocando em prática seu inglês, fazendo uma pergunta atrás da outra. — Ou você prefere se instalar aqui, trocar de roupa e circular por aí? Posso lhe mostrar as instalações, caso ninguém tenha feito isso. A piscina, a sala de jogos, o acesso à praia... O que você estiver a fim de fazer, eu topo. Quero ser a melhor anfitriã para a nova caloura.

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