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Playboy ficou me encarando por um longo tempo, sua feição que antes transmitia raiva, agora transmitia tranquilidade e quando eu achei que ele iria se afastar ou falar alguma coisa, ele me arrebentou, como sempre, sem fugir da rotina ele deu vários tapas na minha cara, me imprensou contra a parede e ficou me enforcando, quando já estava quase desmaiando por falta de ar, ele me soltou e eu cai de bunda no chão, sem se dar por satisfeito, ele começou a me chutar, eu tentava proteger minha barriga a cada chute que ele me dava. Por fim, ele tirou a .40 da cintura e mirou na minha testa, depois ele mirou na minha barriga e ficou um tempo com a arma apontada para a mesma, eu já estava prevendo a minha morte, e então, ele largou a arma e se sentou no chão, colocou as mãos na cabeça e começou a chorar, ele chorava que nem uma criança e eu não sabia o porque daquilo e nem sabia o que fazer. em 5 anos com Playboy, eu nunca vi ele chorar, ainda mais desse jeito.

Em meio aquelas lágrimas dele eu vi a minha chance de fugir, a minha chance de ser livre e foi isso que eu fiz, eu levantei com dificuldade e enquanto ele ainda chorava eu fui no quarto, peguei minha bolsa e uma pasta com todos os meus documentos que eu sempre deixei pronta pro dia que eu tivesse essa oportunidade. Sai de casa e desci o morro correndo, ouvi um soldado passando rádio pra ele, mas não sei se ele respondeu, não vi se algum soldado veio atrás de mim, eu não vi nada, eu só sai correndo sem olhar pra trás, querendo me livrar daquilo, querendo viver longe dele, longe daquele morro, longe de tudo.

Corri até um ponto de ônibus que tinha um pouco depois da entrada do morro, aproveitei que o ponto estava um pouco cheio e parei ali. Tinha sangue no meu nariz, boca e provavelmente tinha marcas pelo meu corpo, as pessoas que estavam ali me olhavam sem disfarçar, limpei meu rosto como consegui e peguei um ônibus que me deixava perto da Rocinha.

Respirei fundo e limpei minhas lágrimas pra subir o morro.

- De qual foi mina? Tá perdida? - perguntou um soldado

- Não..e..eu tô indo na casa da..Clara

- Que Clara? - perguntou

- Clara Loures, ela mora na rua 13 - falei

- A mina que menor tá pegando? - perguntou e eu assenti

Nem sei se é esse o menino.

O cara saiu de perto de mim e passou um rádio, logo depois ele voltou.

- Binho te leva lá, jae? - perguntou e apontou com a cabeça para o tal Binho

Assenti e subi na garupa do Binho, em minutos  já estava na porta da Clara, adentrei a mesma sem bater nem nada, Clara estava deitada no sofá se assustou e deu um pulo do sofá quando me viu.

- Caralho Melissa, quer me matar do coração porra - colocou a mão no peito - O que houve contigo?

- Amiga... - eu não conseguia parar de chorar, estava parecendo aquelas mulheres de filme de terror, toda desnorteada

- O que aconteceu? Por que você tá machucada? - perguntou me levando pra sentar no sofá

- Posso ficar aqui? - perguntei e ela assentiu

- É claro que você pode - ela me abraçou - Quer me contar o que aconteceu?

- O Playboy me bateu...me bateu porque eu to grávida - entrei em desespero

- Tu ta grávida? Como assim? Desde quando?

- Eu descobri hoje mesmo amiga

- Não acredito que ele fez isso! Você tá sentindo o que? Tá com dor?

- To com o corpo dolorido, mas só. Eu só quero tomar um banho e dormir um pouco, posso?

- Pode né, vai lá que eu vou levar uma roupa pra você

Tomei um banho quente, deitei na cama da Clara e apaguei.

A mulher do dono do morroOnde histórias criam vida. Descubra agora