A mulher do dono do morro

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Pra conseguir visitar o Thiago vou ter que enfrentar fila desde bem cedinho, até chegar la ja é uma 1,2 horas de viajem, vou ter que sair daqui de madrugada.

Fiz um bolo de cenoura com cobertura de chocolate que eu sei que ele ama, separei uns biscoitos, cortei uma maçã e coloquei em um pote junto com uva e morango e coloquei em uma sacola algumas coisas pra ele, tipo desodorante, pasta de dente e essas coisas

Me arrumei e 4h da manhã eu mandei mensagem pro menino que ia me levar. Deu tudo certo, se o menino me levou então ele não falou com o Menor e ninguém sabe.

O caminho todo foi tranquilo, cheguei no presídio era 5 e pouca, desci do carro e fui enfrentar a fila enorme, já é difícil ficar 5 horas em pé, grávida de 6 meses então, Deus que me livre.

10h foi quando eu consegui entrar, uma mulher me revistou, revistou tudo o que eu levei, cara amassaram o bolo todo que eu fiz pra ele, abriram todos os biscoitos, mexeram em tudo, me liberaram e me levaram até o pátio, eu ia ver ele lá.

Sentei em uma mesa e fiquei esperando ele aparecer, eu via as mulheres encontrando os maridos, as mães os filhos, me dói tanto o coração ver essas coisas papo reto. Não vejo a hora de ver ele, ele deve tá achando que é minha mãe que veio e vai me ver aqui, tô nervosa, parece que a primeira vez que vou ver ele.

Estava super distraída vendo uma mulher com a filha visitando o marido, dava pra ver a felicidade dele em ver a filha estampada no rosto, cena linda

Melissa? - ouvi a voz do Thiago, virei e ele me olhava super confuso

Levantei na mesma hora e abracei ele, eu precisava daquele abraço, precisava sentir ele depois de tanto tempo sem ver meu marido. Ele estava super diferente, estava mais magro, cara de abatido, mas continuava lindo

- O que que você tá fazendo aqui cara? - ele tá meio bolado

- Eu vim te ver Thiago, não adianta ficar puto não, eu já tô aqui então não tem mais o que fazer

- Eu falei pra você não vim cara, que mania feia de fazer tudo o que eu falo pra você não fazer

- Eu estava com saudades cara, eu não faço a mínima idéia de quanto tempo você vai ficar aqui dentro, eu precisava vim te ver pelo menos uma vez

- Suave

- Eu estava com tanta saudades - beijei ele

- Eu também estava - disse e colocou a mão na minha barriga - tá muito grande - abriu um sorriso

- Tá né - sorri - 6 meses

- Fui na minha bolsa e peguei duas fotos da ultrassom 3D que eu fiz e entreguei a ele

- Olha seu filho como é lindo - disse e entreguei pra ele

- É ele aqui? - perguntou com a foto na mão

- É, e você já pode virar vidente em - falei e ele me olhou

- Por que?

Falou tanto aí que era um menino - falei e ele riu

- É um menino mesmo? - balancei a cabeça em forma de sim

- Eu sabia porra - me abraçou - te falei que ia ser um menino, aí - me mostrou a foto - bonitão igual ao pai

- Bobo - falei rindo

Sentei no banquinho de concreto que tinha ali e ele sentou em outro

- Trouxe bolo de cenoura pra você

- K.o?

- Mas aquela mulher nojenta amassou tudo, virou farelo - falei e ele riu

- Tem k.o não bebê

Mostrei as coisas que levei pra ele e ele não parava de ver a foto

- Quem te trouxe?

- O menino que me leva pra fazer os exames e nos lugares que eu preciso ir

- O Luan?

- Deve ser, não sei o nome dele não, é um branquinho

- Tô ligado. Tem ido no médico sempre? Tá se cuidando né?

- Tô, a minha obstetra disse que ele tá pra nascer no começo de Dezembro

- Vou sair daqui já amor, prometo que vou ver meu filho crescer - disse meio triste, que saco, odeio ver ele assim

- Eu sei que vai - sorri - aqui amor, ele tá mexendo

- Cadê? - levantou e veio pra mais perto de mim

Peguei a mão dele e coloquei na minha barriga bem onde ele estava mexendo, ele abriu um sorriso de orelha a orelha

- Oi filhão, é o papai - ele olhou pra mim e riu - eu prometo que eu já vou sair daqui tá? Não sei se eu vou ver você nascer não, mas eu prometo que vou ver você andar pela primeira vez, falar pela primeira vez, vou te ensinar a jogar bola pra você ficar craque igual ao papai, vou te ensinar a pegar várias novinhas, tu vai ser brabo moleque - ele me olhou e limpou as lágrimas que caiam do meu rosto - chora não

- Eu peço tanto, tanto a Deus pra te tirar daqui amor. Eu não quero criar ele sem você

- E não vai, eu vou sair, tu sabe que eu não vou ficar aqui muito tempo, já já eu tô na rua, vou criar meu filho - disse e me beijou - mas eai, qual vai ser o nome?

- Não sei - falei e ele riu

- Como que tu não pensou em um nome cara

- Eu esqueci - falei rindo

- Puta que pariu, mãe desnaturada - eu ri e dei um tapa no braço dele

- Sou nada, sem graça! Você é o pai, você também tem que pensar em nome

- E eu pensei, porque eu sou um bom pai, diferente de você

- Larga de ser ridículo - ri - fala aí os nomes que tu pensou

- Arthur, Caio, Matheus, Lucas é maneiro

- Eu gosto de Miguel

- Nome de playboyzinho - riu

- Não é nada, Miguel é lindo

- Miguel Lucas - sorri

- Gostei

- Também

- Vai ser Miguel Lucas então - ele riu e me beijou

- Minha mãe tem vindo muito?

- Toda semana, tá sempre trazendo uns bagulho pra mim

- Que bom

- Filha do Menor nasceu né?

- Nasceu, coisa mais linda

- Já viu ela?

Só por foto, Clara vai levar ela lá pra eu ver

- Assim que eu sai você volta pro morro

- Por que não posso ir agora? Como que lá é mais perigoso que em Angra?

- No morro pode ter muita gente de olho em você, mas quando tem operação, invasão vai todo mundo pra guerra, pra acharem você lá é fácil. Ninguém sabe que você tá em Angra, só sabe quem tem que saber e tu tá muito segura lá, mais do que você imagina

- Lá é muito chato amor, eu fico praticamente sozinha, sem fazer nada o dia todo, tu sabe que eu odeio ficar parada

- Aproveita agora, quando ele nascer tu não vai nem dormir - falou e riu

- Tá tão engraçado você

Para de bobeira, é só uma fase - me deu um selinho - já vai passar já

- Eu sei - disse e beijei ele

Ficamos conversando sobre outras coisas até que o horário de visita acabou e eu tive que ir embora, essa é a parte mais difícil papo reto, ir embora e deixar meu preto lá, é como se eu estivesse abandonando ele nesse momento difícil.

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