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"Você pode cair, seu mundo pode desabar, mas você tem que saber que o mundo não para só para você poder se reconstruir."

🌹🌌


Sabado 8:00 hrs ⏰

Geovana

Acordo e logo em seguida pego o meu celular, quando me deparo com a hora me condeno mentalmente por ter acordado tão cedo em pleno sábado.

Como eu tenho certeza que minha avó ainda está dormindo resolvo continuar na cama, aproveito para terminar de ler Querido John.

Depois de alguns minutos acabo me distraindo com o meu porta retrato virado para trás, tem uma foto minha e da Letícia nele, mas ainda não tenho muita coragem de lidar com a lembrança dela.

Letícia foi minha única amiga durante todo o ensino fundamental.
Hoje no ensino médio nada mudou, ela continua sendo minha única amiga, mesmo que seja apenas nos meus pensamentos..

Flashback

Foi em agosto que uma menina doce e alegre chegou na sala de aula.
Sim, foi em agosto que tudo começou "Minha alegria e o meu pesadelo"

Nunca fui de fazer amizades facilmente, mas com ela foi diferente.
Minha personalidade era completamente diferente da dela.
Não sei explicar como de fato viramos amigas, mas Letícia era totalmente extrovertida e sociável, com um sorriso conquistava qualquer um.

Ela era popular na escola, mas não tinha muitos amigos. Era somente rodeada por colegas.

Com pouco tempo fiquei sabendo tudo sobre a vida dela..
Ela dizia que eu era a caixinha de segredo dela.

Enquanto ela sempre foi minha base.
Vivemos juntas momentos difíceis e alegres.
O nosso sonho sempre foi montar um abrigo para cachorros de rua.

Fiquei do lado dela em todos os momentos difíceis, mas isso não foi o suficiente..

***

Drasticamente tudo mudou depois de problemas pessoais causado pelo seu pai.

Ela sempre morou somente com sua mãe Daiane, seu pai nunca fez parte do seu ciclo familiar.

Tudo mudou depois que sua mãe sofreu um acidente enquanto trabalhava.
Ela ficou internada por uma semana, mas não resistiu.

Sua avó tinha falecido a um ano atrás, sua morte foi causada por conta de um infarte.

E infelizmente a justiça determinou que Letícia morasse com o seu pai.

Ele no começo não aceitou ficar com ela, mas depois mudou de ideia por conta do dinheiro da indenização que ela recebia.

A morte de sua mãe foi causada por um erro de segurança da empresa.

Então a justiça determinou que a empresa pagasse uma boa quantia para Letícia como indenização, mas dinheiro nenhum devolveria a vida da mãe dela. Dinheiro foi só um bônus amaldiçoado..

Já que Daiane nunca foi casada legalmente e, com a morte de sua mãe, o dinheiro iria diretamente para sua filha. Mas como ela era de menor o pai acabou pegando a guarda dela.

Ele nunca gostou de trabalhar, era um homem problemático. Aproveitava o dinheiro da filha para gastar todo com bebidas e drogas.

Letícia sempre escondeu muito bem o que sentia, não pelo fato dela não ter confiança na nossa amizade e, sim pelo simples motivo dela achar que eu já tinha muitos problemas para lidar.

Tudo piorou quando fiquei alguns meses sem falar com ela por conta de problemas que passei em casa.

Minha avó ficou em repouso absoluto depois de um AVC, foi a pior época da minha vida, fiquei com ela o tempo todo e, por sorte minha avó sobreviveu sem
sequelas.

Minha última notícia sobre a Letícia foi sobre o seu suicídio, foi também minha última visão dela.

***
Quando minha avó saiu do repouso fiquei mais tranquila. Arrumei tudo em casa e fui logo em seguida visitar Letícia.

No caminho passei em uma loja e, um moletom de unicórnio chamou minha atenção, logo de cara achei ele a cara da Letícia, pensei um pouco, mas decidi levar.

A porta da sala estava aberta, então decidi entrar.

A porta do banheiro estava fechada, então gritei o nome dela só para avisar que estava lá, mas não recebi nenhuma resposta em troca.
Em seguida me lembrei que ela gostava de acabar com a água do mundo tomando banho na banheira.

Então decidi esperar ela terminar do lado de fora. Mas se passaram 40 min e nada..
A água do chuveiro continuava caindo. Um pressentimento ruim me pegou em cheio.

Preocupada bati na porta do banheiro com força e, logo em seguida abrir a porta lentamente gritando o nome dela.

Fiquei exatamente quase 3 min imóvel. Enquanto lágrimas escorria pelo o meu rosto.

Letícia estava desacordada na banheira com uma lâmina solta sobre a pele e coberta por uma água ensanguentada.

Gritei tanto o nome dela na expectativa dela abrir os olhos, mas não conseguia me aproximar, perdi completamente o controle do meu corpo.

Tudo em minha volta foi se apagando lentamente, apenas a escuridão dominava a minha mente, só lembro do impacto do meu corpo caindo no chão.

***
Acordei com uma luz forte nos meus olhos, depois de um tempo consegui raciocinar e, era um médico, percebi que ainda estava no quarto, mas o corpo de Letícia já tinha sido retirado.

Depois de voltar do hospital precisei ficar um tempo na delegacia e dar o meu depoimento.
Foi por conta dos meus gritos que os vizinhos se assustaram e chamaram a polícia e, logo após a ambulância.

***

Depois de tudo não consigo explicar o que aconteceu, perdi complemente meu chão e a culpa cresceu.
Só conseguia pensar na péssima amiga que fui, poderia ter sido menos egoísta, talvez teria evitado tudo isso.

Nunca passou pela minha cabeça que a Letícia seria capaz disso.
Com 14 anos ela começou a se mutilar, fiquei sabendo por acaso. Ela dizia que isso amenizava a dor que a morte de sua mãe causava.

Eu fiquei desesperada na época, nunca tinha passado por nada parecido.
Ela não era só minha amiga, era minha base.

Tentei mostrar de todas as formas o quanto isso era errado e, que a vida dela era muito importante.
Depois de uma crise de choro e desespero ela me prometeu que nunca mais faria isso.
Mas mesmo assim decidi procurar o psicólogo da escola e relatar isso, era minha única opção.

No começo ela ficou emburrada, mas depois me disse que conversou com ele e, que agora estava tudo bem.
E eu ingênua acreditei.

***

Depois da morte dela entrei em uma depressão profunda.
Pegava os remédios da minha avó escondida e tomava em grande quantidade e, isso me deixava um pouco dopada, passava o dia todo no quarto apagada.
Perdi quase 8 kg

Minha avó conversava muito comigo, ela tentava sempre me consolar.
Só cai na realidade quando fui até o banheiro e, presenciei minha avó sentada na sala chorando compulsivamente.

Foi naquele momento que percebi que precisava melhorar pela minha avó.


***

Geovana

Logo quando pisei no pátio da escola  reparei que todos os olhares se prenderam na minha direção.

Letícia sempre se mostrou alegre e divertida na escola, sempre fui a única que sabia de tudo que acontecia na vida dela e, também fui a única que presenciou aquela cena horrível.

Agora todos na escola pensam que sou culpada pela morte dela.
Não é fácil de acreditar que uma menina aparentemente feliz se mataria.

Não posso questionar..-Penso enquanto uma lágrima escorre sem permissão pelo o meu rosto
Abandonei ela no momento mais difícil e, isso não tem perdão.

Um recomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora