Capítulo 11: Namorado

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Andamos pelo shopping e paramos para almoçar às 14h. Hyuk me contou que ele e a mãe frequentaram uma igreja na Coréia. Eu fiquei feliz ao saber disso e o convidei para ir à "minha" igreja.

— Quem sabe na próxima semana? Tem um evento com os jovens.

— Que tipo de evento, Anne?

— É uma festa para os aniversariantes do mês. É bem divertido. Fazemos karaokê, conversamos muito, comemos muito também — eu ri.

— Não sei. Como não conheço ninguém...

— Como não conhece? — Apontei o dedo para mim mesma.

— Só você. O pessoal já está enturmado, não sei... Prometo que pensarei no assunto — neste momento o meu celular tocou. Era Gabriel, o meu namorado.

— Oi, tudo e com você? Legal! Já está na rodoviária? Sei, imagino. OK, uma ótima viagem para você. Beijo! — Desliguei o celular. Hyuk observava o movimento. — Ah, não comentei com você, tenho um namorado — ele olhou para mim, parecia surpreso.

— É mesmo? Ah, sim, você já tem idade para isso — ele riu.

— Tenho, né? Então, o nome dele é Gabriel e estamos juntos há 11 meses. Ele faz medicina em Campinas e mora com os pais em Sumaré — mencionei os nomes de cidades do interior de São Paulo.

— Ele está vindo para cá?

— Não. Neste final de semana ele foi para Sumaré, agora está voltando para Campinas. No próximo final de semana é a vez de São Caetano do Sul — expliquei. — Só nos encontramos a cada 15 dias, isso quando os estudos permitem!

— Como se conheceram?

— Gabriel é primo de uma amiga da igreja. Um certo dia... ele fez uma visita, começamos uma amizade e depois...

— Ah, entendi! Então ele será médico! Quer ser o quê? Pediatra?

— Não pensa em nenhuma especialidade. Clínico geral. É que... é complicado falar isso, mas não é bem o que ele gostaria de fazer. Os pais são médicos.

— Ah, então só está na medicina para agradá-los! Isso não é nada bom! Sou novo ainda, mas acredito que ao escolher a sua profissão, a pessoa deveria optar por algo que realmente goste, ainda mais medicina. A pessoa deveria amar! Bom, pelo menos é o que eu penso — observava o meu amigo. Ele estava diante de mim depois de cinco anos e na minha cabeça eu ainda tinha a imagem daquele menino que amava brincar no parque. Agora ele opinava sobre assuntos importantes!

— Também penso assim, Hyuk, mas ele quer evitar atritos com os pais. Tem uma irmã mais nova que é apaixonada pela profissão dos pais. Ela está no 1° ano do ensino médio.

— O que ele gostaria mesmo de fazer? — Hyuk perguntou enquanto cortava o seu filé de frango. Optamos por um almoço nutritivo e leve, nada de lanches! E já combinamos de almoçarmos ou jantarmos em um restaurante coreano em breve.

— Cantar. Ser um cantor gospel de sucesso — Hyuk fez uma careta. — O quê? Ele tem uma bela voz! Tem uma banda. Gabriel é o solista. Não incentivo muito porque acho que a intenção não é a correta.

— Como assim?

— Comentei que Gabriel quer ser um cantor gospel de sucesso porque é exatamente assim que ele fala. Sei que também é uma profissão, mas quando o principal objetivo é o sucesso, sei lá, dá até medo! — Falei com sinceridade. — Em primeiro lugar, a pessoa deveria desejar adorar a Deus. Gabriel não menciona isso, entende?

— Então é melhor ficar na medicina mesmo ou não! — Nós dois rimos. — Bom, pelo menos eu sei bem o que quero. Anne, lamento pela separação de meus pais, mas sei que  se morássemos juntos, eu não teria a liberdade para escolher. Não mesmo! Ele não está nada satisfeito e faz questão de deixar isso bem claro, mas eu não ligo. Faço que não estou ouvindo. É melhor assim porque... — ele abaixou a cabeça — não consigo argumentar com ele. Anne, eu não consigo mesmo! Trava tudo. Fico ansioso e se tento falar... é um desastre. Aquela gagueira não me abandonou. O engraçado é que geralmente é só com ele. Às vezes, quando fico nervoso, muito ansioso, também acontece com outras pessoas, mas com o meu pai, é sempre assim — eu acariciei o seu ombro.

— Ah, Hyuk, um dia você superará isso. Sabe que pode contar comigo, não é?

— Já que você disse isso... Anne, não quero que minha mãe saiba o que aconteceu neste final de semana. Ela ficaria arrasada! Por isso, tenho que continuar com os finais de semana entre pai e filho — ele fez uma careta. — Na próxima semana estarei livre, mas na outra... Anne, você iria comigo? — Ai, ai, ai, e agora? Posso me comprometer? Eu tinha que responder algo. Ele estava com os olhos fixos em mim. Aqueles olhinhos lindos!

— Hyuk, eu disse que pode contar comigo! Só não posso garantir que estarei livre no dia em que precisar... Você sabe... tem a faculdade, não trabalho aos sábados, mas tenho um namorado — fiquei meio sem jeito. Não deveria ter falado assim.

— Eu entendo, você tem a sua vida. Eu apareci... depois de 5 anos! Você não é mais uma garotinha que só estudava, brincava no parque e chupava sorvete de creme.

— Sim, com a idade também aparecem as responsabilidades, mas você também faz parte da minha vida. Estou muito feliz com o seu retorno e o ajudarei — acariciei a sua mão. — Daremos um jeito! Olha, como o meu namorado virá na próxima semana, eu estarei livre no final de semana que você sairá com o seu pai, então começarei bem, né? Só não sei o que o seu pai pensará!

— Isso não importa. Anne, só não posso enfrentá-lo sozinho! Sei que admitir isso me faz parecer um fraco, mas é a realidade. Preciso de ajuda e é interessante como consigo me expressar com você com a mesma facilidade de 5 anos atrás. Só foi complicado no início, quando entrei em sua casa, mas agora... — Sorri para ele. O desejo do fundo do meu coração era ajudá-lo. Fazer de tudo para olhar para aqueles olhinhos lindos e enxergar alegria. É tudo o que peço a Deus. Voltamos para casa. Durante o trajeto, lembrei-me de algo e fiquei preocupada, mas logo Hyuk esclareceu e eu suspirei aliviada.

— Ai, não, o seu pai já deve ter entrado em contato com a sua mãe e imagine o desespero dela sem saber onde você está!

— Não, Anne, está tudo bem! Ontem pedi um favor para o seu pai. Ele ligou para o meu. Não avisei por causa dele, por mim ele ficaria sem saber, mas a minha mãe... Pensei em como ela ficaria preocupada. Então, está tudo bem. Ah, e um motorista levará a minha mochila para a sua casa — ele me informou.

Antes de irmos para casa, vivemos um lindo momento nostalgia ao visitarmos o parque. O mesmo parque de nossos finais de semana. Algumas crianças brincavam. Alguns pais conversavam. Eu e Hyuk fomos para o balanço. Uma confissão fez os meus olhos ficarem marejados.

— Sabe, Anne, em nossas tardes no parque, eu fazia de conta que você era a minha irmã e o seu pai... o meu pai! Perdoe-me, mas eu tomei a liberdade, sabe... em meus pensamentos, noona!

— Ah, Hyuk, não peça perdão, você é o meu irmãozinho, agora crescidinho, mas continua sendo o meu irmãozinho! Ao voltarmos para a minha casa, aproveitamos para assistir ao meu DVD do Scooby-Doo. Meu pai também nos acompanhou nesta nova sessão nostalgia.

Anne e HyukOnde histórias criam vida. Descubra agora