Capítulo 22: Rosa vermelha

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Minha vontade era permanecer na sala de estar de Hyuk cantando e conversando por horas, mas não era possível. Tenho certeza de que o meu amigo também desejava a mesma coisa. Quando perguntei se não estava na hora de irmos, ele olhou para mim e deu de ombros. Pediu para eu esperar enquanto guardava o violão em seu quarto.

— Não mostrei a minha estante cheia de livros coreanos — ele disse assim que retornou. — Quer dar uma olhada, agora? Não está em meu quarto — ele fez questão de acrescentar —, temos um escritório...

— Quero muito, mas é melhor irmos.

— Você tem algum compromisso hoje à noite? — Assenti e os olhinhos lindos ficaram tristes.

— Com você! — Eu esclareci rapidamente e ele sorriu. — Podemos almoçar com o seu pai e depois voltarmos aqui, o que acha?

— Acho perfeito! — Afirmou animado.


Depois de cinco anos, eu estava novamente em frente à mansão da família de Hyuk. Era como fazer uma viagem ao passado. O imenso jardim continuava lindo como sempre. Olhando ao redor, parecia que o tempo havia parado e para corroborar a minha impressão, o senhor Hermes surgiu de repente. Ele não mudou nada!

— Bem-vindos! — Ele nos recebeu com um sorriso sincero. — Senhor Carlos Eduardo, é muito bom recebê-lo aqui e senhorita Anne,  é um prazer revê-la. Faz um bom tempo, não é?

— Sim, mas o senhor não mudou nada!

— Ah, senhorita, mudei sim! Agora sinto mais dores! — Ele riu. — Aquele conhecido "problema de junta" — ele piscou para mim e eu sorri. — Mas a senhorita mudou bastante. Agora é uma linda jovem. Antes era uma criança adorável! — Agradeci os elogios. Hyuk só nos observava. — O nosso menino cresceu bastante, não é? — Olhou para Hyuk. — Está enorme! — Eu concordei. — Entrem, por favor! — A grande sala de estar recebeu decoração nova. A cor predominante não era mais o branco. Agora quase tudo era na cor marrom. Ouvimos passos firmes. Observei o meu amigo e percebi o seu desconforto. Estava claro de que ele não se sentia bem.

— Hermes, você pode se retirar agora, verifique se o almoço está pronto — o "general" nem olhou para o filho, veio direto em minha direção. — Ah, sim, você é a filha do Silas! Perdoe-me, mas esqueci o seu nome...

— Anne, senhor Carlos — eu disse simplesmente, mas a minha vontade era dizer: o senhor deveria pedir perdão para o seu filho por não ser o pai que ele merece!

— Anne, é isso! — Fez uma pausa de poucos segundos e em seguida comentou sobre o meu pai. — Ele foi um excelente funcionário. Se o Silas desejar trabalhar comigo novamente, é só começar! — Ele sorriu. Uau, ele sabe sorrir! O pai de Hyuk não mudou nada nesses últimos anos. Continua com a mesma presença intimidadora. Alto, forte e com aqueles olhos negros que transmitem medo! O meu amigo estava estático. Eu sempre tive um pai carinhoso e presente, por isso é muito difícil entender a relação que o "general" tem com o filho. Como ele pode ser tão frio? — A sua presença aqui é muito conveniente para mim porque surgiu um compromisso de última hora e eu não poderei ficar nem para o almoço — informou. Ele é inacreditável! — Agradeço por você fazer companhia ao Carlos Eduardo! Bom almoço para os dois! — Após essas palavras, ele saiu da sala de estar.

Olhei para Hyuk. Ele pressionava as mãos e observava o chão. Aproxime-me  e acariciei o seu ombro.

— Ei, respire fundo! Que tal sentarmos um pouco? — Ao dizer isso, segurei em seu braço para que ele me acompanhasse. — Se você quiser ir embora... — eu disse assim que nos acomodamos.

— Não. Vamos almoçar. Não quero que a Catarina fique triste. Você se lembra dela, não é? — Eu assenti. — Ela ligou para a minha mãe ontem e disse que faria um almoço especial com tudo o que gosto... Até comida coreana, mesmo sabendo que o meu pai detesta! Não quero decepcioná-la.

— Tudo bem. Hyuk, eu...

— Não quero conversar agora, Anne. Sei que será um pouco estranho, mas só quero ficar em silêncio por um tempo. — Ele colocou a mão em sua testa e abaixou a cabeça. Eu respeitei a sua vontade. Dez minutos depois, ouvimos passos. Pedi em pensamento para que não fosse o "general". Felizmente, era o senhor Hermes. Ele perguntou se queríamos almoçar agora e Hyuk disse um "sim" quase inaudível. Eu confirmei, caso ele não tivesse compreendido. Fomos até a sala onde o almoço seria servido. A mesa estava preparada para dois. Uma senhora simpática nos recebeu. Eu não a conhecia.

— Senhor Carlos Eduardo e senhorita, espero que apreciem o almoço. Catarina logo estará aqui. Posso servi-los?

— Agradeço, mas nós mesmos nos serviremos — Hyuk disse.

— Mas...

— Nilza, você pode ir agora. Aproveite para almoçar — Era Catarina. Nilza se afastou, após pedir licença. — Ah, querido Hyuk! — Ela não falou o nome em voz baixa. Era proibido mencionar o nome coreano por causa do "general". — O senhor Carlos Eduardo já saiu. — Avisou. — Como estou feliz em recebê-lo aqui e a senhorita também, Anne!

— Não posso dizer que estou feliz, Catarina, não me sinto bem nesta casa, mas é muito bom revê-la! — Hyuk disse com sinceridade. Eu cumprimentei Catarina.

— Eu sei e é uma pena! Vocês fazem muita falta. A casa não é mais a mesma sem vocês! Mas não vamos falar de coisas tristes, não faz nada bem para a digestão. — Concordamos e, após anunciar com orgulho o prato coreano que fez para Hyuk, ela nos deixou a sós. Almoçamos quase em silêncio.

— Hyuk, quer ir embora? — Perguntei assim que terminamos a nossa refeição.

— Eu... Quero verificar uma coisa... — Ele pediu licença e saiu. Voltou rapidamente e parecia ainda mais triste.

— Agora podemos ir.

— Hyuk, o que aconteceu? Você disse que precisava verificar algo e voltou tão triste!

— O piano... não está mais lá — os olhos estavam marejados. — Por um momento, eu cheguei a pensar que... que ainda estivesse no mesmo lugar, mas não... — Ele meneou a cabeça muitas vezes — É claro que não! Ele detestava aquele piano! Na verdade, ele detesta tudo relacionado a mim! Vamos embora, Anne, por favor! — Ele começou a andar e eu o segui. Quando nos aproximamos da porta de saída, o senhor Hermes apareceu.

— Senhor Carlos Eduardo...

— Meu nome é Hyuk, Hermes, Hyuk! — Afirmou ríspido, mas em seguida pediu desculpas pelo tom. — Ah, peço desculpas... Você não tem culpa de nada!

— Tudo bem, senhor Hyuk, eu é que peço desculpas... Sei que não gosta que o chamem pelo nome de seu... pai, é que ...

— Ele detesta o meu nome, eu sei muito bem disso! — Hyuk deu alguns passos e em seguida abriu a porta. — Hermes, agradeça a Catarina pelo almoço, estava ótimo. — Eu também agradeci e acompanhei Hyuk. O senhor Hermes nos seguiu.

Era uma linda tarde de sábado. Eu olhei para o céu azul sem nuvens e em seguida para o lindo jardim. Que contraste com o ambiente dentro da mansão! Não resisti à beleza das flores. Parei para admirá-las. O jardim estava repleto de rosas vermelhas!

— Felizmente há sempre algo belo para se admirar! — Ouvi a voz de Hyuk. Ele se aproximou.

— Sim, mas é preciso parar e observar para não perder toda a beleza que está ao nosso redor... A correria do dia a dia, muitas vezes, nos impede de admirar as coisas belas da vida... — Ele colheu uma rosa e me ofereceu. Recebi não somente a rosa vermelha belíssima, mas também um sorriso maravilhoso. Nem parecia o Hyuk triste que estava dentro da mansão. Cheirei a rosa e agradeci com um sorriso.

Anne e HyukOnde histórias criam vida. Descubra agora