Tive uma semana cheia de atividades na faculdade e é claro, no trabalho também! Desejei rever Hyuk, mas foi impossível. Depois de toda aquela tensão, queria uma oportunidade para conversarmos com calma, mas mesmo assim nos falamos pelo celular. Só que meu amigo "fugiu" do assunto e, como eu tinha pouco tempo, achei melhor não insistir. Comentei sobre o almoço com o meu namorado, mas o meu amigo não confirmou. Sábado, busquei Gabriel na rodoviária às 11h e fomos direto para o shopping. Bom, não falei muito sobre ele... O meu namorado tem 23 anos, é loiro, cabelos bem curtos (agora, porque quando o conheci quase dava para fazer um rabo de cavalo!) tem o corpo esbelto, os olhos são esverdeados, altura 1,85 e me chama de "baixinha" porque tenho 20 centímetros a menos!
- Baixinha, ainda bem que o seu amiguinho "japa" não aceitou o meu convite, assim podemos ficar sozinhos - estávamos dentro do shopping, de mãos dadas, quando de repente Gabriel me puxou e me beijou.
- Ele não é japonês, já falei mil vezes para você! Ele é brasileiro, a mãe é sul-coreana! - Eu disse ao me afastar um pouco. Antes do reencontro com Hyuk, quando eu o mencionava, Gabriel sempre o chamava de japa. - Pode ser que ainda apareça. Eu mencionei o nome do shopping e horário...
- Acho que não e é melhor assim! Ele deve ser... - fez uma careta - um menino mimado, um verdadeiro filhinho de papai!
- Não mesmo! Eu já falei sobre ele e...
- Ai, "baixinha", você o defende muito! Só não fico com ciúmes porque ele é uma criança!
- Tem 16 anos, Gabriel!
- Então... uma criança, ah, tudo bem, um "aborrecente"! - Neste momento, o meu celular tocou. Era Hyuk e ele já estava no shopping. Acabara de chegar. Expliquei como nos encontrar.
- É sério? O "japa" está aqui? Beleza, depois teremos todo o tempo... o sábado está só começando...
- Você lembra que temos compromisso à noite, né? - Ele fez uma careta.
- Ah, não sei se quero ir! Festinha de aniversariante na igreja, que programão! - Ele ironizou. Pouco tempo depois, avistei Hyuk, fiz sinal para ele se aproximar. - O "japa" chegou! - Gabriel falou um pouco alto e eu o cutuquei. Meu amigo se aproximou com as mãos nos bolsos da calça jeans. Vestia uma camisa jeans também, mas em um tom mais claro.
- Muito bem, você veio! - Cumprimentei Hyuk com um beijo no rosto. Ele sorriu timidamente.
- E aí, "japa", você está bem crescimento, hein? Eu o imaginava mais baixo! - Gabriel se curvou exageradamente, tenho que mencionar! - É assim que vocês se cumprimentam, né? - Hyuk olhou para mim e em seguida para o meu namorado.
- Eu... é... não é necessário, você... é brasileiro e eu também! - Até que ele conseguiu falar normalmente.
- E aí? Resolveu nos fazer companhia, "japa"?
- Gabriel, eu já expliquei que...
- Baixinha... ele tem olhos "puxados", então para mim é japonês! - Gabriel não foi nada gentil e eu detestei isso.
- Ele é de descendência coreana! - Eu insisti.
- Para mim é tudo igual - deu de ombros.
- Gabriel!
- Tudo bem, Anne! - Hyuk interferiu. - Ele pode me chamar do que quiser, não fará diferença para mim. - Neste momento, Gabriel olhou para ele com cara de poucos amigos.
- Ah, então você nem liga para a minha opinião, né? Eu sabia que era um menino mimado filhinho de papai! - Hyuk meneou a cabeça e olhou para mim.
- Acho que não começamos bem, eu nem tive a oportunidade de apresentá-los! - Eu tinha que fazer alguma coisa. O clima não estava nada agradável.
- Verdade, baixinha, é que o seu amiguinho já me irritou, mas deve ser porque estou com fome! - Eu os apresentei como deveria e depois fomos para a praça de alimentação. Escolhemos os nossos lanches e logo estávamos acomodados. - E então... - Gabriel fez uma pausa. Tenho certeza que o chamaria de "japa" novamente, mas pensou melhor. - Hyuk, sei que o seu pai é um empresário de sucesso, então serei bem direto, essa é uma das minhas qualidades - ele piscou para mim e eu estava com medo do que viria a seguir -, eu canto muitíssimo bem, modéstia à parte, tenho uma banda, então... você bem que podia bater um papo com o seu coroa e como quem não quer nada, mas querendo muito, mencionar que conhece um pessoal muito talentoso e tal...
- Gabriel, isso não tem nada a ver! O pai do Hyuk não trabalha no ramo da música... - eu interferi.
- Tudo tem um começo, né? Dinheiro eu sei que ele tem. Fiz umas pesquisas e são muitas empresas e ramos diferentes! - Eu fiquei com muita vergonha. Sério! Sei que o meu namorado é ousado, fala demais, mas não imaginava isso. - Trabalha com imóveis, hotelaria, estética, automóveis...
- Que assunto, Gabriel! Hyuk não conversará com o pai sobre...
- Ah, eu sei que os dois não se bicam, mas seria uma boa oportunidade, não acham? Quem sabe eu possa ser uma ponte, hein? Entre pai e filho! - Ah, não estava acreditando! O que Hyuk pensaria? Eu contei como o conheci, falei algumas coisas sobre o seu pai e não escondi que detestava como tratava o filho, mas não imaginava que Gabriel seria tão indiscreto!
- Eu não me envolvo nos negócios de meu pai - Hyuk disse simplesmente. Dava para perceber o quanto estava desconfortável com a conversa.
- Mas deveria, você é filho único, é o herdeiro legal! Cara, você precisa de alguém como eu - Gabriel bateu no ombro de Hyuk e ele se assustou. - Calma, cara, somos amigos agora! Você tem dificuldades para lidar com o seu pai, então posso ajudá-lo com isso, sei que a minha baixinha o ajudou quando era criança, mas agora você precisa de alguém como eu. Cara, vamos marcar uma reunião com o seu pai.
- Gabriel, você não percebeu que está sendo desagradável? - Perguntei desejando acabar com aquela conversa.
- A minha sinceridade o incomoda? - Ele encarava Hyuk. - Cara, eu sou assim! Olha, sem conhecê-lo, eu já sentia raiva de você - meu amigo franziu as sobrancelhas e olhou para mim -, sabe por quê? Cara, por sua causa, a minha baixinha sofreu muito. Você sumiu sem dar satisfação e ela fez o quê? Foi uma atitude bobinha, tenho que dizer, mas ela era uma menininha inocente - acariciou o meu rosto -, ah, cara, fala sério, tem algum sentido ficar sem sorvete de creme? Você sabe que ela ficou 5 anos sem o sabor favorito com a esperança de que em um passe de mágica - ele bateu palmas - você reapareceria - deu uma gargalhada -, confesso que fiquei com raiva de você, mas pensando bem, a culpa não é sua, como poderia imaginar? Ela foi tão inocente! - Agora ele começou a mexer em meu cabelo. Hyuk não sabia o que fazer. Ele mexia em seu canudo, olhava para a mesa...
- Gabriel, chega! Vamos terminar logo o nosso lanche e... assistir a um filme, que tal? - Sugeri. Na sala de cinema ele teria que ficar quieto.
- Eu... não posso ficar, Anne! - Hyuk disse. É claro que ele desejava sumir. Ficar bem distante de nós. Se eu pudesse, iria com ele. Bom, agora nem sei se ele gostaria de minha companhia. Deve pensar que não pode confiar em mim.
- Ah, que pena! Eu...
- Tudo bem, cara, pode ir, assim eu terei a oportunidade de ficar com a minha baixinha, não temos muito tempo, você deve imaginar! - Ai, que vontade de "socá-lo"! Hyuk pegou a sua bandeja com o resto de lanche e refrigerante, e levantou-se. Que pesadelo! Que encontro desastroso! Eu me levantei também.
- Vou acompanhá-lo, logo estarei de volta - disse para o meu namorado. Eu e Hyuk andamos em silêncio até a lixeira. Assim que ele depositou o lixo, eu segurei o seu braço com delicadeza. - Hyuk, sinto muito, estou com tanta vergonha!
- Tudo bem, Anne, não se preocupe comigo. Agora eu preciso ir! - Ele se curvou discretamente e se afastou. Também desejava sumir. Gabriel bem que merecia ficar sozinho para aprender uma lição.
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Anne e Hyuk
SpiritualitéHyuk mora em uma mansão. É filho único de uma sul-coreana e um brasileiro. O pai é um empresário muito bem sucedido e implacável. Hyuk tem tudo o que o dinheiro pode comprar, mas não é feliz. É amado por sua mãe, mas não tem o amor de seu pai e n...