Capítulo 9: Um táxi e uma surpresa

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"Abraçar é dizer com as mãos o que a boca não consegue, porque nem sempre existe palavra para dizer tudo."

Mário Quintana

Cinco anos depois...


Minha mãe está participando de um retiro em uma chácara na cidade de Suzano. Saíram sexta-feira e o retorno será domingo à noite. Como estava com muito trabalho da faculdade para fazer, nem pensei em ir. Curso o 3° semestre de psicologia. Hoje é sábado e já são quase 20h. Estou com o meu pai em casa. Pedimos uma pizza.

- Minha futura psicóloga está cansada? - Meu pai perguntou ao se espreguiçar no sofá.

- Olha só quem está perguntando! - Eu bocejei e nós dois rimos. Ouvimos uma buzina. - Já? - Peguei o meu celular e verifiquei o horário. Não se passaram nem vinte minutos! - Ouvimos novamente a buzina. Meu pai se levantou e olhou pela persiana da sala.

- É um táxi - meu pai franziu as sobrancelhas. - Vou verificar. Pode ser que passaram algum trote e deram nosso endereço ao motorista, vai saber! - Meu pai abriu a porta e saiu, mas voltou poucos segundos depois. Pegou a carteira que estava em cima da mesa do telefone e falou apressado- Anne, venha comigo!

Ao me aproximar do portão, que já estava aberto, tive uma surpresa. Havia um jovem alto, um adolescente, na verdade e ele tinha os olhinhos mais lindos do mundo inteiro! Dei alguns passos, mas parei de repente para olhar melhor. Meus olhos encheram-se de lágrimas. Era Hyuk. Eu não conseguia falar. Ele estava com as mãos dentro dos bolsos da calça jeans e vestia uma camiseta azul. Ele também me olhava sem dizer nada. Meu pai quebrou o silêncio.

- Anne, leve-o para dentro, eu vou acertar a corrida.

Hyuk se aproximou bem devagar e eu comecei a andar, ele me seguiu. Entramos na sala de estar. Ainda estávamos em silêncio quando o meu pai entrou.

- Hyuk, agora você é um rapaz! Tem o quê? 15? 16?

- 17 anos, se-nhor, é... é... que-ro dizer... 16, aqui é... 16 - Gostei de ouvir a sua voz. Que saudade! Não era mais aquela voz infantil, mas transmitia insegurança. Bom, ele deveria estar muito ansioso. Eu estava!

- Muito bem, que surpresa você nos fez! - Meu pai deu batidinhas em seu ombro. - Ouvimos uma buzina. Agora era de moto. - Ah, a nossa pizza! - Meu pai saiu. Eu suspirei. Não sabia o que dizer e Hyuk também não. Ele olhou ao redor e depois para mim, mas continuou calado. Quando meu pai retornou, estávamos na mesma posição. - Anne, que tal colocar os pratos à mesa, talheres... - Ainda bem que meu pai me deu algo para fazer. Quase corri até a cozinha. Quando voltei, Hyuk já estava acomodado na sala de jantar. - Espero que goste de pizza portuguesa, Hyuk!

- Sim, eu gosto. Desculpe-me por incomodá-los... - Agora as palavras saíram com segurança.

- Ah, que isso, rapaz, foi uma surpresa! Quanto tempo! Foram o quê?

- Cinco anos, pai! - Eu respondi. - Cinco longos anos sem notícia e sem sorvete de creme com cobertura de chocolate! Pensei e quase ri. Só eu mesmo! Hyuk não olhou para mim. O prato parecia bem interessante. Não tirava os olhos dele.

- Vamos comer antes que esfrie! Depois vocês dois terão tempo para conversar - meu pai serviu Hyuk. Foi uma refeição silenciosa na maior parte do tempo. Só meu pai quebrava o silêncio. Comentava sobre a pizza, sobre o tempo... Após Hyuk terminar (ele só comeu um pedaço!), levantou-se da cadeira.

- Peço desculpas por incomodá-los. Senhor Silas, eu... eu... pagarei o táxi, é que agora estou sem a minha carteira.

- Que isso, rapaz! Não é incomodo algum e esqueça o táxi! Coma mais um pedaço...

Anne e HyukOnde histórias criam vida. Descubra agora