Fechei os meus olhos. Parecia um sonho, mas era real. Eu estava dentro de um abraço, o abraço de Hyuk e não desejava sair! As lágrimas foram inevitáveis. Se não fosse pelo barulho inconveniente de uma buzina, não sei quando nos afastaríamos. A distância doeu. Queria ficar para sempre em seus braços, me senti desprotegida agora que estávamos afastados um do outro. Também senti vergonha. Não conseguia encará-lo. Alguns segundos se passaram. Hyuk quebrou o silêncio.
— Pode me dar uma carona? — Dei um sorriso. Não esperava por aquela pergunta. — Chamei um carro pelo aplicativo... Deixei o meu na escola. — Explicou e se ofereceu para dirigir o meu. Concordei imediatamente. — Peço desculpas por ontem, Anne, ou melhor, peço desculpas pelos últimos dias... — Deu a partida no carro.
— Tudo bem... Ontem foi estranho e a culpa também foi minha. Peço desculpas...
— Então estamos desculpados, não é? — Parou em um semáforo e olhou para mim. — Quer comer algo? — Antes eu só desejava a minha cama, mas agora não queria me afastar de Hyuk. O cansaço foi embora. Concordamos que seria melhor irmos a um café. Era um lugar tranquilo e isso era tudo o que queríamos.
Antes de sairmos do carro, abri a minha bolsa e peguei o meu espelho. Precisava dar uma retocada na maquiagem para disfarçar "a cara" de cansaço. Percebi que Hyuk me olhava de soslaio.
— Pode ficar sossegado. É só um retoque! Não dormi bem. — Expliquei.
— Eu sou o culpado? — Agora ele me encarava.
— Eu sou a culpada. Permiti que a ansiedade me dominasse. — Dei uma olhada em meu rosto. Melhorou! — Podemos ir agora.
— Espere, Anne! — Ele segurou o meu braço com delicadeza e em seguida virou o meu rosto para encará-lo, as mãos eram grandes, mas o seu toque foi suave. — Sinto muito! — Os seus olhos estavam marejados. — Acha que não senti vontade de ligar para você? — Os meus olhos ficaram marejados também. Era inevitável. — Senti muita saudade e culpa também! — Ele agora segurava o meu rosto com as duas mãos. Meu coração batia descontroladamente. Por um momento, me deu vontade de me abrir com ele. Confessar o meu novo sentimento, mas as palavras a seguir quebraram todo o encanto. — Não sou um bom amigo... — Ao dizer isso, tirou as mãos de meu rosto e segurou o volante. Suspirou. — Vamos tomar um café?
Fizemos nossos pedidos. Gostava daquela cafeteria. Era um lugar aconchegante com um aroma convidativo. Macchiato foi a bebida que escolhemos. Pedi uma fatia de bolo de churros e pão de queijo. Hyuk preferiu croissant de queijo e de maçã.
Desejava saber sobre a sua viagem para a Coreia, mas sentia muito medo. Não havia uma aliança, mas mesmo assim não tive coragem de perguntar diretamente. Decidi esperar. Falamos sobre a escola "Vida e Esperança". Os novos planos de ampliação. Depois de alguns minutos, Hyuk me surpreendeu.
— Foi um erro substitui-la, Anne! Os seus alunos reclamaram. — revelou envergonhado. — Novamente preciso que me perdoe. — Meneou a cabeça algumas vezes, sem olhar para mim.
— Vamos combinar uma coisa? — Agora ele me encarou. — Chega de pedidos de desculpas.
— Mas você me perdoa?
— Acho que alguém aqui não ouviu o que eu disse... Chega!
— Certo, se você quiser... — Abaixou a cabeça. Senti vontade de acariciar os seus cabelos. — Anne, se você desejar voltar a dar aulas e fazer o acompanhamento psicológico...
— Ei, olhe para mim... — Hyuk obedeceu. — Eu desejo sim voltar. Desejo muito! Que tal saborearmos essas delícias, hein? — Apontei para nossos pratos. Ele concordou. Durante os minutos seguintes, conversamos sobre a escola, o restaurante da mãe de Hyuk, o meu trabalho na clínica etc. O assunto "Coreia do Sul" foi evitado. O nome "Sandara" não foi mencionado uma única vez.
Por meus novos sentimentos por Hyuk, não seria uma boa ideia voltar para a escola "Vida e Esperança", mas amo o projeto. Não quero ficar distante daquelas crianças e adolescentes. Mesmo sabendo que seria complicado, também não quero ficar longe de Hyuk.
Quando já estávamos no carro, questionei Hyuk sobre o seu pai.
— Ontem ele ligou e falou com minha mãe. Disse que queria conversar comigo, mas não concordei.
— Hyuk, você bem que podia dar uma nova chance para ele... Pode ser que...
— Pode ser o quê? Que o prepotente senhor Carlos Eduardo mudou? — Meneou a cabeça. — Não acredito nisso, Anne! Já fui ingênuo, mas cansei. Eu mudei! — Observou o movimento lá fora, antes de dar a partida no carro.
— Viu como é possível mudar? - Eu não queria perder a esperança.
— O tempo passou. Eu não preciso mais da aprovação do prepotente senhor Carlos Eduardo. O que ele pensa a meu respeito? — Deu de ombros — Não me interessa! — Acariciei o seu ombro.
— Tem certeza? Você guarda muita mágoa de seu pai, Hyuk, e isso não faz bem. Sei bem o quanto ele o feriu...
— Por isso não deveria me pedir para dar uma chance... Ele não merece. Ah, e quer saber? Ele nem deseja. Anne, acha mesmo que ele se importa comigo?
— Ele me procurou, dias depois de sua viagem. — Revelei. Eu não queria falar sobre a Coreia do Sul, mas não tinha o direito de esconder a minha conversa com o senhor Carlos Eduardo. Hyuk olhou para mim, mas não disse nada. Deu a partida no carro. — Estava preocupado com o seu... — vamos lá, Anne, você consegue — relacionamento...
— Ah, fala sério! Sabe o que o preocupa? O dinheiro!
— Ele também me surpreendeu! O fato de seus avós...
— Sim, é isso! Ele odeia os meus avós! — Achei mais prudente parar de falar porque o assunto estava irritando Hyuk.
— Tem alguém na escola? — Tive uma ideia.
— Hã?
— A escola está fechada ou...
— Fernando ficou responsável por fechá-la. Já são quase oito horas, então não deve ter mais ninguém lá, por quê?
— Precisamos conversar com tranquilidade. Podemos ir para lá? — Seria uma boa ideia? Ai, por que sugeri isso? — Após alguns minutos, estávamos em frente à "Vida e Esperança". — Estar aqui novamente é tão bom! — Comentei assim que entramos e Hyuk acendeu as luzes.
— Você é muito bem-vinda, Anne! — Ele sorriu para mim e senti o meu coração aquecido. — Fomos até o escritório. Segundos depois, nos acomodamos nas cadeiras. — Sei que você quer falar sobre o meu pai, mas acho que é perda de tempo.
— Ouça-me, por favor! — Ele assentiu. — Seu pai estava mesmo preocupado com você. Deu para sentir isso. — Hyuk meneou a cabeça discordando. — O seu relacionamento com a Sandara o preocupa. — Não dava mais para escapar. Agora eu saberia se os dois se comprometeram para valer ou estavam próximos disso. — Sei que você detestou quando sugeri que seus avós... — Hyuk me interrompeu.
— Anne, você tinha razão. — Ele me surpreendeu. — Meus avós forçaram o meu relacionamento com a Sandara, confesso que permiti isso porque não queria perdê-los. Sentia-me feliz por eles finalmente fazerem parte de minha vida. Fiquei chateado com você porque sabia que estava certa. — Ele me surpreendeu novamente e não seria a última vez. As palavras que Hyuk me disse antes de sairmos me surpreenderam para valer e saí da Escola "Vida e Esperança" com o coração leve e feliz.
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Anne e Hyuk
SpiritualHyuk mora em uma mansão. É filho único de uma sul-coreana e um brasileiro. O pai é um empresário muito bem sucedido e implacável. Hyuk tem tudo o que o dinheiro pode comprar, mas não é feliz. É amado por sua mãe, mas não tem o amor de seu pai e n...