Capítulo 34: Um idiota

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O pai de Hyuk estava sentado na cama do hospital com uma perna engessada e elevada, fora esse detalhe, a sua aparência era ótima. Ele desligou o telefone assim que nos viu.

— Vejam só, visitas ilustres! Que honra! — Ele deu um largo sorriso, mas senti algo estranho em meu peito. — Espero que tenham feito uma ótima viagem.

— Carlos Eduardo, você está muito bem... — Clarisse olhou para Guilherme. — A notícia que recebemos...

— Ah, sim, parece que meu assessor os alarmou, não é? — Carlos Eduardo apontou para Guilherme. — Menino mau! — Deu uma gargalhada. Hyuk conseguiu caminhar poucos passos, mas observava tudo em silêncio. — Fraturei a tíbia. Preciso de um pouco de paciência com essa coisa — apontou para o gesso —, mas podia ter isso pior, não é? Bom, vocês parecem bem decepcionados! Vieram para um velório, mas não tem cadáver! — Deu outra gargalhada. — Ah, meus queridos, sinto muito, mas não foi dessa vez! — Ele olhou para mim. — Até a filha do Silas veio me visitar!

— Carlos Eduardo, você acha graça? Não imagina o quanto... — Clarisse foi interrompia por ele.

— Não imagino o quê? A alegria de vocês por saberem que meu estado de saúde era gravíssimo? Só vieram aqui para ter a certeza de que eu não sobreviveria e que não haveria mais obstáculo para a minha herança! É isso! — Ele vociferou aquelas palavras absurdas. — Pensa que sou ingênuo? Que vieram aqui com o coração partido? Torcendo para que eu não morresse? Ah, Clarisse, você e seu filho... — Ele olhou para Hyuk. — Vocês dois são como... urubus na carniça! — Era inacreditável! Como ele podia ser tão insensível? Hyuk soltou a minha mão e caminhou em direção à cama. Ele estava tremendo. — Podem chorar agora... de raiva, seus urubus! — Hyuk parou ao ouvir aquelas palavras cheias de veneno. Olhou para o pai por alguns segundos, meneou a cabeça e em seguida saiu do quarto.

— Carlos Eduardo, você é um idiota! — Clarisse disse quase gritando. — Eu... eu... Ah, vou embora, você não merece nem minhas palavras! — Saiu do quarto também. Guilherme a seguiu. O pai de Hyuk riu. Pensei em sair rapidamente dali, mas não consegui. Eu tinha que dizer umas verdades para aquele homem.

— Como o senhor pôde ser tão... insensível?

— Ah, filha do Silas, qual é mesmo o seu nome? Perdoe-me, mas eu não me lembro...

— Isso agora não importa! Como pôde dizer palavras tão cruéis para o seu filho?

— Eu só disse verdades, mas sei que a verdade dói.

— Espero que doa mesmo, doa muito! — Eu não sairia dali sem falar tudo o que estava engasgado em minha garganta. — O senhor não imagina como o seu filho estava arrasado. Ele chorou muito ao pensar na possibilidade de sua morte!

— Até parece! — Ele deu de ombros.

— O senhor nem merece saber disso, mas eu espero que essas palavras fiquem martelando em sua mente, que incomodem muito mesmo! Que tenha insônia! — Eu estava tremendo de raiva, mas continuei... — Não tem vergonha de ser um perfeito idiota?

— Cuidado, não vou admitir falta de respeito...

— Respeito? Acha mesmo que merece? Um pai que despreza o seu filho? Hyuk é uma pessoa maravilhosa. — Ele deu um sorriso irônico, fiquei com mais raiva ainda. — Ele merece tudo de bom e o que o senhor faz? Sempre estraga tudo. Poxa... Hoje passou dos limites! Acha que tudo o que importa é o dinheiro? — Estava bem próxima dele e o encarava sem medo. — Espero que se arrependa e que não seja tarde demais. O seu filho estava mesmo preocupado. Pediu a Deus por sua vida e ao chegar aqui o que ele ouviu? Suas palavras cruéis que só machucam. Não tem nada de bom, aí? — Apontei para o seu peito. — A boca fala do que o coração está cheio... Limpe o seu coração e um dia procure o seu filho com sinceridade e peça perdão. Eu repito... Espero que não seja tarde demais! — Olhei para a sua expressão. Não havia mais aquele sorriso irônico em seus lábios. Sai do quarto. Entrei no elevador e apertei o térreo. Eu estava tremendo. Detestava esse tipo de enfrentamento, mas às vezes era necessário.


Anne e HyukOnde histórias criam vida. Descubra agora