Capítulo 42: Entregar

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Olá! Peço desculpas pela ausência e agradeço muito por você estar aqui novamente. Espero que você esteja bem. Estamos passando por um momento muito difícil, mas não podemos desanimar. Fighting!


Os meus sentimentos ainda estavam confusos? Sim, mas pelo menos o clima entre mim e meu amigo havia melhorado. Os meus dias de férias foram todos dedicados à "Escola Vida e Esperança" e não me arrependo. Eu e Hyuk conversávamos sobre tudo, menos sobre o seu noivado. As minhas férias terminaram e voltei para o trabalho na clínica. Saber que não estaria mais perto de Hyuk todos os dias me entristecia. Seria melhor para os meus novos sentimentos por ele? Sim, mas era bom saber que ele estava por perto. Que se eu quisesse era só "visitar" uma das salas de música ou ir à cozinha no momento em que estivesse almoçando, ou saboreando um café. Almoçamos juntos algumas vezes e até saímos para comer pizza uma vez, após o expediente e foi ele quem me convidou! Fiquei até surpresa! Bom, agora eu tinha que me contentar com os sábados. Os agitados sábados na escola "Vida e Esperança". Pausa tranquila para o café e uma conversa? Impossível! 

O clima só ficou estranho novamente quando a Sandara resolveu fazer uma visita. Era um sábado. Três semanas depois que retornei ao trabalho. Já eram quatro horas da tarde. Terminei a última aula e pensei em convidar o meu amigo para irmos ao cinema. Sabia que ele estava no escritório, por isso fui direto para lá. 

— Hyuk, o que você acha de irmos ao cinema? — Entrei falando e quase morri de vergonha ao constatar que ele não estava sozinho. Se não ficasse mais ridículo ainda, teria saído de lá sem dizer mais nada. — Peço desculpas, não sabia que estava acompanhado. Boa tarde, Sandara! 

— Oi, Anne, tudo bem, sem problema. Resolvi fazer uma visita para o meu noivo. — Eles estavam em pé próximos à mesa. Ela sorriu para ele. — Seria legal irmos ao cinema, não concorda, amor? — Ela perguntou docemente, senti um aperto no peito. "Amor"? Não tive coragem de olhar para Hyuk.

— Seria sim se eu não estivesse tão cansado. — Pensei que ele iria gaguejar, mas Hyuk se saiu muito bem. — Quem sabe outro dia...

— Ah, que pena! — Sandara me olhou por alguns segundos. Eu estava paralisada perto da porta. — O que acha de um programa só de mulheres, Anne? Seria mais fácil escolher um filme... — Não acredito! Ah, fala sério! Como sairei dessa situação sem ser indelicada?

— É melhor deixarmos para outro dia. Você e Hyuk podem fazer uma programação mais tranquila. Um cinema em casa, por exemplo... — Algo que já fiz muitas vezes com Hyuk. Pensei melancólica. Ai, como sou boba! Tinha que sugerir isso?

— Boa ideia. Quer nos acompanhar? — Não parecia que era provocação ou simplesmente por educação. Acho mesmo que ela gostaria que eu fosse, mas é claro que não faria isso.

— Agradeço pelo convite, mas acho melhor ir direto para a minha casa. Trabalhei a semana inteira. É... Pensando bem o cinema não era uma boa ideia. — Sei que não fui nada convincente, mas é o que temos para hoje! — Olhei para Sandara. Ela vestia uma túnica com estampa de flores e calça preta. O longo cabelo estava solto. Olhei para Hyuk. Ele vestia calça jeans e camisa preta. Como ele fica lindo com camisa preta! Pare de pensar essas coisas, sua boba! É o seu amigo e está ao lado da noiva. Eles formam um belo casal! — A minha última aluna já foi embora... Também irei. Bom final de semana para vocês! Saí rapidamente. Felizmente vim com o meu carro hoje. Ai, Anne, que patética! Convidar um cara noivo para ir ao cinema? Ele é o seu melhor amigo, garota? Sim, mas é o noivo da Sandara... Ela ganhou! É como dizem... Game over!

Ao entrar em casa, me senti aliviada ao lembrar-me de que meus pais não estavam. Durante o café da manhã, comentaram sobre um jantar de casais que participariam com o pessoal da igreja. Minha mãe disse que iriam para um lugar um pouco distante, por isso o horário de saída seria às 17 h. Eu tinha a casa inteira só para mim. Podia fazer o que bem entendesse... Chorar até os meus olhos doerem e ficarem inchados, por exemplo!

Tomei um banho relaxante, coloquei um pijama porque queria ficar bem confortável e após fazer um lanche na cozinha, resolvi assistir a um filme. Passaram-se mais de vinte minutos e nada me interessava. Peguei o meu celular. O meu desejo era ligar para o meu amigo, mas sabia que ele estava acompanhado. Pode até ser que, neste exato momento, os noivos trocavam um beijo apaixonado. Quem sabe? É bem provável, afinal o que os noivos fazem? Fiz uma ligação. Precisava falar com alguém. Quem escolhi? Uma adolescente! Consegui manter uma conversa normal durante alguns minutos, mas depois desabafei. Eu precisava muito. Sei muito bem o quanto isso é importante.

— Noivo? Que palhaçada é essa? Como o seu Hyuk ficou noivo de outra? Não entendendo nada! Noivo? É assim? Ontem não tinha nem namorada e agora  noivo? — Ela bem que podia pensar um pouco antes de falar, né? Eu ri para não chorar. — Você não vai fazer nada?

— Ai, Raquel, o que posso fazer? Já falei com ele e foi muito chato. Ficou um clima péssimo.

— Já se declarou? Já abriu o seu coração? — Se ela estivesse aqui, com certeza faria um coração com os dedos. O que ela disse? Se eu já me declarei?

— Como assim? Não tenho nada a declarar! — É, eu disse isso! Que covarde!

— Não? Está na maior bad e por que será? Eu disse que você ficaria na bad...

— Eu não...

— Já mais do que na hora de falar com todas as letrinhas: " apaixonada pelo Hyuk, o meu melhor amigo!" — Ela deu uma gargalhada. — Isso é tão fofo! Prima, fale logo! Fale para ele e mande a garota coreana voltar para a Coreia. Se ela quiser, posso ir junto para fazer companhia. — Agora eu ri.

— Ela não mora na Coreia e não posso fazer isso. Ele está feliz...

— Feliz? Ele quer é ficar bem com o vovô e a vovó, isso sim! Prima, abra o coração para o Hyuk, fighting! — Ela disse na maior animação. Já ouvi essa expressão em dramas coreanos e Raquel me explicou que você diz isso quando quer desejar boa sorte para alguém ou um  encorajamento, como se dissesse: "você vai conseguir". Conversamos por mais alguns minutos, mas sobre outros assuntos e depois nos despedimos. Recebi uma mensagem com vários corações assim que desligamos. Era Raquel. Depois dos corações ela escreveu "fighting". Respondi com um emoji sorrindo e por ironia as minhas lágrimas começaram a cair. 

Senti uma necessidade enorme de fazer uma oração. Quero estar sempre no controle, detesto me sentir perdida. Quem não detesta, né? Preciso entregar essa situação nos braços de quem me conhece melhor do que eu mesma. É disso que eu preciso.

"Pai, não estou entendendo o que está acontecendo comigo. Meus sentimentos pelo meu amigo mudaram e estou com medo. Justo agora? Agora que ele está comprometido! O que  faço? Não quero ser egoísta. Pode ser que Hyuk só esteja aceitando essa situação por causa dos avós, mas ele também pode se apaixonar pela Sandara. Não quero atrapalhar. O que mais desejo é que ele seja feliz, mesmo que seja longe de mim. Pai, me conceda sabedoria nesse momento tão complicado. O meu novo sentimento está me impedindo de pensar com clareza, mas de uma coisa tenho certeza: desejo a felicidade de Hyuk. Sei que preciso descansar em ti, Pai.  Entrego essa situação em suas mãos e a partir de agora sentirei paz através de Jesus, seu filho. Paz em meio à tempestade. Sim. Sei que isso é possível! Amém."

Derramei muitas lágrimas. Após me recompor, comecei a cantar um louvor que amo muito: 

"Aquieta minh'alma, faz meu coração ouvir Tua voz, me chama pra perto, só assim eu não me sinto só..." 





Anne e HyukOnde histórias criam vida. Descubra agora